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quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

PODER PARANORMAL

NOTA 6,5

Abordando o charlatanismo,
longa tem boa premissa, mas
perde a mão com pistas falsas e
abrindo mão de um personagem
Truques de ilusionismo, dom da vidência ou a manipulação pela fé? Qual realmente é o foco de Poder Paranormal? Bem, todos esses temas estão neste suspense dirigido, roteirizado, produzido e ainda editado pelo espanhol Rodrigo Cortés, nome que ganhou certa fama com Enterrado Vivo que lhe rendeu algumas indicações a prêmios. Da claustrofobia de seu trabalho anterior este multiprofissional deu um salto para uma trama bem mais arejada, mas que deixa no ar um clima de mistério explorando um tema que costuma chamar a atenção e gerar polêmicas. O longa começa bem apresentando a estudiosa Margaret Matheson (Sigourney Weaver) e seu assistente Tom Buckley (Cillian Murphy) visitando um casarão onde os habitantes se dizem amedrontados por espíritos malignos. Eles participam de uma sessão espírita, mas não demora muito para descobrirem que tudo não passa de uma farsa, uma brincadeira infantil. A profissão da dupla é essa: estudar supostos casos de paranormalidade em busca de pequenos detalhes que comprovam que tais fenômenos não existem e em geral abastecem a conta bancária daqueles que se dizem detentores de poderes especiais e que se aproveitam da boa fé das pessoas. Um pouco mais adiante, por exemplo, os investigadores acompanham as escondidas uma apresentação de um vidente em um auditório e descobrem que tudo o que ele sabe sobre as intimidades de algumas seletas pessoas da platéia são ditadas em um ponto eletrônico por uma jovem que provavelmente tem uma ficha de inscrição dos espectadores das mais completas ou até mesmo tais participantes já teriam sido contratados previamente para brincarem de atuar. Qualquer semelhança com cenas protagonizadas por certos missionários de Deus da vida real que fazem verdadeiros espetáculos não devem ser encaradas como coincidência. Margaret e Buckley agem rapidamente e o charlatão é desmascarado em público e com a polícia já a postos. Cada um deles tem um motivo para terem escolhido esse trabalho. O rapaz em uma conversa informal deixa a entender que sua mãe estava com câncer e abriu mão do tratamento quando um vidente a fez acreditar que ela não tinha absolutamente nada de errado no organismo, uma mentira que a levou a morte. Já sua mestra, mais que sua profissão, encara essas desmistificações como uma questão pessoal já que seu filho está em coma há anos e ela não aceita desligar os aparelhos sem ter alguma prova concreta de que existe uma outra vida.

O primeiro ato do longa consegue prender a atenção do espectador principalmente por causa do desenvolvimento dos personagens. Além de expor o cotidiano e os métodos de trabalho da dupla, incluindo uma aula sobre como encenar trucagens desde como agir até como criar uma ambientação adequada para iludir platéias, ficamos conhecendo razoavelmente bem o perfil deles. Margaret mais fechada e objetiva fazendo um interessante contraponto ao jeito levemente extrovertido e demasiadamente curioso de seu assistente, ele que a certa altura da narrativa ganha o status de protagonista definitivo desbancando talvez o principal chamariz do filme: a presença de Robert De Niro. O veterano ator interpreta Simon Silver, um vidente deficiente visual, mas cuja fama corre em todo o mundo. Este misterioso homem retorna à mídia após cerca de trinta anos sumido, desde que um repórter que o acusava de mentiroso veio a falecer durante uma das apresentações do médium. Buckley fica obcecado pela ideia de desmascará-lo, mas sua mentora o proíbe e deixa latente que existe uma grande repulsa dela em relação a esse homem. Infelizmente, o passado destes personagens logo vem a tona e assim o espectador tem como única escolha acompanhar a incessante busca do protagonista por provas contra Silver, mas isso não significa que o filme se torne enfadonho. O que acontece é que o peso do papel de Margaret, cuja intérprete colabora para injetar certa tensão na obra devido ao seu histórico de trabalhos, não é repassado na mesma proporção ao seu pupilo quando ele assume as rédeas da narrativa. A personagem feminina era forte o suficiente para conduzir as ações, mas o diretor acabou optando por literalmente limá-la de cena em determinado momento para então Murphy brilhar com seu característico par de olhos que para muitos vende a impressão de que o ator é ideal para tipos bizarros ou psicopatas. Pelos grandes personagens que ele interpretou, podemos dizer que finalmente o rapaz ganhou a chance de viver um bom moço e longe de qualquer característica gritante que denunciasse algum desvio de personalidade. Bem, logo no início Buckley, em meio a um bate-papo descontraído envolvendo uma brincadeira com mágica, afirma que o grande truque dos ilusionistas é fazer sutilmente com que seu público desvie sua atenção do alvo central sem perceber e é assim que Cortés conduz este longa, apostando em reviravoltas e em pequenos detalhes em busca de um final impactante, mas que poderia ser percebido antecipadamente.

