Nota 8 Longa conquista com enredo simples, canções contagiantes e a alegria e simpatia do elenco
O verão é uma das melhores épocas do ano. Dias mais longos, temperaturas altas, uma incrível sensação de liberdade, muita gente curtindo férias e nada melhor que um filme alto astral e com o clima ensolarado da estação para fazer companhia. Mamma Mia! pode ser considerado a tradução cinematográfica do que um período de descanso significa. Do início ao fim, o espectador é convidado a participar de uma verdadeira festa que parece não ter hora para acabar e de quebra se deliciar com um agradável passeio por belas paisagens gregas, embora a maioria tenha sido inserida através da computação gráfica, mas isso é só um detalhe. Em meio a tanta diversão e descontração quem vai ficar procurando defeitos? Bem, infelizmente não é todo mundo que deixa seu espírito alegre aflorar com esta produção, ou melhor, o gênero musical por si só sofre preconceito, mas neste caso temos um bônus: a trilha sonora do grupo ABBA com hits dos tempos da discoteca. O fato é que esta comédia romântica agrada e desagrada em proporções similares, mas o passar dos anos mostra que a turma de fãs é bem grande, ainda mais com o respaldo do espetáculo teatral que rodou o mundo e ajudou a propagar a fama do longa-metragem. Realmente foi para os palcos que primeiramente o projeto foi pensado ainda na década de 1980, uma forma de aproveitar os últimos resquícios da era da disco music, mas a ideia só foi concretizada em 1999 pelas mãos de Phyllida Lloyd que também assina a versão cinematográfica.
Mantendo praticamente todo o roteiro original da peça, a transposição para o cinema dificilmente decepcionaria, pelo menos para aqueles que procuram diversão sem ter que gastar o mínimo de cérebro, contudo, falar que esta produção é acéfala ou destinada a público idem não é correto. A diretora nunca teve a intenção de fazer algo revolucionário ou que colocasse as plateias para pensarem, pelo contrário, o objetivo é simplesmente entreter e ser uma opção escapista. A quem interessar bom proveito. A trama escrita por Catherine Johnson começa as vésperas do casamento de Sophie (Amanda Seyfried) com Sky (Dominic Cooper), dois jovens que vivem em plena harmonia, mas o plano de uma união de papel passado e com bênçãos religiosas é muito mais um desejo da mocinha ou até mesmo um capricho seu. Ela sempre viveu com a mãe, Donna (Meryl Streep), que nunca revelou quem era seu pai, mas quando a garota encontra um antigo diário dela surgem pistas de três homens e um deles provavelmente é a pessoa que ela tanto procura. Assim, a noivinha envia convites do casório para Sam (Pierce Brosnan), Bill (Stellan Skarsgard) e Harry (Colin Firth), mas Donna nem desconfia e leva um baita susto quando o passado literalmente bate a sua porta. Detalhe, os três convidados só descobrem na ilha grega que todos se relacionaram com a mãe de Sophie e que um deles é o pai da jovem. E Donna, por sua vez, tentará expulsá-los de lá o quanto antes para que seu segredo não seja revelado.
Adornando a confusão de sentimentos dos personagens é que entram em cena as canções do ABBA. São mais de vinte músicas executadas na íntegra que apesar de antigas possuem letras que em sua maioria complementam o enredo com perfeição. Sonoramente falando, as canções contagiam com suas melodias e ficam ainda mais vibrantes para os espectadores porque os próprios atores soltaram a voz não só no estúdio de gravações de músicas, mas também cantaram durante as filmagens das cenas, o que deixa tudo muito mais realista. Para dar um charme a mais, a diretora teve a boa ideia de introduzir um coro nos números musicais utilizando os figurantes. Trama romântica, música, dança, belas paisagens... Sem dúvida esta é um obra carregada de essência feminina, mas isso não quer dizer que os homens não possam se divertir também, ainda que em contrapartida o elenco masculino esteja parecendo figuração diante da energia esbanjada pela trupe feminina. Brosnan e Cooper seguram as pontas como os galãs enquanto Firth e Skarsgard garantem bons momentos de humor. Todavia, por mais que se esforcem, quem reluz mesmo é a veterana Streep. Conhecida por interpretações dramáticas fortes, a atriz surpreende com uma disposição invejável e deixando transparecer o quanto se divertiu neste trabalho. Dentro dela existe uma criança louca para ser libertada e esta é a prova de que quando lhe dão tal chance ela não desperdiça. Mesmo roubando as atenções involuntariamente para si a estrela ainda ajuda outros a brilharem, como a Seyfried com quem criou uma crível relação de mãe e filha.
