NOTA 6,5 Abordando o charlatanismo, longa tem boa premissa, mas perde a mão com pistas falsas e abrindo mão de um personagem |
Truques de ilusionismo, dom da
vidência ou a manipulação pela fé? Qual realmente é o foco de Poder
Paranormal? Bem, todos esses temas estão neste suspense dirigido,
roteirizado, produzido e ainda editado pelo espanhol Rodrigo Cortés, nome que
ganhou certa fama com Enterrado Vivo
que lhe rendeu algumas indicações a prêmios. Da claustrofobia de seu trabalho
anterior este multiprofissional deu um salto para uma trama bem mais arejada,
mas que deixa no ar um clima de mistério explorando um tema que costuma chamar
a atenção e gerar polêmicas. O longa começa bem apresentando a estudiosa
Margaret Matheson (Sigourney Weaver) e seu assistente Tom Buckley (Cillian
Murphy) visitando um casarão onde os habitantes se dizem amedrontados por
espíritos malignos. Eles participam de uma sessão espírita, mas não demora
muito para descobrirem que tudo não passa de uma farsa, uma brincadeira
infantil. A profissão da dupla é essa: estudar supostos casos de
paranormalidade em busca de pequenos detalhes que comprovam que tais fenômenos
não existem e em geral abastecem a conta bancária daqueles que se dizem
detentores de poderes especiais e que se aproveitam da boa fé das pessoas. Um
pouco mais adiante, por exemplo, os investigadores acompanham as escondidas uma
apresentação de um vidente em um auditório e descobrem que tudo o que ele sabe
sobre as intimidades de algumas seletas pessoas da platéia são ditadas em um
ponto eletrônico por uma jovem que provavelmente tem uma ficha de inscrição dos
espectadores das mais completas ou até mesmo tais participantes já teriam sido
contratados previamente para brincarem de atuar. Qualquer semelhança com cenas
protagonizadas por certos missionários de Deus da vida real que fazem
verdadeiros espetáculos não devem ser encaradas como coincidência. Margaret e
Buckley agem rapidamente e o charlatão é desmascarado em público e com a
polícia já a postos. Cada um deles tem um motivo para terem escolhido esse
trabalho. O rapaz em uma conversa informal deixa a entender que sua mãe estava
com câncer e abriu mão do tratamento quando um vidente a fez acreditar que ela
não tinha absolutamente nada de errado no organismo, uma mentira que a levou a
morte. Já sua mestra, mais que sua profissão, encara essas desmistificações
como uma questão pessoal já que seu filho está em coma há anos e ela não aceita
desligar os aparelhos sem ter alguma prova concreta de que existe uma outra
vida.
O primeiro ato do longa consegue
prender a atenção do espectador principalmente por causa do desenvolvimento dos
personagens. Além de expor o cotidiano e os métodos de trabalho da dupla,
incluindo uma aula sobre como encenar trucagens desde como agir até como criar
uma ambientação adequada para iludir platéias, ficamos conhecendo razoavelmente
bem o perfil deles. Margaret mais fechada e objetiva fazendo um interessante
contraponto ao jeito levemente extrovertido e demasiadamente curioso de seu
assistente, ele que a certa altura da narrativa ganha o status de protagonista definitivo
desbancando talvez o principal chamariz do filme: a presença de Robert De Niro.
