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sexta-feira, 19 de março de 2021

JOGO DE AMOR EM LAS VEGAS


Nota 7 Mesmo previsível, comédia cativa com protagonistas nada perfeitos e ritmo ágil

Cameron Diaz e Ashton Kutcher buscam variar os gêneros de filmes em que trabalham, mas parece que a comédia romântica é definitivamente a praia deles, assim é estranho que tenha demorado tanto tempo para o encontro dos astros. Jogo de Amor em Las Vegas a primeira vista pode ser resumido como um passatempo bacana cujo final obviamente já conhecemos de antemão, mas o que importa é o recheio muito bem preparado pela roteirista Dana Fox, o que eleva o nível da obra. Há muito tempo não surgia um produto do gênero que realmente provocasse boas gargalhadas e ainda sem perder o romantismo. O grande trunfo é apostar em protagonistas sem escrúpulos, mas ainda assim cativantes. Las Vegas é conhecida como a Cidade do Pecado, local onde há inúmeros cassinos, bares e boates estrategicamente projetados para fazer os frequentadores perderem a noção do tempo e gastarem muita grana, o que não raramente causa algumas dores de cabeça quando estão em sã consciência, daí o popular ditado "o que acontece em Vegas fica em Vegas". É como uma lembrança proibida, porém, o que poderia gerar má fama acaba virando atrativo para turistas em busca de diversão sem limites.

Jack Fuller (Kutcher) e Joy McNally (Diaz) estavam a fim de afogar suas mágoas. Ele é o típico jovem desencanado que procura levar a vida de maneira mansa e acabou de perder o emprego (mesmo trabalhando com o pai) enquanto ela é uma responsável corretora da bolsa de valores que foi abandonada pelo noivo repentinamente. Ambos moram em Nova York e jamais se cruzaram, mas quis o destino que eles fossem se encontrar no antro do pecado. A dupla não tem absolutamente nada a ver, mas acabam forçosamente unidos. Após uma noitada daquelas a ressaca é violenta: eles descobrem que estão casados. Mal acordam da suposta noite de núpcias e já estão batendo boca, uma discussão que termina em um caça-níquel. Ou melhor, a briga mesmo começa é com a jogatina. A anulação da união poderia ser perfeitamente requerida isso se o rapaz não tivesse ganhado uma bolada de milhões de dólares, porém, usando uma moeda que era dela. Dispostos a pedirem o divórcio e avdividir o prêmio conforme o acordo matrimonial de partilha de bens, contudo, um juiz cansado de separar casais (ou tentando extravasar sua raiva por ter que continuar casado para manter de pé seu discurso em defesa do amor e das famílias) os obriga a viverem juntos por seis meses e assim repensarem a decisão, mas quem desistisse antes do tempo perderia totalmente o direito ao dinheiro do jogo.

Sem sentimentos positivos um pelo outro, começa então uma verdadeira guerra dos sexos. Se em público tentavam se comportar de forma romântica, mas nunca perdendo a chance de se cutucarem, na intimidade Jack faz de tudo para enlouquecer Joy e vice-versa, tudo pela ganância de apenas um ter direito a grana. Contudo, a convivência vai acabar mostrando que eles poderiam sim viver como marido e mulher, mas cegos pela ganância o casal só irá perceber a química graças aos toques de amigos e familiares que observam a situação do lado de fora. Joy tem como melhor amiga Tipper (Lake Bell) e Hater (Rob Corddry) é o grande parceiro de Jack e a dupla protagoniza uma trama paralela também calcada em conflitos aparentemente sem motivos. Felizmente os coadjuvantes não são usados apenas para encher linguiça, porém, não chegam a ofuscar o brilho dos protagonistas afinal o longa parece ter sido feito com o único intuito de promover a união de dois grandes ícones da comédia romântica, mesmo Diaz sendo um pouco mais velha e com um currículo melhor elaborado que Kutcher. Todavia, o timing cômico e a simpatia da dupla faz passar batido esses detalhes.

A loira mais uma vez demonstra alegria e satisfação em trabalhar em um projeto que é sua cara enquanto seu companheiro tem outra oportunidade de mostrar que a genética lhe foi generosa e por mais que os anos passem ele ainda está perfeito para viver garotões com síndrome de Peter Pan. É incrível como os dois atores têm facilidade para alternar momentos de humor e alguns mais sisudos sem descaracterizarem seus personagens. A premissa não tem nada de original, mas o diretor Tom Vaughan, mais experiente com séries de TV, para não errar nas telonas acabou optando por uma receita trivial repleta de clichês, mas ao menos poupou o espectador de erotismo gratuito e usou a escatologia moderadamente e de forma eficiente como nas piadas em que Joy ensina o marido a usar o vaso sanitário corretamente ou no momento em que degustam pipocas com um temperinho especial. Outro acerto é a maneira como age o casal principal visando abordar o eterno e conflituoso jogo de valores e diferenças de comportamento entre homens e mulheres, assim a trama flui com naturalidade e pelo menos em algum momento o espectador poderá se identificar com as situações expostas.

Apesar dos clichês que culminam na inerente paixão que surge entre o casal, Vaughan merece elogios por não criar “barrigas” na trama. Em nenhum momento sentimos que a história está patinando. Há sempre alguma situação curiosa sendo desenvolvida e que instiga o espectador a acompanhar atento qual será a próxima loucura da dupla. Jogo de Amor em Las Vegas conquista mesmo por apostar em personagens reais. Não há aquela bobagem de sonhar com príncipe encantado ou casamento perfeito e tampouco é forçada a barra para apresentá-los como pessoas desajustadas. Simplesmente é um homem e uma mulher que dão consecutivos maus passos em busca da felicidade que no caso inicialmente é traduzida em uma soma de alguns milhões de dólares, mas por fim descobrem que o amor e companheirismo são as grandes riquezas que podem conquistar. 


Comédia romântica - 98 min - 2008 

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