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sexta-feira, 13 de maio de 2022

A ÚLTIMA CASA


Nota 7 Refilmagem continua com tema atual explorando a violência combatida na mesma moeda


Não tem jeito. Filme de terror bom tem que ser antigo. Muita gente fala isso e de certa forma temos que concordar. Produções do gênero realizadas até meados da década de 1980 se beneficiaram do ineditismo ou do auge da liberdade dos jovens ávidos por algum contato com o que até então lhes era proibido, por isso o horror e o erotismo constantemente eram associados. No entanto, depois de ver a violência explícita e descabida de Jogos Mortais, por exemplo, o que mais poderia parecer tão assustador? Resposta: adaptar os sádicos e elaborados jogos para ambientações e situações mais próximas da realidade. A Última Casa é um thriller perturbador que retrata um pouco da realidade escabrosa que vivemos, embora seja uma refilmagem de Aniversário Macabro dirigido e escrito por Wes Craven, que anos mais tarde viria a ganhar a alcunha de mestre do terror. A fita não foi um sucesso na época, mas ao longo dos anos passou a ser cultuada e seu próprio realizador aceitou assinar o remake como produtor confiando na atemporalidade da trama que nos apresenta à família Collingwood que viaja para uma afastada casa de campo para tentar esquecer uma tragédia. 

Mari (Sara Paxton) logo que chega ao local, onde viveu bons momentos no passado, decide rever uma antiga amiga, Paige (Martha MacIsaac), que a convida para passar a noite em sua casa. Os pais da jovem, John (Tony Goldwyn) e Emma (Monica Potter), a deixam sair com o carro, mas ficam extremamente preocupados. Até parece que estavam adivinhando o que iria acontecer. As garotas conhecem por acaso Justin (Spencer Treat Clark), um adolescente esquisitão, mas que consegue convencê-las a irem a seu quarto de motel de beira de estrada para fumarem maconha (!). Realmente os primeiros minutos não são nada animadores, mas as coisas logo se tornam interessantes a partir do momento em que a banda podre entra na história. O pai do rapaz, Krug (Garret Dillahunt), aparece de surpresa após fugir da cadeia na companhia do irmão Francis (Aaron Paul) e da namorada Sadie (Riki Lindhome) e não fazem questão alguma de esconder que são barra pesada. As meninas se assustam e eles decidem leva-las para longe com receio de serem denunciados, mas poucos metros caminham até que elas conseguem fazê-los perder o controle do carro, entrar na floresta e baterem numa árvore.
 

Após muita correria e violência (física e verbal assustadoramente reais), a gangue acredita que deu um fim nas adolescentes e partem em busca de ajuda para socorrerem Francis que teve o nariz quebrado e foram bater na porta justamente dos Collingwood que os recebe em espírito de solidariedade.  Não demora muito para Justin descobrir que está na casa da família da garota que seu pai acabara de estuprar e assassinar e precisa se esforçar para não dar com a língua nos dentes, mas deixa uma pista para os pais dela descobrirem que algo aconteceu. Acomodados na casa de hóspedes, a quadrilha mal sabe que nesta mesma noite o feitiço irá virar contra o feiticeiro e passarão a ser atormentados pelo bondoso casal que movido pelo desejo de vingança será capaz das maiores atrocidades. O diretor Dennis Iliadis demonstra competência e consegue criar uma atmosfera perturbadora articulando um elenco enxuto praticamente enclausurado em um cenário clichê. Quantos filmes de psicopatas você já não viu envolvendo casas perdidas no meio do nada e homicídios na calada de noites chuvosas? Todavia, este não é um típico filme de slashers (os populares assassinos mascarados) e toda a ação infelizmente acaba retratando uma triste e chocante realidade, ou seja, tudo gira em torno da violência que gera mais violência. 

É curioso que a certa altura até ocorre uma inversão de papéis e turma do bem vira a casaca, mas não conseguimos enxerga-los como vilões, afinal passam a agir em legítima defesa e na hora do desespero decidem dar o troco na mesma moeda. Os roteiristas Adam Alleca e Carl Ellsworth conseguiram captar o espírito da obra original, diga-se de passagem, ainda hoje vetada em alguns países por conta do alto teor de sadismo, e aproveitaram para extravasar seus demônios. Tiros, pancadaria e mutilações desfilam pela tela em momentos oportunos e acostumam o espectador a praticamente sentir as dores dos personagens com direito a duas impactantes cenas de morte. Não é errado dizer que A Última Casa possui certas semelhanças com Violência Gratuita do cultuado cineasta Michael Haneke, obviamente guardadas as devidas proporções. Pode até ser que Iliadis consiga despertar algum tipo de reflexão no público a respeito da violência, mas o que fica mais vivo na memória é sua intenção de chocar. 


Nos espanta ver como as pessoas más agem sem um pingo de remorso assim como também chama a atenção a forma selvagem com a qual podemos reagir quando nos sentimos acuados ou injustiçados. Com clima de tensão crescente, trama bem amarrada e atuações competentes, com exceção do jovem Clark que não explora o potencial de seu personagem que surge rebelde, porém, logo sucumbe a mescla de repúdio e pavor que sente do pai e sua gangue, esta produção é razoavelmente acima da média para o gênero. Embora tenha arrecadado cifras consideráveis nos cinemas estrangeiros, o longa foi lançado no Brasil diretamente para consumo doméstico e não teve a visibilidade que merecia. Só por levar adiante o legado do mestre Craven a fita já merecia um pouco mais de reconhecimento. Por prender a atenção e contar uma história crível e bem amarrada, a atenção de público e crítica deveria ser redobrada.

Terror - 100 min - 2009 
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