Nota 3 Ousando revelar um segredo rapidamente, longa não tem truques para prender atenção
Depois da Segunda Guerra Mundial, talvez o longo período da Guerra Fria tenha sido um dos mais prolíficos para inspiração ao cinema. Tendo seu auge em 1962 com a chamada Crise dos Mísseis Cubanos e oficialmente encerrado em 1991 com a dissolução da União Soviética, sobre o conflito temos acesso ao básico nos livros escolares, mas os filmes ajudam a compreender alguns pormenores da situação, contudo, o suspense Codinome Cassius 7 não deve entrar nesta seleta lista de títulos e apenas ser lembrado como mais uma tentativa frustrada de mostrar que Richard Gere pode fugir do estereótipo de galã romântico. O astro dá via a Paul Shepherdson, um ex-agente da CIA que é chamado às pressas para colaborar nas investigações do assassinato de um político americano. As circunstâncias de sua morte remetem a antigos casos, assim é levantada a hipótese de que um famoso criminoso russo apelidado de Cassius 7 voltou à ativa, provavelmente para aniquilar alvos remanescentes.
O policial aposentado passou anos de sua carreira estudando o método de agir do suspeito, mas garante que ele mesmo o matou em 1989. Sem ninguém saber sua real identidade, a morte do matador é encarada como um golpe para ele sair de cena, mas agora que há uma segunda chance para capturá-lo não pode haver falhas. Shepherdson é obrigado desta vez a trabalhar em parceria com Ben Geary (Topher Grace), um jovem oficial do FBI obcecado pela trajetória de Cassius 7, tanto que o transformou em objeto de estudo para seu mestrado. Obviamente, a dupla se estranha já que trabalham com objetivos diferentes. O ex-agente quer provar que o assassinato do político foi cometido por outro criminoso, mas seu parceiro se fixa nas suspeitas iniciais. A premissa é um tanto batida, mas o diretor Michael Brandt procurou ousar e revelar a identidade do assassino prematuramente, mesmo tendo cerca de uma hora de projeção a rechear.
Cassius 7 é o próprio Shepherdson e fazer esta revelação não estraga o envolvimento do espectador com o filme. Quer dizer, não deveria comprometer, mas é preciso ter muito talento e truques na manga para prender a atenção quando a grande surpresa do enredo é entregue logo de bandeja. Brandt, que também assina o roteiro em parceria com Derek Hass, quis ser mais inteligente do que poderia e estragou o que renderia um passatempo no mínimo razoável. Com a revelação prematura da identidade do assassino, restaria ao público acreditar que o longa seria um daqueles filmes que prendem a atenção com o jogo de manipulação proposto pelo vilão. Sabemos a verdade e nos agoniamos com o drama de Geary que sem perceber procura desesperadamente por alguém que está constantemente ao seu lado. As coisas deveriam ser assim, mas Grace não empresta emoções ao seu personagem. Feliz, triste ou com raiva, parece sempre ter o mesmo semblante apático estampado no rosto.
Já Gere até que convence como um assassino frio, mas o roteiro não o ajuda. Algumas cenas ou diálogos são inseridos para mostrar o passado de Cassius 7, explicações sobre o que o levou a se disfarçar de agente da CIA e a respeito de seus métodos de trabalho, mas depois que descobrimos sua identidade minuto a minuto as expectativas tendem a cair de modo que alguns detalhes podem passar facilmente despercebidos ou sequer são citados. Por que ninguém jamais viu o corpo do suposto Cassius quando sua morte foi declarada? Qual a razão do jejum de mais de uma década para voltar a matar? As coisas ficam ainda mais desinteressantes depois que Geary pede ajuda a um amigo de trabalho para montar um painel com a cronologia de assassinatos atribuídos à Cassius e os possíveis pontos em comum. Um complicado diálogo é travado entre eles para explicar o óbvio.
Com Shepherdson a todo instante querendo afastar o jovem agente das investigações e sua imagem presente em todas as fotografias feitas nos locais das mortes, por que as dúvidas quanto a identidade do criminoso? A resposta pode estar em mais uma mal estruturada reviravolta que surge nos minutos finais, a definitiva pá de cal necessária para enterrar o que já estava ruim. Confuso, tedioso e cheio de pontas soltas, Codinome Cassius 7 prova que Gere, assim como outros colegas de idade e fama semelhantes, está com muito azar ou confundindo prestígio a sinônimo de sucesso. Seu nome há tempos deixou de ser uma garantia de qualidade e suas escolhas soam equivocadas e mais como tentativas de renegar uma aposentadoria forçada pela indústria.
Suspense - 94 min - 2011
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