O veterano ator interpreta Simon Silver, um vidente deficiente visual, mas cuja
fama corre em todo o mundo. Este misterioso homem retorna à mídia após cerca de
trinta anos sumido, desde que um repórter que o acusava de mentiroso veio a
falecer durante uma das apresentações do médium. Buckley fica obcecado pela
ideia de desmascará-lo, mas sua mentora o proíbe e deixa latente que existe uma
grande repulsa dela em relação a esse homem. Infelizmente, o passado destes
personagens logo vem a tona e assim o espectador tem como única escolha
acompanhar a incessante busca do protagonista por provas contra Silver, mas
isso não significa que o filme se torne enfadonho. O que acontece é que o peso
do papel de Margaret, cuja intérprete colabora para injetar certa tensão na
obra devido ao seu histórico de trabalhos, não é repassado na mesma proporção
ao seu pupilo quando ele assume as rédeas da narrativa. A personagem feminina
era forte o suficiente para conduzir as ações, mas o diretor acabou optando por
literalmente limá-la de cena em determinado momento para então Murphy brilhar
com seu característico par de olhos que para muitos vende a impressão de que o
ator é ideal para tipos bizarros ou psicopatas. Pelos grandes personagens que
ele interpretou, podemos dizer que finalmente o rapaz ganhou a chance de viver
um bom moço e longe de qualquer característica gritante que denunciasse algum
desvio de personalidade. Bem, logo no início Buckley, em meio a um bate-papo
descontraído envolvendo uma brincadeira com mágica, afirma que o grande truque
dos ilusionistas é fazer sutilmente com que seu público desvie sua atenção do
alvo central sem perceber e é assim que Cortés conduz este longa, apostando em
reviravoltas e em pequenos detalhes em busca de um final impactante, mas que
poderia ser percebido antecipadamente.
A conclusão deste suspense, para
variar, é o calcanhar de Aquiles para muitos, embora faça sentido se pensarmos
nas intenções lúdicas do diretor impostas de maneiras sutis logo nos minutos
iniciais. Para não deixar dúvidas de que não criou nada mirabolante no final
das contas, Cortés até adiciona no fechamento um rápido flashback compilando
cenas que justificam o fim. Todas as pistas estavam sendo expostas pouco a
pouco, mas apenas uma minoria certamente consegue percebê-las quando inebriados
pelo clima de mistério. Nessa hora não damos a devida atenção a detalhes reais,
preferindo a expectativa de que a qualquer momento algo surpreendente irá
acontecer. Poder Paranormal aparentemente nunca teve o objetivo de ser uma
produção avassaladora, apenas uma distração razoável como tantas outras
produzidas todos os anos. Porém, seu título tem certo peso diante do fascínio
que o tema da paranormalidade causa e quem se sente atraído espera muito mais
argumentos para continuar acreditando ou questionando os fenômenos
sobrenaturais. O longa fica em cima do muro quanto a isso apresentando uma
trama que procura incitar algum tipo de polêmica, como a exposição dos videntes
como se fossem pastores evangélicos, mas acaba caindo em clichês, como na
sequência em que Buckley quase atropela uma senhora e ela lhe aponta o dedo
acompanhado de um olhar ameaçador só para causar um impacto instantâneo que não
leva a trama a lugar algum. Dessa forma, este é um daqueles típicos produtos
para dar suporte as locadoras quando a safra de oriundos do cinema está fraca.
O filme faz sucesso quando lançado, mas está fadado a juntar pó na prateleira
até que alguém que perca sua exibição na TV ou graças a lábia de algum
atendente ou dica de conhecido. Todavia, este é um filme B que está longe de
ser dos piores. Além da primeira metade ser extremamente interessante e garfar
a atenção com um clima propício e levantando questões que satisfazem as
vontades do público, o longa se segura sobre os alicerces do elenco. Murphy se
esforça para que seu natural ar perturbador não comprometa sua função de
mocinho da fita enquanto Sigourney encara com profissionalismo um papel que
tinha tudo para ser grande, mas é consideravelmente diminuído talvez pelo baixo
poder de fogo de seu nome atualmente, algo que também acontece com De Niro. É
triste, mas aquele boato de que não há bons papéis disponíveis no cinema para
intérpretes mais velhos parece ser real, salvo raras exceções. Os produtores se
aproveitam dos currículos dos veteranos para aumentar o status de seus
trabalhos e os atores, por sua vez, acabam aceitando qualquer papel para
negarem a aposentadoria. Bem, infelizmente é preciso constatar que alguns
momentos de De Niro neste longa acabam sendo indignos para seu porte, mas de
qualquer forma o longa deixa alguma mensagem, basta saber interpretar.
Suspense - 113 min - 2012
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