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segunda-feira, 4 de abril de 2016

SUBMERSOS

NOTA 7,5
Apesar dos vários clichês,
longa se beneficia de
atmosfera claustrofóbica e
de situações limites
Muitos reclamam da qualidade e do artificialismo dos filmes atualmente, principalmente por conta da exagerada atenção dada aos efeitos especiais que em alguns casos podem detonar negativamente uma produção, todavia, o público ainda comparece em peso nos cinemas para ver obras do tipo e inconscientemente acabam por prejudicar trabalhos excepcionais e relativamente simples que acabam ficando sem espaço para exibição. Contudo, tal problema não é algo recente. Anualmente centenas de filmes de qualidade têm passagens relâmpagos ou sequer estréiam nos cinemas, chegam as locadoras timidamente, mas acabam encontrando espaço na TV para serem repetidos aos montes, porém, alguns sofrem com o fantasma do ostracismo em todos os caminhos que um longa-metragem teoricamente deveria percorrer, inclusive na telinha, como é o caso de Submersos, um eficiente suspense que tinha tudo para agradar uma parcela considerável de público, mas que no final das contas continua praticamente desconhecido até hoje. A ideia original é do cultuado Darren Aronofsky, de Réquiem Para um Sonho, que desejava unir suspense e aventura de guerra em um mesmo trabalho, este que seria o segundo com sua assinatura como diretor. No final das contas ele passou o cargo para David Twohy, de Eclipse Mortal, outro filme de carreira fracassada. Ambos dividiram os créditos como roteiristas, mas nem o nome de Aronofsky nos créditos, também como produtor, salvou a produção de submergir no limbo. Por outro lado, também não pode ser considerado um fracasso retumbante simplesmente porque não houve esforços para transformá-lo em um sucesso. Na época de seu lançamento, sem campanha alguma nos EUA e diretamente para locação no Brasil, ainda o público estava extasiado com o fenômeno de obras com conteúdo sobrenatural e psicológico como O Sexto Sentido Os Outros e estava na moda filmes sobre conflitos envolvendo submarinos e guerra como K-19 – The Windowmaker U-571 – A Batalha do Atlântico, assim o momento parecia propício para aproximar as duas temáticas em uma mesma obra, mas a predileção do público em geral pelo lixão hollywoodiano provavelmente pesou mais na hora dos executivos da produtora e da distribuidora pensarem no lançamento, assim preferiram poupar gastos com a divulgação de um suspense diferenciado que realmente não traz nenhuma cena de grande impacto que pudesse ser usada de forma isolada na publicidade. O medo aqui é crescente e depende da cadência de emoções, ou seja, da atenção dedicada ao enredo.

Vencedor do Prêmio de Melhor Filme no Fantasporto 2003 (um tipo de Oscar destinado aos filmes que usam elementos fantásticos como matéria-prima), a trama se passa em meio a Segunda Guerra Mundial, mais especificamente em 1943, quando um submarino americano recebe ordens de mudar o seu curso para resgatar sobreviventes de um navio-hospital inglês que pode ter sido alvo de um ataque de alemães. Apenas três pessoas são resgatadas com vida, entre elas a enfermeira Claire Paige (Olivia Willians), que poderia ser vista pela tripulação de resgate com olhos maliciosos por ser a única mulher a bordo, mas a reação é oposta. Segundo a tradição marítima, ter uma dama a bordo é sinal de mau agouro e coincidência ou não, após a chegada da jovem, coisas estranhas começam a acontecer dentro do submarino e o pânico toma conta da tripulação, principalmente depois que percebem que o capitão sumiu de repente. Seu substituto pela ordem hierárquica é o oficial Brice (Bruce Greenwood) que tenta afastar a ideia de que algo sobrenatural esteja acontecendo, mas ao que tudo indica sabe muito mais do que o esclarecido à tripulação. Aos poucos a verdade sobre o sumiço do capitão vem a tona à medida que alguns tripulantes passam a demonstrar rebeldia quanto as ordens e o comportamento do seu suplente, contudo, esse clima de tensão só tende a crescer. Além de tentarem fugir de um navio que parece ser inimigo e que está perseguindo-os, eles precisam enfrentar forças ocultas que a princípio alertam sobre os perigos da viagem, mas não demoram a transformá-la em um pesadelo. O horror começa a se instalar quando uma vitrola começa a tocar um disco do nada em um momento típico desse tipo de produção em que todos deviam estar estrategicamente em silêncio. Depois falhas mecânicas passam a ocorrer, o submarino é atacado por cargas de profundidade e algumas pessoas passam a ter visões estranhas ou morrerem em acidentes misteriosos. Para completar, o submarino não está conseguindo emergir à superfície, assim o oxigênio está acabando e o gás carbônico gerado pelos motores passa a tomar conta do interior do veículo correndo o risco de entorpecer a todos. Por estas informações, fica claro que o longa consegue provocar bons sustos repetindo velhas fórmulas como o uso da câmera tremida e os efeitos sonoros inseridos em momentos estratégicos e com volume alguns tons acima dos diálogos, além é claro da exploração bem-sucedida do ambiente claustrofóbico que o título já deixa explícito. Contudo, não espere ter aqui os repetitivos sustos visuais de produções que mexem com coisas do além. Bem, pelo menos não tantos quanto estamos acostumados.

Quem pensa que este é um filme que nada mais é que uma variação do que se pode acompanhar em uma trama sobre casa mal-assombrada, por exemplo, se engana. Apesar de alguns sustos previsíveis e do clímax do suspense ser dissolvido bem antes do final, a atmosfera claustrofóbica construída graças aos ótimos trabalhos de cenografia, iluminação e fotografia são sem dúvidas os grandes trunfos do longa e ajudam a prender a atenção. Twohy aproveita muito bem seu espaço cênico limitado usando angulações de câmera inteligentes e aumenta a tensão ao conseguir deixar o mínimo de luz possível iluminando os personagens em boa parte das cenas. Outro ponto de destaque é a condução da história que evita a violência, a bizarrice e o sangue explícito. Os elementos sobrenaturais são introduzidos aos poucos e chegam a ser tão sutis que podem às vezes passar despercebidos pelos olhares mais dispersos (talvez o motivo que levaram seus realizadores a desistirem de fazer um lançamento digno já pensando que teriam dificuldades para convencer o público em massa sem contar com artifícios de fácil assimilação). Todavia o roteiro, como já dito, derrapa ao revelar boa parte dos segredos ainda com um tempo considerável de narrativa pela frente, assim perde-se a chance de explorar mais a grande dúvida do longa: todos os estranhos acontecimentos tem realmente relação com algo sobrenatural envolvendo o passado do submarino ou de seus tripulantes ou são apenas alucinação provocadas pelo estresse diante de situações de extremas dificuldades? Mesmo não sendo uma obra-prima do suspense, Submersos cumpre seus objetivos dignamente. Algumas das poucas pessoas que o viram até o tacham como um legítimo filme B, mas fora seu orçamento modesto ele engana bem como produto de primeira, principalmente pelo ar de novidade que carrega em meio a tantas ideias capengas que são requentadas inúmeras vezes. Uma pena que hoje em dia é um título fora de catálogo, mas uma boa locadora deve ter esta pérola (no bom sentido) em seu acervo com toda a certeza.

Suspense - 105 min - 2002 

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