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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

O BABÁ(CA)


Nota 1 Longa recicla tema da babá desajeitada cuidando de pestinhas, mas resultado é pífio


Quando uma comédia tenta unir temática adulta e piadas protagonizadas por crianças já temos a ideia de que algo de ruim estar por vir. Um universo não é compatível com o outro e tal mistura pode no máximo render alguns sorrisos amarelos e muita decepção. O Babá(ca) confirma o problema tentando reciclar o clichê da pessoa atrapalhada que se mete a cuidar de um bando de fedelhos, diga-se de passagem, tão irresponsável quanto eles. A trama tem como protagonista Noah (Jonah Hill), um gordinho que se acha o melhor dos amantes, além de ser um folgadão que só pensa em diversão. Certo dia ele é convocado de última hora para cuidar dos três filhos de um casal de vizinhos e a grana alta e fácil o seduzem rapidinho, afinal o que poderia acontecer de mal em algumas poucas horas? Absolutamente tudo! Logo de cara ele não consegue se entender com as crianças e deixa claro que está na casa delas apenas por interesses financeiros e de quebra comer e beber de graça enquanto assiste TV de pernas para o ar. Todavia, seus planos mudam completamente quando recebe uma ligação de Marisa (Ari Graynor), uma garota que ele está paquerando e que lhe promete loucuras sexuais caso ele consiga para ela drogas com o violento traficante Karl (Sam Rockwell). 

Como só pensa naquilo, Noah não pestaneja e decide pegar emprestado o carro dos patrões e leva as crianças à tiracolo em uma verdadeira aventura na qual ele próprio se mete em muitas confusões, mas a galerinha não fica atrás. A começar pelo desastre que é no volante, Noah vai viver a noite mais alucinante de sua vida até então, com direito a bombas em banheiro, acusação de pedofilia e sequestro e porte de entorpecentes. A essência da trama é um tanto batida, mas com esforço e criatividade seria possível driblar os clichês. Os roteiristas Brian Gatewood e Alessandro Tanaka felizmente escreveram um roteiro enxuto, mas em contrapartida tentaram escamotear a previsibilidade recorrendo a piadas vulgares, a maioria envolvendo sexo e escatologia. Aliás, onde estava o juízo dos pais das crianças que participam do filme? Cegos por alguns trocados fáceis e provavelmente projetando nos filhos seus sonhos frustrados eles não devem ter lido sequer a sinopse. Chega a ser constrangedor ver menores de idade literalmente acobertando as peripécias sexuais de um marmanjo bobalhão e conversando a respeito de drogas sem pudor algum. Antigamente, quando eram necessárias crianças em produções com temáticas adultas havia certo cuidado em filmar separadamente as suas cenas para evitar polêmicas e problemas aos atores mirins e a obra completa, incluindo as sequências mais fortes, ficava a critérios de seus pais permitirem ou não que seus filhos assistissem. Dessa forma, ao menos das experiências nos sets de filmagens elas não guardariam lembranças duvidosas que poderiam desvirtuá-las no futuro. Tudo bem, nem sempre essa regra é válida caso contrário não teríamos clássicos como O Exorcista e A Profecia.


Neste filme do diretor David Gordon Green, cujo trabalho mais conhecido é a comédia Segurando as Pontas (por aí você já tem ideia de seu potencial para criar bombas), boa parte das piadas protagonizadas ou presenciadas pelos jovens atores é desnecessária e mesmo que houvesse o cuidado de não ceder a eles texto com piadas sexuais explícitas, qual deles não teria curiosidade em ver como o filme ficou depois de editado? Os pais que se arriscam a assistir esta fita junto com os filhos devem ficar atentos que logo na introdução o constrangimento será inevitável e possivelmente algumas perguntas cabeludas irão surgir. Papai o que é sexo oral? Mamãe o gordinho está mordendo as pernas da moça e ela geme porque está doendo? Prepare-se para questões do tipo. Green tentou modernizar a relação babá versus menores pestinhas, mas não soube equilibrar seu trabalho de forma a agradar o público infantil e ao mesmo tempo chamar a atenção dos adultos. Ele até tenta dar algum sentido para a existência desta produção abordando o conflito de Slater (Max Records), um garoto com tendências homossexuais, mas coloca justamente seu depravado protagonista para dar lições de vida e dizer hipocritamente que cada um deve ser feliz como desejar e ninguém tem nada a ver com isso. Será que o gordinho mulherengo aceitaria numa boa a cantada de um homem? De qualquer forma, a inserção do tema é um lampejo de serenidade em meio ao caos. O que Slater tem de sério seus irmãos menores tem de peraltas. Blithe (Landry Bender) é uma irritante garotinha metida a periguete e que almeja a fama enquanto Rodrigo (Kevin Hernandez) é um moleque ligado no 220 volts que sofre com incontinência urinária ou usa tal desculpa para detonar explosivos em sanitário.

É claro que as crianças, diga-se de passagem, um tanto estereotipadas, vão colocar o babá em maus lençóis, inclusive encrencá-lo com a polícia, mas sabemos que o happy end está garantido. As caras e bocas de Noah entregam antecipadamente tudo que está para acontecer. Aliás, o personagem não tem nenhum atrativo que lhe traga algum diferencial, exceto não ser um cara atraente, mas que se acha o último biscoito do pacote. Fora isso, é o típico bobão de sessões da tarde, porém, protagonizando um longa que de censura livre não tem nada. Certamente esta produção mais parece uma mancha no currículo de Hill que no mesmo ano deste lançamento foi indicado ao Oscar de ator coadjuvante pelo drama esportivo O Homem que Mudou o Jogo, mas vamos pegar leve com o rapaz. Conhecido por papéis de jovens que só pensam em curtir a vida com todos os podres possíveis em filmes cujos enredos parecem cópias uns dos outros, esta seria a primeira vez que atuaria em um projeto levemente diferenciado e com seu nome na dianteira dos créditos, inclusive como produtor, todavia, também seria provavelmente sua última produção de gosto duvidoso. 


O Babá(ca), embora tenha feito sucesso entre o público ianque ávido por lixo cinematográfico, só deve ter chegado a alguns países como o Brasil após a passagem de Hill pelas premiações, badalação que em nada alterou a avaliação desta comédia execrada por praticamente todos que a assistem. Depois de uma segunda indicação ao Oscar, também como coadjuvante por O Lobo de Wall Street, e a relativa qualidade da mescla de humor e ação de Anjos da Lei, ao que tudo indica o rapaz tem talento, só é preciso saber escolher melhor seus trabalhos. Levando menos a sério o roteiro, quem se sai melhor é Rockwell no papel de vilão. Percebendo a tempo a fria em que se meteu, simplesmente deixou as coisas rolarem e embarcou na loucura de seu personagem e do ambiente que o cerca, extravasando todos os seus demônios e colaborando para deixar o filme ainda mais esquisito. Improvisos ou obras de um roteiro mal feito? Provavelmente as duas coisas. No final das contas, ao menos existe um coisa para se elogiar: o título nacional. Poucas vezes a escolha tupiniquim foi tão certeira.

Comédia - 85 min - 2011

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