Nota 6,0 Dedicado a mostrar o surgimento da religião mórmon, longa perde foco de trama fictícia
Religião é uma benção, mas também
pode ser um martírio. Muitos acontecimentos tristes da História mundial
aconteceram por causa de conflitos entre crenças e o filme Tempo de Glória usa essa
inspiração para narrar os dramas vividos por um pequeno vilarejo no início do
século 19. A família Steed está de mudança para Nova York em busca de melhores
oportunidades na área de agricultura. Eles são bem recebidos na nova cidade,
mas a mesma situação não é vivida por Joseph Smith (Jonathan Scarfe) um jovem
que é mal visto por todos os moradores por dizer que certa vez teve a visão de
Deus e de Jesus Cristo e que um anjo o avisou sobre um tesouro escondido,
barras de ouro nas quais estavam escritas mensagens do evangelho, porém, ele só
poderia ir resgatá-las em uma determinada data para então traduzi-las e as
distribuir para tentar salvar a humanidade. No entanto, a fama de que tem uma
missão divina a cumprir acaba causando reações negativas nas pessoas que chegam
a dizer que toda a família de Joseph é adoradora do Diabo. Antes de saber
destas histórias, Benjamin Steed (Sam Hennings) já havia contratado para ajudar
em sua fazenda alguns homens do clã dos Smith. No início as descobertas nada
afetam a opinião do fazendeiro, mas aos poucos os pensamentos de Joseph e os
boatos que o cercam passam a tirá-lo do sério, principalmente quando vê seus
filhos mais velhos envolvidos em intrigas religiosas. Joshua (Eric Johnson) faz
amizade e futuramente se alia a um valentão da cidade, Will Murdoch (John
Woodhouse), que zomba das histórias do jovem missionário, no entanto, não
descarta a possibilidade de que ele realmente possa saber onde exista ouro
escondido. Já Nathan (Alexander Carrol) acredita em Joseph e o defende, mas seu
envolvimento com a fé do rapaz acaba levando-o a se desentender com outros
habitantes e até mesmo com sua família, mais especificamente com seu pai que
observa abismado que até Mary Ann (Brenda Strong), sua esposa, está inclinada a
seguir os ensinamentos do Livro dos Mórmons, a religião que o missionário
decide fundar quando abandona Nova York.
A trama escrita e dirigida por
Russ Holt no fundo quer falar sobre como a intolerância religiosa pode
atrapalhar relacionamentos, sejam de amizades, familiares ou conjugais, tanto
que Joseph acredita que teve a visão do anjo justamente em um momento em que
estava confuso sobre qual religião seguir afinal todas as crenças deveriam ser
em adoração a um único Deus, mas na realidade parece que cada uma delas defende
interesses próprios e deixa os ensinamentos bíblicos em segundo plano. Usando
como inspiração o romance “The Work and the Glory”, de Gerald N. Lundy, Tempo
de Glória trabalha o gancho religioso de forma a deixar explícito
apenas o essencial ao espectador. Basta saber que um personagem acredita ter um
dom, suas visões despertam a ganância e o despeito de alguns, mas enfrentando
todas as dificuldades ele tentará cumprir sua missão de levar a palavra de Deus
fundando um novo culto que pouco a pouco deixa de parecer uma insanidade para
se tornar uma realidade. Para não tornar o longa maçante, o roteiro desenvolve
paralelamente outra trama, um drama romântico. Logo que chegaram a Nova York,
Joshua e Nathan se apaixonaram por Lydia McBride (Tiffany Dupont), filha de um
comerciante local que para variar também repudia Joseph e todos que dão ouvidos
as suas histórias. No entanto, a garota demonstra compartilhar dos pensamentos
do jovem Smith, o que a aproxima muito de Nathan, mas ao mesmo tempo ela não
deixa de dar esperanças ao seu irmão, assim sem perceber ela pode estar
colocando uma família em pé-de-guerra. É uma pena que o longa leve esse
triângulo amoroso na base do banho-maria e a certa altura o personagem Joshua
perca sua importância. Dessa forma, a reta final deste drama torna-se um pouco
tediosa por concentrar-se mais na criação da religião dos Mórmons, ainda que
tais explanações que deveriam ser dadas por Joseph, personagem que carece de humanização, sejam transferidas para os
diálogos de Nathan que torna-se uma espécie de porta-voz do novo culto. De qualquer forma, um bom passatempo e que pode esclarecer
um pouco sobre um capítulo da História americana pouco divulgado e assim instigar pesquisas mais aprofundadas sobre o período marcado por intensos conflitos religiosos.
Drama - 112 min - 2004
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