Nota 3,5 A partir de situação caótica, longa coloca em xeque os sentimentos de um casal
Epidemias, tsunamis, terremotos,
tufões, erupções de vulcões, doenças sem precedentes e eventos inexplicáveis da
natureza. O cinema já achou as mais variadas formas de exterminar a humanidade
e destruir o mundo, mas sempre tem algum cineasta de plantão para voltar ao
tema. Quando são superproduções, o negócio é investir em efeitos especiais para
atrair público, ainda mais em tempos que os cinemas se renderam e se sustentam
por conta de firulas tecnológicas, mas quando o orçamento é limitado o jeito é
se virar como pode. Existe a opção pelo trash apelando para efeitos precários
para ilustrar um provável fiapo de história ou o caminho mais inteligente de
focar a atenção no enredo e se preocupar em mostrar como as pessoas reagem
diante do desconhecido ou da iminência da morte. Ensaio Sobre a Cegueira e Contágio
são bons exemplos desta segunda alternativa com o bônus de contar com um elenco
de estrelas e cineastas renomados. O diretor e roteirista Chris Gorak não teve
a mesma sorte com seu Toque de Recolher, mas nem por isso
quis fazer um lixo qualquer, optando por uma abordagem mais intimista de uma
temática tão grandiosa. A trama começa com o início de mais um dia aparentemente
normal para a cidade de Los Angeles e para o casal Lexi (Mary McCormack) e Brad
(Rory Cochrane). Eles estão vivendo uma fase difícil do relacionamento, mas a
aproximação vem ironicamente de uma situação que também implica a separação.
Logo após a moça ir para o trabalho, o marido escuta no rádio a notícia de que
a cidade está sendo atacada por bombas químicas, verdadeiras armas de materiais
radioativos cujos malefícios para os humanos não são totalmente conhecidos. Como
prevenção, o governo implanta o toque de recolher, medida para que as ruas
sejam evacuadas o mais rápido possível diminuindo ao máximo os riscos a saúde
da população até que existam dados mais consistentes a respeito dos efeitos
negativos do episódio. Todos devem permanecer trancados em casa e vedar todas as
janelas e portas para evitar a inalação do ar contaminado. A deflagração deste
conflito é feita de forma rápida e eficiente e o espectador participa do caos a
medida que Brad vai colhendo novas informações através das mídias. Ao primeiro
sinal de alerta ele tenta ir atrás da esposa, mas é impedido por policiais.
Quando volta para casa, Brad
ganha a companhia de Alvaro (Tony Perez), um idoso que trabalhava na reforma de
uma residência vizinha, e de Timmy (Scotty Noyd Jr.), garoto que ele encontra
sozinho vagando na rua, mas ambos não têm importância nos rumos da trama. O
grande lance do enredo é que quanto mais o tempo passa, menores são as chances de
Brad poder receber a esposa novamente em casa. Depois de muitas horas, Lexi
finalmente consegue voltar, mas seguindo ordens das autoridades o marido a
proíbe de entrar até que alguém responsável apareça para verificar se ela está
contaminada pela fumaça tóxica. O problema é que ela mesma não sabe se já está
sofrendo algum mal, porém, se permanecer do lado de fora fatalmente irá aspirar
o ar ruim podendo vir a falecer devido a demora das equipes de ajuda. A
premissa do longa não é algo impossível, aliás já tivemos notícias sobre fatos
semelhantes e isolados espalhados pelo mundo todo, assim o filme consegue
captar a atenção logo no início, pois podemos nos colocar no lugar de Brad
diante de tal situação. Se já é desesperador se sentir de mãos atadas quando
alguém que amamos está distante e correndo riscos, imagine quando ela está tão
próxima, mas ajudá-la poderia acarretar consequências ainda mais graves? Dessa
forma, o grande conflito fica na tensão gerada entre marido e mulher. Ela quer
ajuda, mas tem consciência de que pode ser uma ameaça. Ele quer lhe auxiliar,
mas sabe que precisa colocar a razão acima do emocional neste momento.
Infelizmente, a tensão e a identificação inicial com a situação pouco a pouco
vão cedendo espaço ao tédio, visto que Gorak concentra a ação apenas na casa e
em torno do casal que não tem muito a dizer ou fazer. Ficamos sabendo que
autoridades estão tomando providencias pelos diálogos dos protagonistas, mas
não há aprofundamento nos aspectos sociais do episódio, o que implica também na
ausência de uma abrangência maior de seus danos. A estrutura adotada para Toque
de Recolher pode ser vista como um exercício cinematográfico, uma prova
de que produções de baixo orçamento podem apostar em temáticas comuns aos
filmes-catástrofes, inclusive pelo seu final inesperado, mas é preciso muito
talento e criatividade para preencher cerca de uma hora e meia com poucos
personagens lutando pela sobrevivência, mas no fundo já se preparando para o
pior.
Suspense - 95 min - 2006
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