NOTA 3,0 Cameron Diaz interpreta professora de caráter duvidoso em comédia com piadas previsíveis e tolas |
Todos os dias é muito comum verificarmos que os alunos não
respeitam mais os professores, estes que cada vez mais se sentem diminuídos e
pressionados. Não é apenas a falta de educação verbal das crianças e
adolescentes com os educadores que nos impressionam, mas a situação chegou a
tal ponto que as agressões tornaram-se físicas também. Ei, melhor parar por
aqui afinal de contas este texto não é sobre um filme no qual um professor vai
enfrentar todos os obstáculos para tentar recuperar uma turma problemática.
Pelo contrário, em Professora sem Classe é a própria educadora que é um mau
exemplo. Ou ela seria o sonho de qualquer aluno? Cameron Diaz vive a
protagonista desta comédia de humor negro que coloca no centro das atenções uma
mulher que não é um modelo de boa profissional e também deixa muito a desejar
como pessoa. Ela não é surreal apenas por sua beleza e corpo esguio, mas também
por sua incrível e duvidosa habilidade em lidar com os alunos. Este é o perfil
Elizabeth Halsey, uma balzaquiana que passou a vida toda correndo atrás de
parceiros milionários para conseguir vida fácil e com todas as regalias
possíveis. Apesar disso, profissão ela tem. É professora, mas simplesmente odeia
o que faz. Assim, toda vez que encontra um parceiro do jeito que sonhou
abandona seu emprego sem pensar duas vezes, mas quando seu último golpe é
descoberto e o relacionamento desfeito ela precisa voltar a lecionar em um
colégio tradicionalista. Desbocada, trambiqueira e preguiçosa, ela acaba
empurrando com a barriga o trabalho. Seu grande objetivo é aguentar a rotina
monótona até conseguir o dinheiro necessário para fazer uma cirurgia de aumento
de seios acreditando que assim o próximo pretendente não lhe escaparia. Para
sua sorte a vítima do próximo golpe vem do lugar que ela menos esperava: o
próprio colégio. O novo professor de matemática, Scott Delacorte (Justin
Timberlake), além de bonito e simpático é um rico herdeiro que por incrível que
pareça gosta e faz questão de trabalhar. O homem perfeito para Elisabeth, mas o
rapaz não parece ser facilmente seduzível e até uma concorrente entra na jogada,
a professora Amy (Lucy Punch), que é apenas um pouco mais ajuizada que a rival,
mas tão pentelha quanto.
Roteirizado por Gene Stupnitsky e Lee Eisenberg, dupla responsável
pela série de TV “The Office“, a história realmente tem bons momentos seguindo
o caminho do humor negro no estilo de Se Beber Não Case, mas neste caso usado
de forma não muito eficiente. Do início ao fim temos inúmeras piadas de mau
gosto desfilando pela tela, embora algumas sejam realmente bem divertidas, e
personagens nada convencionais em cena, assim é de se estranhar que Cameron
tenha aceitado um papel do tipo, um perfil que cairia muito melhor a uma modelo
aspirante a atriz. Bem, pelo menos o esforço exigido para viver a tal
professora aloprada já não é mais digno ao patamar da carreira que chegou. Por
outro lado, podemos encarar a produção como um veículo para a estrela se
desvencilhar do carma da mocinha sonhadora e romântica que a persegue afinal Cameron
já era quase uma quarentona na época das filmagens. O diretor Jake Kasdan, de Um
Elenco do Barulho, resolveu premiá-la com o papel de uma mulher que se esqueceu
de crescer e vive como uma eterna adolescente irresponsável. Algumas de suas
cenas são apelativas, como a que mostra ela lavando carros brincando com a
mangueira, bem ao estilo das garotas de comédias do tipo American Pie, mas
outras até são bem boladas, como as várias vezes em que passa filmes aos alunos
enquanto tira uma soneca em plena sala de aula. Ela leva a sério a frase
“cinema é cultura”. E olha que professores adeptos do mesmo pensamento existem
aos montes. Enfim, o humor reside justamente em explorar ao máximo o
comportamento transviado daquela que deveria ser um exemplo as novas gerações
que vão consertar ou manter a sociedade no futuro. Provável que os alunos sejam
bem mais ingênuos e recatados que a própria educadora. Estamos acostumados que
em produções comerciais o politicamente correto seja mantido até certa altura
da narrativa, abrindo espaço no ato final para que as convenções tomem conta do
pedaço e transformem o anarquismo em disciplina, porém, Kasdan optou por não
regenerar sua protagonista. Embora ensaie o arrependimento da moça por tudo de
errado que fez, ele volta atrás e a mantém com a personalidade e o
comportamento praticamente intactos.
Por não sofrer transformações, a protagonista acaba ficando
enfraquecida ao longo da trama e deixando o terreno aberto para os coadjuvantes
brilharem, como a sua rival. Lucy Punch tem uma participação considerável e
encontrou aqui a chance de se livrar do estigma de ser aquele rosto conhecido
de tantos filmes, mas cujo nome ninguém sabe. Pena que não aproveitou a
oportunidade ou os roteiristas é que foram infelizes com suas cenas que
limitaram a atriz a construir uma personagem chata e por vezes histérica. Já Timberlake
arrisca e até acerta fugindo do estereótipo do galã. Com um papel de rapaz
fútil e beirando a imbecilidade, ele só consegue seduzir mesmo as mocinhas da
fita, mas se o que elas querem é sexo, ele não é a melhor opção como deixa
claro em uma sequência estapafúrdia com Cameron na cama. Por fim, temos Jason
Segel como um pacato professor de educação física, embora aparente estar acima
do peso e não musculoso, de longe o tipo mais normal entre a fauna deste
colégio. Por essas e outras, Professora
sem Classe é um produto que divide opiniões. Alguns o apontam como um produto
singular e divertido e outros demonstram verdadeira ojeriza diante de tantas
cenas apelativas tanto no visual quanto no conceito e diálogos. Todavia, o
longa tem o mérito (ou o demérito dependendo do ponto de vista) de ser ousado e
brincar com a figura do professor, profissional colocado em um pedestal constantemente
em obras edificantes. Ao Mestre com Carinho marcou época e inúmeros filmes
semelhantes foram e ainda são lançados anualmente sempre colocando o educador
como amigo dos alunos, mesmo que eles sejam indisciplinados e até
desrespeitosos. No fim ele sempre dá um jeito na turma e coloca a todos no
caminho do bem. Vendo por este ângulo, é até bom que Kasdan não tenha feito
sucesso com seu filme, pois poderia ter provocado a ira dos profissionais da
classe que se sentiriam ofendidos e com seu trabalho achincalhado. Quem se
propor a ver esta comédia não pode ser tão radical a ponto de enxergar uma
crítica ácida ou jocosa no enredo. Simplesmente relaxe e permita-se a dar
algumas boas risadas. Certamente em pouco tempo você terá esquecido o que viu.
Comédia - 92 min - 2011
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