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sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A HORA DO ESPANTO (2011)

NOTA 7,0

Refilmagem procura manter
o clima obscuro e o tom de
humor da obra original, mas
efeitos especiais prejudicam
Em uma época em que o produto filme é tratado praticamente como um lixo até mesmo por aqueles que se dizem cinéfilos de carteirinha ou pode ser comparado a uma refeição de restaurante fast food que tem tempo cronometrado de validade e, diga-se passagem, uma vida útil bem curta, recorrer aos remakes infelizmente parece ser a única maneira de fazer com que as novas gerações conheçam produções de sucesso do passado. Os produtores de cinema, até pela falta de bons roteiros no mercado, acabam recorrendo ao túnel do tempo em busca de enredos que marcaram época acreditando que com um título famoso em mãos o sucesso é garantido, mas é certo que nas comparações entre o original e a refilmagem o precursor geralmente sai ganhando e a nova versão passa a ser alvo de críticas negativas afinal o primeiro é novidade, o que vem depois é mais do mesmo. O público provavelmente já devia estar cansado de decepções com remakes e por isso não deu muita bola para a segunda versão de A Hora do Espanto, clássico de terror dos anos 80 que conseguiu se destacar em meio a tantas produções sanguinolentas da época justamente por causar impacto nas plateias muito mais por sugestionar o medo do que o escancarando por completo. Nem mesmo a publicidade que a refilmagem chegaria aos cinemas em versão 3D fez o público se entusiasmar a sair de casa, tanto que no Brasil o longa teve uma passagem relâmpago e vergonhosa pelas salas de exibição e nem mesmo em solo americano fez barulho. Será que as pessoas já estavam calejadas de remakes duvidosos ou felizmente perceberam que os efeitos tridimensionais é apenas uma trucagem dos estúdios para roubar alguns trocados a mais de seus bolsos? Bem, realmente os efeitos em três dimensões neste caso são péssimos e nas versões comuns acabam estragando sequências inteiras pelo toque de artificialidade que conferem a elas. Por outro lado, é uma pena que alguns até hoje não tenham visto a recriação de Craig Gillespie, cineasta que despontou com a comédia dramática A Garota Ideal. Sua versão para este marco do terror não é tão boa quanto a original, mas passa longe de ser uma decepção total simplesmente porque ele tinha consciência de que este trabalho não poderia almejar ser mais do que o original foi: um delicioso “terrir”. Assim o diretor combinou diversão e tensão em doses generosas, uma mistura que parece que o cinema de horror descartou hoje em dia, mas precisou abrir mão do teor sexual que continha no primeiro filme afinal foi uma das empresas do grupo Disney que financiou o projeto. Todavia, ainda assim a obra não é açucarada, pelo contrário, conta com um delicioso clima sedutor sem precisar exibir nudez ou cenas constrangedoras. Além disso o tom de suspense foi mantido graças ao empenho da equipe cenográfica e de fotografia que capricharam para manter uma aura de mistério a cada novo take.

