NOTA 5,0 Repetindo clichês e buscando um toque de filme europeu, suspense meia-boca entretém, mas parece uma obra datada |
Já vivenciando a decadência do
longo período de sucesso dos filmes de horror orientais, refilmagens ou
originais, não importa, Hollywood tentava pegar carona nos últimos passos dessa
esteira e lançou muitas produções com temáticas sobrenaturais procurando algum
viés “inédito”, algo diferente dos fantasminhas de cabelos escorridos tapando
os rostos tão comuns nos longas asiáticos. O excesso de produtos do tipo acabou
fazendo com que o mercado norte-americano selecionasse com mais cautela aqueles
que seriam exibidos nos cinemas, o que explica o fato de Protegida por um Anjo ter
sido lançado diretamente em DVD por lá. Ele está longe de ser ruim, cumprindo
seus objetivos de entretenimento rasteiro e oferecer alguns sustos, mas é
relativamente fraco para lutar por bilheterias, tanto que no Brasil passou
pelas telonas em um estalar de dedos, encontrando um espaço mais confortável
nas telinhas de casa. O problema é que encabeçando o elenco está Demi Moore.
Embora estivesse há anos de distância de seu auge artístico, seu nome
continuava chamando a atenção, ainda mais atrelado ao meloso título que
automaticamente nos faz lembrar de Ghost
- Do Outro Lado da Vida, ainda o maior sucesso da atriz. Todavia, o romance
proposto aqui não vinga e a intérprete mostra-se comum, não está com seu
habitual brilho. Na trama escrita e dirigida pelo australiano Craig Rosemberg, de
Ladrão de Diamantes, ela dá vida à
Rachel Carlson, uma famosa e premiada escritora de livros de mistério radicada
na Inglaterra que fica abalada com a morte de Thomas (Beans El-Balawi), seu
único filho que com apenas sete anos faleceu afogado no lago ao lado de sua
casa. Sentindo-se responsável pelo acidente, um ano depois ela ainda não está
em condições de voltar a escrever e até seu casamento com Brian (Henry Ian
Cusick) está abalado e eles preferem dar um tempo. Sozinha, Rachel resolve
aceitar o adiantamento de uma editora como forma de incentivo e também a ideia
de sua amiga Sharon (Kate Isitt) para alugar uma cabana em Ingonish Cove, uma
pequena e remota ilha na Escócia, para assim poder relaxar e se inspirar a
voltar ao trabalho. O povoado parece um lugar esquecido pelo tempo. Muito calmo
e com poucos habitantes, pouco a pouco a escritora vai se adaptando a
melancólica rotina e recobra a vontade de escrever ao se deparar com um isolado
e antigo farol, contudo, as visões com o filho ainda a perturbam.
As coisas começam a mudar quando
Rachel faz amizade com Angus McCulloch (Hans Matheson), o vigilante do tal
farol que fica em uma ilha próxima e deserta. Ela volta a se interessar pela
vida e recupera a vontade de escrever, principalmente porque agora tem um amigo
que a compreende e a aconselha sempre que sente a presença do filho, mas aos
poucos mensagens supostamente enviadas pelo garoto parecem querer avisar que
ela está correndo perigo. Sem distinguir se os recados e as visões são reais ou
fruto de sua imaginação, a escritora passa a acreditar que está enlouquecendo.
O pior é que seu drama acaba sendo escancarado para todos na vila, pois depois
de se entregar de corpo e alma à Angus a moça descobre que ele não existe, ou
melhor, já existiu, mas se suicidou há cerca de dez anos após matar sua mulher
e o amante dela. Depois desta revelação previsível para os escolados no gênero,
que ocorre mais ou menos na metade do filme, o roteiro ganha um pouco mais de
ação e prepara uma reviravolta, no entanto, essa surpresa não foi bem recebida
e o longa foi execrado por críticos amadores e profissionais. Manifestações um
pouco exageradas, diga-se de passagem, afinal a produção não é melhor e nem
pior que muitas outras que nasceram praticamente rotuladas como medianas. O
problema talvez seja esse mesmo: ela não acrescenta nada de novo a seu gênero,
tampouco se esforça para retrabalhar os clichês. Estão aqui os vizinhos
estranhos e fechados, a paisagem enevoada a noite, as possíveis provas da
loucura da protagonista, a clássica sequência da busca de informações nos
periódicos da região, o imóvel isolado e abandonado, no caso o farol, e a
música alta nos momentos de tensão. Mesmo assim, para quem não é muito exigente
o longa consegue entreter e intrigar, principalmente aqueles conquistados pelo
visual e estilo narrativo europeu da fita. O diretor é um fã confesso dos
antigos filmes de horror produzidos na Europa e se não podia inserir o castelo
do Conde Drácula em sua história tratou de transferir para os cenários e
locações a sensação de que o perigo podia estar em qualquer parte, inclusive
surgindo a indagação se a população local não estaria contra Rachel e
colaborando para seu enlouquecimento a fim de evitar que algum segredo do
passado viesse a tona. Epa! Esse caminho, apesar de para lá de batido, podia
dar algum caldo.
Rosenberg realmente não traz
inovações, mas não merece alguns dos esculachos que recebeu. Podem reclamar dos
personagens que com exceção da protagonista não criam empatia, das situações
previsíveis, da trilha sonora e movimentos de câmera talhados para assustar, do
romance piegas desenvolvido e do pouco aproveitamento da pegada espírita do
enredo, mas chegar a falar que o filme subestima a inteligência do espectador e
deixa zilhões de pontas soltas ao final é pegar um pouco no pé do cineasta. É
óbvio que a reta final escorrega pelo seu esquematismo, tudo funciona
perfeitamente, mas existem produções bem piores a serem humilhadas. Para quem
assiste com o pé atrás, certamente acompanhará a trama com reticências, aquele
velho preconceito com produções a la “Super Cine”, e não perceberá que as
respostas para a guinada e dúvidas do enredo estão todas aqui, em diálogos ou
em imagens. Por exemplo, as cenas da
sensitiva Mary Murray (Joanna Hole), aparentemente sem sentido, já nos deixam
claras algumas respostas quanto as questões espíritas da trama que depois ganha
contornos mais realistas e aí é só juntar os pontos. É uma pena que após
produções como O Sexto Sentido e Os Outros, com a famosa surpresa no
final, o público hoje em dia não aceita nada mais que o suprassumo do suspense.
O que está abaixo disso automaticamente é rotulado como lixo e sem chances de
mostrar seu potencial, por menor que ele seja. Vendo por esse prisma, Protegida
por um Anjo merece uma avaliação mais branda. Apesar das falhas, o
conjunto revela que simplesmente o projeto foi lançado em época errada, tendo
chances de ter sido um grande sucesso nos anos 80 ou 90, afinal sua trama e
estilo narrativo se assemelham muito a tantas outras obras que lotavam as
locadoras no auge das fitas VHS. Sim, realmente o filme parece pinçado de
décadas atrás, algo acentuado pela opção da protagonista em utilizar uma
máquina de escrever ao invés do computador, e quem conseguir enxergá-lo com
olhar de nostalgia pode se contentar com o resultado. No fundo, após subirem os
créditos finais, o que incomoda mesmo é acreditar que em um povoado tão
antiquado, com ares de interior e com uma quantidade ínfima de habitantes,
Rachel possa desfilar a bordo de um carro maneiro e usar seu celular
tranquilamente. Portanto, caso sinta-se atraído pelo enredo e curioso pela tal
virada da trama, bom proveito, mas desligue o senso crítico, é melhor.
Suspense - 110 min - 2006
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