NOTA 7,0 Refilmagem procura manter o clima obscuro e o tom de humor da obra original, mas efeitos especiais prejudicam |
Em uma época em que o produto
filme é tratado praticamente como um lixo até mesmo por aqueles que se dizem
cinéfilos de carteirinha ou pode ser comparado a uma refeição de restaurante
fast food que tem tempo cronometrado de validade e, diga-se passagem, uma vida
útil bem curta, recorrer aos remakes infelizmente parece ser a única maneira de
fazer com que as novas gerações conheçam produções de sucesso do passado. Os
produtores de cinema, até pela falta de bons roteiros no mercado, acabam
recorrendo ao túnel do tempo em busca de enredos que marcaram época acreditando
que com um título famoso em mãos o sucesso é garantido, mas é certo que nas
comparações entre o original e a refilmagem o precursor geralmente sai ganhando
e a nova versão passa a ser alvo de críticas negativas afinal o primeiro é
novidade, o que vem depois é mais do mesmo. O público provavelmente já devia
estar cansado de decepções com remakes e por isso não deu muita bola para a
segunda versão de A Hora do Espanto, clássico de terror dos anos 80 que conseguiu
se destacar em meio a tantas produções sanguinolentas da época justamente por
causar impacto nas plateias muito mais por sugestionar o medo do que o
escancarando por completo. Nem mesmo a publicidade que a refilmagem chegaria
aos cinemas em versão 3D fez o público se entusiasmar a sair de casa, tanto que
no Brasil o longa teve uma passagem relâmpago e vergonhosa pelas salas de
exibição e nem mesmo em solo americano fez barulho. Será que as pessoas já
estavam calejadas de remakes duvidosos ou felizmente perceberam que os efeitos
tridimensionais é apenas uma trucagem dos estúdios para roubar alguns trocados
a mais de seus bolsos? Bem, realmente os efeitos em três dimensões neste caso
são péssimos e nas versões comuns acabam estragando sequências inteiras pelo
toque de artificialidade que conferem a elas. Por outro lado, é uma pena que
alguns até hoje não tenham visto a recriação de Craig Gillespie, cineasta que
despontou com a comédia dramática A
Garota Ideal. Sua versão para este marco do terror não é tão boa quanto a
original, mas passa longe de ser uma decepção total simplesmente porque ele
tinha consciência de que este trabalho não poderia almejar ser mais do que o
original foi: um delicioso “terrir”. Assim o diretor combinou diversão e tensão
em doses generosas, uma mistura que parece que o cinema de horror descartou
hoje em dia, mas precisou abrir mão do teor sexual que continha no primeiro
filme afinal foi uma das empresas do grupo Disney que financiou o projeto. Todavia,
ainda assim a obra não é açucarada, pelo contrário, conta com um delicioso
clima sedutor sem precisar exibir nudez ou cenas constrangedoras. Além disso o
tom de suspense foi mantido graças ao empenho da equipe cenográfica e de
fotografia que capricharam para manter uma aura de mistério a cada novo take.
O protagonista é o jovem Charley
(Anton Yelchin), um rapaz que no momento só tem olhos para sua namorada Amy
(Imogen Poots), assim ele não presta muita atenção nas conversas do amigo de
infância Ed (Christopher Mintz-Plasse), este que insiste que o novo vizinho
dele é um vampiro e que já sumiu com várias pessoas da região. Jerry Dandridge
(Colin Farrell) aparenta ser um quarentão com pinta de galã que tem uma lábia
especial para conquistar mulheres justamente por sua vida ser envolta em
mistérios e nem mesmo Jane (Toni Collette), a mãe de Charley, acredita que ele
possa fazer mal a alguém. Porém, quando Ed desaparece, seu amigo começa a ficar
mais atento as atitudes do vizinho, mas sua cisma acaba colocando todos a sua
volta em perigo. Sua única salvação parece ser Peter Vincent (David Tennant),
um famoso especialista sobre o mundo sobrenatural, todavia, o rapaz acaba se
mostrando uma farsa criada para fazer espetáculos de ilusionismo, mas já é
tarde demais e ele também pode ser uma das próximas vítimas de Jerry e seu
bando de sanguessugas. A adaptação feita do texto original pelo roteirista
Marti Noxon, responsável por alguns episódios do antigo seriado “Buffy – A Caça
Vampiros”, preserva a combinação de comédia e horror tão característica das
produções do tipo dos anos 80, mas algumas adaptações foram feitas para
conectar a história aos novos tempos. Para quem viu o primeiro filme, a
diferença mais gritante é que neste caso não há espaço para criar dúvidas sobre
a índole do personagem Jerry. Pelo fato da história já ser conhecida
praticamente por todo mundo, Noxon preferiu não perder tempo e ir logo ao que
interessa, assim temos muito mais cenas interessantes para nos divertir e roer
as unhas com as caras e bocas de Farrell que claramente se diverte no papel que
lhe permite exibir toda o seu sex appeal, ainda que não atinja o mesmo nível de
sedução de Chris Sarandon na versão original, até porque o envolvimento que
existia entre o vampiro e a vizinha quarentona foi limado da nova versão. Com
isso, o mito de que um chupador de sangue só poderia entrar em uma casa quando
fosse convidado acaba perdendo força e gerando uma bizarra cena na qual Jerry
simplesmente explode a casa do protagonista para poder chegar até as suas
vítimas. Aliás, pouco depois desta parte, temos uma eletrizante perseguição de
carros, porém, arruinada pela técnica do 3D que acaba comprometendo também a
apreciação em 2D , mas ela vale a pena pela participação especial do próprio
Sarandon, uma ex-promessa de Hollywood que dessa forma ganha uma homenagem
simplória.
