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terça-feira, 5 de julho de 2016

A QUEDA DO PODER

NOTA 8,0

Readaptação feita para a TV de
obra pouco conhecida de Orson
Welles tem mensagem universal e
atemporal sobre tolerância e caráter
Manter a tradição de um nome e consequentemente o status financeiro e social não é uma tarefa fácil. Hoje em dia ainda há muitas famílias espalhadas por aí que tentam sobreviver as custas do sobrenome do clã, mas embora a tática ainda engane alguns ingênuos, é certo que praticamente todo mundo sabe que elogios e prestígio não pagam contas. O problema é quando os próprios “novos pobres” não fazem questão alguma de deixar a ficha cair e além de tentarem manter um padrão de vida que não lhes convém mais ainda não perdem o velho hábito de pisotearem nos outros. Pois é essa lição de vida que recebe o protagonista de A Queda do Poder, drama de época baseado no roteiro adaptado pelo cultuado Orson Welles para um conto clássico europeu, “The Magnificent Ambersons”, de Booth Tarkington, que em 1942 ganhou versão cinematográfica sob o título Soberba. Dizem que os melhores perfumes estão nos menores frascos e talvez isso tenha chamado a atenção do cineasta Alfonso Arau a investir no remake de um longa que ficou esquecido com o passar dos anos, porém, sua mensagem continua super atual. O diretor foi fiel a essência do texto de Welles, mas precisou ampliá-lo para atender as exigências do porte do projeto. Apesar de todo o requinte para reconstruir cenários do final do século 19 e início do 20, a produção não foi feita para o cinema. Sua duração um pouco acima do normal e forma de edição denunciam suas raízes televisivas, como se fosse uma série de alguns poucos capítulos compilados posteriormente para lançamento em DVD ou simplesmente um telefilme mais pomposo. Com visual caprichado equiparável a produções de época cinematográficas, Arau, que infelizmente não conseguiu cravar outros sucessos após o premiadíssimo Como água Para Chocolate, mostra que um trabalho de televisão não precisa necessariamente ser de qualidade inferior e tampouco ser encarado como um rebaixamento aos profissionais que migram das telonas. É possível sim fazer um belo produto, mas quebrar barreiras dos preconceitos dos espectadores são outros quinhentos, ainda que neste caso a trama seja bastante atrativa com enlaces românticos ameaçados pela empáfia de um rapaz que ficou cego pela ambição, inveja e apego as tradições. Enquanto procurava provocar a infelicidade dos outros, não percebeu que estava destruindo a sua família e a si mesmo, mas enquanto se está vivo sempre há tempo para consertar os erros. 

A trama começa em 1904 durante uma festa da alta sociedade. Eugene Morgan (Bruce Greenwood) reencontra Isabel Amberson (Madeline Stowe), a grande paixão de sua vida, que por causa de preconceitos aristocráticos o abandonou e acabou se tornando esposa de Wilbur Minnafer (David Gilliam), um milionário desde o berço. Hoje um homem de negócios, Eugene regressou à cidade de Indianápolis com planos para restabelecer moradia ao lado da filha, a jovem Lucy (Gretchen Mol), que imediatamente começa a chamar a atenção dos rapazes, principalmente de George (Jonathan Rhys Meyers), por coincidência o filho de Isabel. Enquanto os jovens demonstram interesse um pelo outro, a paixão de seus pais reascende durante a festa e a trama então volta no tempo para mostrar o início da relação que eles tiveram no passado e como aconteceu o rompimento, mas o grande protagonista é George, único filho do casal Minnafer (curiosamente o título original faz referência ao sobrenome da família da esposa, o que não é muito usual, ainda mais quando o cônjuge tem posses). Ainda criança, ele já demonstrava arrogância exagerada, fruto de uma educação cheia de mimos, e quanto mais os anos passavam sua empáfia só piorava. Devido a boa situação econômica da família, o garoto achava que podia fazer o que queria, até ameaçar que algumas pessoas perderiam suas casas por elas terem sido construídas em cima de um terreno cedido por seu clã. Quando jovem, ele já havia conhecido Lucy, mas não se davam tão bem como no momento em que se reencontraram mais maduros, afinal a garota também não demonstrava compactuar com o jeito ostensivo dele agir. Todavia, as coisas mudaram bastante nesse tempo em que eles estiveram distantes, apenas o nariz empinado do rapaz que não abaixava de jeito nenhum. Wilbur não estava com as finanças em boas condições e o estresse colaborou para seu falecimento repentino. O avô do jovem, Major Amberson (James Cromwell) então procurou manter o padrão da família cobrando aluguéis dos moradores de seus terrenos ao invés de despejá-los, o que enfurece o tradicionalista neto que mesmo com toda sua arrogância parece ter conquistado o coração de Lucy, mas este amor corre perigo. 

Eugene é inventor e está trabalhando na construção de uma carruagem sem a necessidade de cavalos para puxar, modelo que veio a ser conhecido como automóvel. No início poucos acreditavam na ideia, mas após o lançamento no mercado o produto começou a fazer sucesso, mas havia dúvidas de quanto tempo tal febre duraria. Contrariando as expectativas, os números de vendas só subiram, enriquecendo ainda mais aquele que outrora era considerado um mal partido pela falta de dinheiro. George então passou a atacar o sogro com ofensas e difamações, não só pela inveja financeira, mas também por saber que sua mãe deixou o luto de lado e estava se encontrando novamente com seu antigo amor e isso já estava acontecendo antes mesmo de sua boa fase financeira. Com a raiva alimentada pelos comentários maldosos de sua tia Fanny (Jennifer Tilly), solteirona cujo passatempo preferido era fazer intrigas e fofocas, ele passou a dedicar seu tempo para separar Isabel e Eugene, inclusive obrigando a mãe a se mudar com ele para uma outra cidade, mas toda sua impulsividade não lhe dava oportunidade para refletir nas consequências de suas atitudes que também poderiam colocar em risco seu próprio namoro. Para piorar, relutante em acompanhar as mudanças do mundo industrializado, George acabou investindo mal o dinheiro de sua família e colocou tudo a perder. Já dá para imaginar o que vem por aí. Quando chega ao fundo do poço, o protagonista passa a reavaliar sua vida e corre contra o tempo em busca de redenção, inclusive tentando ajudar até a chata de sua tia que tanto influenciou para sua personalidade execrável. A Queda do Poder poderia ser beneficiado com alguns minutos a menos, mas de toda forma a longa duração se justifica pela opção em construir detalhadamente a personalidade e o mundo do protagonista de forma a envolver ao máximo o espectador, ainda que alguns possam se ofender ou não embarcarem na trama simplesmente por se verem na figura deste jovem arrogante, mas uma pisada no calo vem bem a calhar a algumas pessoas de vez em quando para dar um choque de realidade. Com um ótimo texto e uma interpretação forte de Meyers, este drama merecia um destaque maior, pois sua mensagem é atemporal e universal. Pena que a distribuidora que o lançou em 2007 faliu e seja uma raridade encontrá-lo. Sorte de quem tem um tesouro desses em seu acervo.

Drama - 150 min - 2002 

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