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sábado, 27 de fevereiro de 2021

O SEGREDO DE KOVAK


Nota 4 Divagando a respeito do controle de humanos, longa deixa muitas perguntas no ar


Várias produções já especularam sobre a possibilidade de um futuro controlado, como aquele apresentado em O Preço do Amanhã no qual o governo poderia acompanhar a vida de um ser humano através de seus gastos de tempo de vida, então a moeda de troca em vigência. Hoje já existe a técnica de implantar chips eletrônicos em animais, principalmente os que correm risco de extinção, mas para fins científicos e de preservação da espécie, porém, já há quem especule que chegará o dia em que os seres humanos ao nascer já terão algum tipo de dispositivo implantado em seu corpo. Bem, o cinema e a literatura estão aí para propor a discussão da temática e mostrar a loucura que seria caso a tecnologia para experiências do tipo caíssem em mãos erradas. O Segredo de Kovak é um desconhecido suspense que aborda tal tema através da história de David Norton (Timothy Hutton), um escritor que está acostumado a brincar de Deus decidindo o futuro de seus personagens. Certa vez ele é convidado para participar de uma conferência em uma paradisíaca ilha do Mediterrâneo, mas o que era para ser um sonho acaba se tornando um pesadelo quando sua noiva Jane (Georgia Mackenzie) tenta o suicídio após atender um telefonema. 

No mesmo momento do incidente, o escritor assistia a um DVD que lhe deixaram na portaria do hotel, um vídeo curto com a imagem de um macaco preso em uma caixa de vidro e demonstrando comportamento arredio. Jane acaba falecendo após alguns dias e Norton decide voltar para casa, mas no aeroporto é interceptado pela jovem Sylvia (Lucía Jiménez) que estava internada no mesmo hospital e sobreviveu a uma tentativa misteriosa de suicídio. Ela também atendeu um telefonema pouco antes de se jogar da sacada de um hotel, mas apenas ouviu uma música melancólica, "Gloomy Sunday" (domingo lúgubre), que também é o título do primeiro livro publicado por Norton no final da década de 1970 e que por coincidência um fã idoso o procurou a pouco tempo para relembrar que ele adquiriu uma das primeiras edições e a guarda até hoje. Este mesmo homem atrai o escritor para um encontro onde revela que pode lhe oferecer uma grande história para um novo livro, uma trama totalmente baseada em fatos reais que dependendo do ponto de vista poderia trazer a paz ao mundo.


Intrigado, Norton começa a investigar sobre esse fã e chega ao nome de Frank Kovak (David Kelly), um festejado cientista no passado com a chamada Caixa Kovak, um labirinto com o qual estudava o comportamento de ratos condicionado por uma série de estímulos. Contudo, ao tentar realizar o experimento com um bebê humano acabou sendo denunciado pela imprensa e a comunidade científica lhe deu as costas, mas a CIA o acolheu para continuar com suas atividades até o momento em que as cobaias começaram a sofrer complicações ou até mesmo a morrer e suas famílias passaram a processar o governo americano. Kovak continuou realizando suas experiências para os governos de outros países e cada passo seu remete ao conteúdo escrito no livro de estreia de Norton. Na trama fictícia, todos ao nascerem teriam implantado um dispositivo controlado pelo Estado que quando ativado levaria as pessoas a se suicidarem, assim os poderosos poderiam se livrar de quem fosse contra o sistema sem ter seus nomes envolvidos. 

Kovak conta com a ajuda de Jaume (Gary Piquer), um médico legista de caráter duvidoso, para implantar o tal dispositivo nas vítimas e acobertar a real causa das mortes nas certidões de óbitos. Foi dessa forma que o cientista também planejou o suicídio de Jane com o propósito de conseguir atrair Norton e forçá-lo a escrever um novo livro sobre os novos e reais rumos deste experimento que no passado era mera ficção científica. Com direção de Daniel Monzón, que também assina o roteiro em parceria com Jorge Guerricaechevaría, O Segredo de Kovak é intrigante boa parte do tempo, mas perde o rumo na meia hora final. Embora esteja prestes a falecer devido a um tumor no cérebro, não ficam claras as intenções de Kovak. Gostaria de ter seu nome imortalizado na literatura? Ser visto como um herói que conseguiu uma maneira de tirar os desordeiros do mundo sem manchar reputações? E porque Sylvia foi uma das que receberam o dispositivo? Por que Norton não denunciou o cientista mesmo tempo provas documentais em mãos? 


Até existe um momento dedicado a um papo sério entre Norton e Kovak, mas o diálogo é bastante intricado e acaba por confundir mais do que explicar. O excesso de perguntas que carecem de respostas quando recapitulamos toda a trama justifica o seu lançamento diretamente para consumo doméstico não só no Brasil, mas em praticamente todos os países que aportou, e o porquê deste ser um título obscuro que canais fechados e serviços de streaming não dão atenção. A premissa é das mais interessantes. Poderíamos até dizer que o longa foi lançado na hora errada, sendo a ideia da tal Caixa Kovak o sonhos de muitos governantes que viriam a assumir lideranças alguns anos mais tarde, principalmente daqueles que detestam ser contrariados. O problema é que o roteiro se perde em suas pretensões fazendo o espectador chegar ao clímax fatigado. Além disso, o longa confirma a má condução de Hutton quanto aos rumos de sua carreira. O que houve com o jovem promissor que ganhou o Oscar de coadjuvante por Gente Como a Gente no longínquo ano de 1981?

Suspense - 108 min - 2006 

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