Os vampiros sempre foram uma
grande inspiração para a sétima arte e suas imagens já sofrem várias
modificações, sendo assim necessário de tempos em tempos resgatar seu espírito
original. É aí que fica o grande mérito desta iniciativa arriscada de
Gillespie. Já estava na hora de resgatar a essência destas criaturas
sanguinolentas, vê-las queimando quando expostas a luz solar e sendo ameaçadas
com estacas no peito e água-benta, imagens bem distantes dos românticos
dentuços e pálidos que a saga Crepúsculo deixou como referência para as
primeiras gerações do século 21. E não é só Farrell quem dá as caras como
vampiro. Na reta final uma legião de semimortos com dentes pontudos surgem para
atacar Charley e Peter, este outro personagem que recebeu significativas
mudanças em sua personalidade e visual que em nada lembram ao velhinho medroso
interpretado por Roddy McDowall anteriormente, tudo graças ao talento do
irreverente Tennant. Também vale um destaque para a atuação de Mintz-Plasse.
Quem? Certamente você já o viu interpretando um tipo nerd em algum filme bobo
por aí e logo no primeiro minuto vai ter pelo menos uma leve lembrança disso,
pois novamente ele vive um adolescente metido a espertinho. O bacana é que ele
volta para o ato final de maneira surpreendente, muito graças a um trabalho
especial de maquiagem que também transforma completamente a insossa personagem
Amy. Eita, spoiler! Ah, mas alguém duvidaria que algumas pessoas mais próximas
do protagonista não seriam transformadas em vampiros para criar a sugestiva
dúvida dele estar matando uma criatura do mal ou alguém a quem ele quer bem? A
nova versão de A Hora do Espanto, que felizmente descartou qualquer menção as
suas desnecessárias continuações, é em geral um produto que oferece um
entretenimento razoável e que não merece todo o desprezo que aparentemente
desperta. Em uma época em que para os adolescentes
parece não haver limites, nada mais espanta e o amadurecimento é precoce, vale
a pena resgatar a memória de um tempo em que um jovem tinha conflitos a serem
resolvidos a respeito de crenças, credibilidades, responsabilidades, anseios e
desejavam ser ouvidos por adultos. Talvez por isso qualquer protagonista
juvenil dos anos 80 ainda pareça muito mais interessante e crível que qualquer
personagem da mesma idade hoje em dia. Todavia, mesmo se esforçando, a dupla Gillespie
e Noxon não conseguiu trazer completamente o clima oitentista para os dias
atuais afinal os tempos mudaram e por mais que tenham procurado fazer
adaptações algumas escorregadelas ocorreram como, por exemplo, a ausência de
explicações para justificar o que impede Charlie e Amy de “avançarem o sinal”.
Se antigamente assistir um filminho de terror no aconchego do lar era uma
desculpa e tanto para casaizinhos de adolescentes aprontarem as escondidas hoje
ela é desnecessária afinal as famílias se modernizaram, para o bem ou para o
mal, assim como o cinema. De qualquer forma, principalmente aos nostálgicos, é uma boa opção
ainda mais se der para fazer uma sessão dupla e assistir ou rever o clássico de
1985.
Terror - 106 min - 2011
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