Merece destaque também as atuações de Julie Walters e Christine Baranski, respectivamente como Rosie e Tanya, duas personagens carismáticas e divertidas amigas de longa data de Donna. Elas estão à disposição para ajudar a atenuar os males do conflito principal com seus pitacos nem sempre úteis, mas também vivem seus próprios dilemas amorosos em tramas paralelas. Assim como o restante do elenco já citado, elas também têm ao menos um número musical para chamar de seu e esbanjam talento. Mesmo tendo uma duração relativamente curta, o longa parece ser muito mais demorado, mas no bom sentido. Como todo o elenco tem sua chance de brilhar e conflitos bem definidos, a monotonia passa longe do filme, chegando ao clímax de tudo ainda na metade com a longa sequência dedicada ao hit "Dancing Queen" que resgata o espírito dos musicais de antigamente com os personagens cantarolando e saltitando pelas ruas sem medo de ser feliz. A canção é repetida mais uma vez durante os créditos finais trazendo Streep, Baranski e Walters em performances um tanto nostálgicas e carregadas de purpurinas e brilhos. Já a segunda música da conclusão com a participação do restante do elenco é de deixar qualquer um ruborizado e constrangido. A canção é animada, mas ver os homens trajando roupas brilhantes e sapatos plataformas é motivo para chorar de tanto gargalhar, destoa demais no conjunto. Contudo, exagero é a palavra que define Mamma Mia!.
Apesar de economizar em figurinos e adereços cênicos boa parte do tempo, deixando brilhos e luzes para momentos estratégicos, o exagero nas atuações mantém o apelo teatral original e traz um saudosismo contagiante. Obviamente está longe do glamour dos antigos musicais e tampouco se aproxima do luxo de produções recentes do gênero, mas a bem dosada mescla de exagero e simplicidade garantem a esta obra uma identidade única. O aparente despojamento visual só realça o empenho do elenco e deixa claro que para fazer cinema a criatividade e o amor pelo trabalho ainda são os principais ingredientes. É um festejo à liberdade, às coisas boas da vida e pensar em tristezas ou coisas lógicas não faz parte do roteiro. Podem falar o que for, mas dificilmente alguém consegue assistir ao filme sem ao menos dar umas batidinhas de pé no chão, estalar os dedos ou perder a vergonha e levantar do sofá para dançar. Os citados clipes que acompanham os créditos finais são um convite e tanto para quem estiver contagiado com a vibração deste musical que de certa forma marcou uma época, tornando-se um dos musicais cinematográficos mais rentáveis de todos os tempos.
Musical - 108 min - 2008
Confesso que tive muita repulsa para assistir a esse filme, pois não sou chegada a musicais. MAs até que o achei bonitinho! É uma história leve, para descontrair mesmo, além de levar músicas muito boas.
ResponderExcluirabraço!
Oi Guilherme tudo bem...
ResponderExcluirHoje tive o privilégio de assistir esse filme, e me bateu uma boa lembrança sua. De como contava seu contexto e resolvi passar por aqui. Muito bom adorei o filme, assim como sua crítica, nota 10.
Sorte e Sucesso... Abraços!