Nota 5 rama reúne diversos temas interessantes, mas nenhum é explorado satisfatoriamente
Em meados da década de 2000 houve um boom de filmes em que a dança era a grande protagonista. Valsa, tango, lambada, salsa, hip hop, balé, praticamente todos os ritmos e estilos de dança viraram inspiração para diretores que exploraram tal onda, mas tudo que é demais cansa. Com o tempo os enredos começaram a ficar muito parecidos, geralmente histórias de amor e/ou superação, o que levou os números musicais a ganharem maior destaque sobre a própria trama. Tentando equilibrar história e dança o roteirista e diretor Eitan Anner recheou de boas intenções o seu No Ritmo do Amor, um leve drama que procura abordar uma gama de assuntos, mas o resultado final fica aquém do esperado, ainda mais por se tratar de uma produção diferenciada, um produto vindo de Israel cuja filmografia não tem grande projeção.
A trama gira em torno do pré-adolescente Chen (Vladimir Volov) que vive em um lar sem harmonia na pacata cidade de Ashdod. Lena (Oxana Korstyshevska), sua mãe, é de origem russa, é culta e estava acostumada a levar uma vida confortável e a diversões como ir ao teatro ou jantar fora, mas agora sofre com o descaso do marido, Rani (Avi Kushnir), um homem mais rudimentar, tradicional e contraditório. Ao mesmo tempo em que nunca se lembra do aniversário de casamento ele também tem a pretensão de fazer de seu filho uma pessoa melhor do que a idealizada futilmente pela esposa. Todavia, Chen pode fugir do caminho traçado pelo pai. Ele troca os golpes de judô pelos passos de dança quando conhece Natalie (Valeria Volvodin) numa escola cujos bailes sua mãe gosta de frequentar. Para se aproximar da garota ele resolve se matricular nas aulas apesar de não ter jeito para o bailado.
No início parece que a professora Yulia (Evgenya Dodino) não bota fé no garoto e sabe bem por qual motivo ele está nas aulas, mas ainda assim resolve lhe dar uma chance, porém, o obriga a dançar com Sharon (Thalya Raz), aparentemente uma garota pouca popular da turma e que se estranha com o menino logo de cara. Adotando o tom açucarado e clichê típico de produções semelhantes made in Hollywood é óbvio que o final feliz está garantido e que Chen com o passar do tempo enxergará Sharon com outros olhos, mas o que deixa um gostinho incômodo no final das contas é que haviam boas subtramas desprezadas. Pela sinopse e levando em consideração seu país de origem fica a frustração do conflito dos pais do protagonista se mostrar fraquíssimo. As diferenças culturais e de personalidade entre os dois poderiam render boas discussões, mas o problema é levado em banho-maria assim como a sugestão de que Lena poderia trair o marido com os parceiros de dança dos bailes.
A professora Yulia também teria um bom gancho dramático afinal vive discutindo com outro professor da escola, o mulherengo e ambicioso Roman (Kirill Safonov). Os dois já se relacionaram no passado e formavam uma dupla que se apresentava em concursos, mas algo os afastou e deixou mágoas no coração da mulher. Tal entrecho é levemente melhor encaminhado, mas também poderia render mais. Por fim, no núcleo infantil basicamente a questão do preconceito é tratada. Chen passa a ser achincalhado pelos amigos por dançar, o que preocupa seu pai. Natalie é extremamente vaidosa, mas passa a se menosprezar graças aos comentários do engomadinho Arthur (David Kogen), peça necessária para fazer aquele velho duelo velado entre o vencedor e o fracassado na pista de dança, o loiro burguês e o moreno da plebe. E Sharon encarna o estereótipo da garota que sempre fica de lado na hora de escolherem os pares, mas revela-se uma pessoa do bem que se não chama a atenção por sua beleza física por outro lado conquista com sua personalidade forte e espírito companheiro. Para resolver todos estes nós, que de certa forma são um tanto frouxos, nem precisa dizer que tudo acaba em pizza, ou melhor, em dança.
No Ritmo do Amor não é um filme ruim, até garante uma sessão descompromissada prazerosa e leve, mas pelos temas que procura abordar o resultado final poderia ser bem melhor. Nem mesmo as poucas cenas em que pai e filho conversam sobre sentimentos e expectativas para o futuro conseguem trazer o tom edificante necessário. Tudo é tratado de forma muito rasteira e que acaba não envolvendo adequadamente o espectador, restando assim apenas a opção de acompanhar o longa até o fim (principalmente pelos aficionados pela temática) por causa das cenas de ensaio e para ver a apresentação final quando em cerca de dez minutos todos os conflitos propostos parecem sanados pela mágica das notas musicais.
Romance - 95 min - 2006
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