A conclusão deste suspense, para variar, é o calcanhar de Aquiles para muitos, embora faça sentido se pensarmos nas intenções lúdicas do diretor impostas de maneiras sutis logo nos minutos iniciais. Para não deixar dúvidas de que não criou nada mirabolante no final das contas, Cortés até adiciona no fechamento um rápido flashback compilando cenas que justificam o fim. Todas as pistas estavam sendo expostas pouco a pouco, mas apenas uma minoria certamente consegue percebê-las quando inebriados pelo clima de mistério. Nessa hora não damos a devida atenção a detalhes reais, preferindo a expectativa de que a qualquer momento algo surpreendente irá acontecer. Poder Paranormal aparentemente nunca teve o objetivo de ser uma produção avassaladora, apenas uma distração razoável como tantas outras produzidas todos os anos. Porém, seu título tem certo peso diante do fascínio que o tema da paranormalidade causa e quem se sente atraído espera muito mais argumentos para continuar acreditando ou questionando os fenômenos sobrenaturais. O longa fica em cima do muro quanto a isso apresentando uma trama que procura incitar algum tipo de polêmica, como a exposição dos videntes como se fossem pastores evangélicos, mas acaba caindo em clichês, como na sequência em que Buckley quase atropela uma senhora e ela lhe aponta o dedo acompanhado de um olhar ameaçador só para causar um impacto instantâneo que não leva a trama a lugar algum. Dessa forma, este é um daqueles típicos produtos para dar suporte as locadoras quando a safra de oriundos do cinema está fraca. O filme faz sucesso quando lançado, mas está fadado a juntar pó na prateleira até que alguém que perca sua exibição na TV ou graças a lábia de algum atendente ou dica de conhecido. Todavia, este é um filme B que está longe de ser dos piores. Além da primeira metade ser extremamente interessante e garfar a atenção com um clima propício e levantando questões que satisfazem as vontades do público, o longa se segura sobre os alicerces do elenco. Murphy se esforça para que seu natural ar perturbador não comprometa sua função de mocinho da fita enquanto Sigourney encara com profissionalismo um papel que tinha tudo para ser grande, mas é consideravelmente diminuído talvez pelo baixo poder de fogo de seu nome atualmente, algo que também acontece com De Niro. É triste, mas aquele boato de que não há bons papéis disponíveis no cinema para intérpretes mais velhos parece ser real, salvo raras exceções. Os produtores se aproveitam dos currículos dos veteranos para aumentar o status de seus trabalhos e os atores, por sua vez, acabam aceitando qualquer papel para negarem a aposentadoria. Bem, infelizmente é preciso constatar que alguns momentos de De Niro neste longa acabam sendo indignos para seu porte, mas de qualquer forma o longa deixa alguma mensagem, basta saber interpretar.

Suspense - 113 min - 2012

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