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sábado, 14 de agosto de 2021

FOOTLOOSE


Nota 6 Remake carece de mais música e vibração, além de adequação à época de sua realização


Sempre que surgem boatos sobre uma refilmagem automaticamente também vem à tona especulações a respeito de preocupações quanto a manutenção do espírito da obra original. Um diretor tem que estar muito seguro ao assumir um projeto do tipo, tanto para ousar em adaptar a narrativa para os tempos atuais quanto para manter a ação em suas épocas originais. Em ambos os casos a rejeição é um risco inerente e o diretor Craig Brewer, de Ritmo de Um Sonho, provavelmente estava ciente do vespeiro em que se meteria ao assumir o remake de Footloose (sem o antigo subtítulo “Ritmo Louco”), um dos filmes-ícones dos anos 1980 e xodó de muito marmanjo. Após recusar duas vezes dirigir o projeto, ele acabou cedendo às pressões, porém, como mais um ferrenho fã do longa, ele queria praticamente refazer a obra de cabo a rabo apenas com alguns reparos que julgava necessários para tornar a trama mais redondinha, porém, acabou realizando um trabalho que mistura o passado e o presente. Se era para fazer uma homenagem ao original a tentativa não foi bem executada, inclusive pela considerável redução no número de canções executadas. A trama escrita por Brewer em parceria com Dean Pitchford, também autor do roteiro do primeiro filme, se passa em Bolmonte, uma pequena e pacata cidade no sul dos EUA que ficou abalada após um trágico acidente de carro envolvendo adolescentes no qual não houve sobreviventes. 

Como os jovens voltavam de uma festa, os dirigentes da cidade tomaram atitudes radicais. Além do toque de recolher a noite, proibiram menores de idade de frequentar locais onde pudesse haver consumo de drogas e álcool, atividades lascivas e até mesmo de ouvirem e dançarem ao som de música alta e vibrante, mas aos poucos praticamente todos na cidade passaram a acatar tais decisões. Durante três anos a situação se manteve sob controle, isso até a chegada de Ren McCormick (Kenny Wormald), um adolescente que após vivenciar a dor de ver a mãe morrendo aos poucos por conta de uma severa leucemia agora quer dar novos rumos para sua vida.  Acolhido pelos tios, Lulu (Kim Dickens) e Wesley Warnicker (Ray McKinnon), o jovem da cidade grande estranha a rotina de um lugar que parece parado no tempo, mas não demora muito e já está espichando o olho para Ariel (Julianne Hough), a jovem e rebelde filha de Shawn Moore (Dennis Quaid), o respeitado reverendo da cidade. Embora devesse servir de exemplo aos demais, até porque um dos jovens mortos no tal acidente era seu irmão, a garota adora infringir as regras e vai encontrar um parceiro a altura e também disposto a brigar pelo direito de todos se divertirem com liberdade. O único senão é que a moça namora o valentão Chuck Cranston (Patrick John Flueger), que logo passa a testar a coragem de Ren em desafios típicos de lugares onde não há nada para se fazer. 


Para conseguir sobreviver às provações que Bolmonte lhe impõe, sendo que logo que consegue um velho carro já arranja problemas com a polícia por conta do som alto, Ren vai contar com a ajuda do espirituoso Willard (Miles Teller) que também não vê a hora das baladinhas voltarem a ser liberadas. Completando o quadro de personagens temos também Rusty (Ziah Colon), a amiga de todas as horas de Ariel; Vi (Andie MacDowell), a bondosa esposa do reverendo; Andy Beamis (L. Warren Young), o dono da fábrica de algodão que dará emprego ao protagonista; e, por fim, Roger Dunbar (Brett Rice), o diretor do colégio que também fica no pé dos estudantes para mantê-los na linha. Apesar do invólucro de musical, reforçado pelas cenas em que o jovem elenco começa a dançar seja em um galpão ou na rua, mas ao menos não transformando diálogos em cantoria como nos clássicos do gênero, este filme se enquadra melhor em um drama romântico. Além de uma história de amor marcada por conflitos típicos da adolescência, como a rebeldia e a autoafirmação, o longa aborda a repressão de direitos e as diversas maneiras como as pessoas podem lidar com a dor da perda. Fica claro que o meio em que vivemos influencia em muito nosso comportamento. Por ter crescido em um ambiente com mais possibilidades e acesso à informação, Ren conseguiu lidar de forma razoável a respeito com a morte da mãe, estava ciente que fez tudo o que podia para ajudá-la e que agora sua vida tinha que seguir. Já o acidente que marcou Bolmonte não foi bem digerido por seus habitantes, em geral conservadores, mas isso não poderia impedir que suas novas gerações evoluíssem. O erro de alguns deveria servir de exemplo para precaução, não para a censura, até porque o proibido parece sempre atrair mais atenção do que está dentro das normas.

Música, dança, romance, drama leve e gente jovem e bonita, esta produção teoricamente tinha todos os ingredientes para ser um grande sucesso, seguindo um pouco a linha de No Balanço do Amor ou Ela Dança, Eu Danço. O próprio Wormald teve como primeira experiência profissional a participação em Sob a Luz da Fama – O Poder da Paixão, mais um musical teen tentando repetir o sucesso que produtos do tipo faziam antigamente. Footloose ainda contava com a publicidade de ser a refilmagem de um filme querido por muitos adultos que hoje devem fazer questão que seus filhos e netos assistam ao menos uma vez para captarem um pouco do que vivenciaram na juventude. Contudo, o mundo mudou. Perdemos a inocência que ainda prevalecia em 1984 e a rebeldia dos jovens hoje em dia não se justifica mais tanto pela necessidade de serem ouvidos, mas sim pela sensação de estarem inseridos em um grupo onde uma minoria reivindica direitos e a maioria se preocupa em tirar fotos na multidão para colocarem em redes sociais. O cinema também era outro, estava aprendendo a lucrar, a aproveitar novas possibilidades e a fabricar astros. Na época o período áureo dos musicais já havia passado, mas tentando pegar carona no estilo de Os Embalos de Sábado a Noite o diretor Herbert Ross apostou suas fichas em uma trama água-com-açúcar embalada por músicas vibrantes que rapidamente caiu no gosto popular e de quebra lançou um rebolativo Kevin Bacon que apesar dos esforços tornou-se apenas mais um ator que tenta sobreviver na selvagem Hollywood, mas ainda assim teve mais sorte que sua parceira Lori Singer que caiu no ostracismo. 


Wormald e Julianne, ao que tudo indica, também não vingaram no ramo e não é tanto culpa do casal, mas do próprio filme que nem de longe chegou a ter um mínimo da repercussão do original. Embora tenha começado bem o remake explorando a história do acidente que desencadeia o grande conflito da trama, algo apenas citado na primeira versão, Brewer fica com um pé no passado e outro no presente, o que acarreta um aspecto estranho ao conjunto. Ao mesmo tempo em que é citado que as pessoas estão fazendo uso de celulares e internet, os carros que ocupam as ruas de Bolmonte são de 1900 e bolinhas, assim como os figurinos que parecem transpirar cheiro de naftalina. O famoso hit homônimo ao filme foi adaptado para uma versão em estilo country bacana e ainda com resquícios da matriz, porém, que ganha pouco tempo de tela. Em contrapartida, temos que aguentar uma longa e quase constrangedora sequência em que os adolescentes se exibem e se esfregam ao som de hip hop. Muita coisa poderia ser mais bem lapidada nesta refilmagem, mas o saldo final é razoavelmente positivo, ainda mais considerando que a proposta é fisgar o público jovem que tem aqui uma opção levemente acima da média.

Musical - 113 min - 2011 

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