O protagonista é o jovem Charley (Anton Yelchin), um rapaz que no momento só tem olhos para sua namorada Amy (Imogen Poots), assim ele não presta muita atenção nas conversas do amigo de infância Ed (Christopher Mintz-Plasse), este que insiste que o novo vizinho dele é um vampiro e que já sumiu com várias pessoas da região. Jerry Dandridge (Colin Farrell) aparenta ser um quarentão com pinta de galã que tem uma lábia especial para conquistar mulheres justamente por sua vida ser envolta em mistérios e nem mesmo Jane (Toni Collette), a mãe de Charley, acredita que ele possa fazer mal a alguém. Porém, quando Ed desaparece, seu amigo começa a ficar mais atento as atitudes do vizinho, mas sua cisma acaba colocando todos a sua volta em perigo. Sua única salvação parece ser Peter Vincent (David Tennant), um famoso especialista sobre o mundo sobrenatural, todavia, o rapaz acaba se mostrando uma farsa criada para fazer espetáculos de ilusionismo, mas já é tarde demais e ele também pode ser uma das próximas vítimas de Jerry e seu bando de sanguessugas. A adaptação feita do texto original pelo roteirista Marti Noxon, responsável por alguns episódios do antigo seriado “Buffy – A Caça Vampiros”, preserva a combinação de comédia e horror tão característica das produções do tipo dos anos 80, mas algumas adaptações foram feitas para conectar a história aos novos tempos. Para quem viu o primeiro filme, a diferença mais gritante é que neste caso não há espaço para criar dúvidas sobre a índole do personagem Jerry. Pelo fato da história já ser conhecida praticamente por todo mundo, Noxon preferiu não perder tempo e ir logo ao que interessa, assim temos muito mais cenas interessantes para nos divertir e roer as unhas com as caras e bocas de Farrell que claramente se diverte no papel que lhe permite exibir toda o seu sex appeal, ainda que não atinja o mesmo nível de sedução de Chris Sarandon na versão original, até porque o envolvimento que existia entre o vampiro e a vizinha quarentona foi limado da nova versão. Com isso, o mito de que um chupador de sangue só poderia entrar em uma casa quando fosse convidado acaba perdendo força e gerando uma bizarra cena na qual Jerry simplesmente explode a casa do protagonista para poder chegar até as suas vítimas. Aliás, pouco depois desta parte, temos uma eletrizante perseguição de carros, porém, arruinada pela técnica do 3D que acaba comprometendo também a apreciação em 2D , mas ela vale a pena pela participação especial do próprio Sarandon, uma ex-promessa de Hollywood que dessa forma ganha uma homenagem simplória.

Os vampiros sempre foram uma grande inspiração para a sétima arte e suas imagens já sofrem várias modificações, sendo assim necessário de tempos em tempos resgatar seu espírito original. É aí que fica o grande mérito desta iniciativa arriscada de Gillespie. Já estava na hora de resgatar a essência destas criaturas sanguinolentas, vê-las queimando quando expostas a luz solar e sendo ameaçadas com estacas no peito e água-benta, imagens bem distantes dos românticos dentuços e pálidos que a saga Crepúsculo deixou como referência para as primeiras gerações do século 21. E não é só Farrell quem dá as caras como vampiro. Na reta final uma legião de semimortos com dentes pontudos surgem para atacar Charley e Peter, este outro personagem que recebeu significativas mudanças em sua personalidade e visual que em nada lembram ao velhinho medroso interpretado por Roddy McDowall anteriormente, tudo graças ao talento do irreverente Tennant. Também vale um destaque para a atuação de Mintz-Plasse. Quem? Certamente você já o viu interpretando um tipo nerd em algum filme bobo por aí e logo no primeiro minuto vai ter pelo menos uma leve lembrança disso, pois novamente ele vive um adolescente metido a espertinho. O bacana é que ele volta para o ato final de maneira surpreendente, muito graças a um trabalho especial de maquiagem que também transforma completamente a insossa personagem Amy. Eita, spoiler! Ah, mas alguém duvidaria que algumas pessoas mais próximas do protagonista não seriam transformadas em vampiros para criar a sugestiva dúvida dele estar matando uma criatura do mal ou alguém a quem ele quer bem? A nova versão de A Hora do Espanto, que felizmente descartou qualquer menção as suas desnecessárias continuações, é em geral um produto que oferece um entretenimento razoável e que não merece todo o desprezo que aparentemente desperta. Em uma época em que para os adolescentes parece não haver limites, nada mais espanta e o amadurecimento é precoce, vale a pena resgatar a memória de um tempo em que um jovem tinha conflitos a serem resolvidos a respeito de crenças, credibilidades, responsabilidades, anseios e desejavam ser ouvidos por adultos. Talvez por isso qualquer protagonista juvenil dos anos 80 ainda pareça muito mais interessante e crível que qualquer personagem da mesma idade hoje em dia. Todavia, mesmo se esforçando, a dupla Gillespie e Noxon não conseguiu trazer completamente o clima oitentista para os dias atuais afinal os tempos mudaram e por mais que tenham procurado fazer adaptações algumas escorregadelas ocorreram como, por exemplo, a ausência de explicações para justificar o que impede Charlie e Amy de “avançarem o sinal”. Se antigamente assistir um filminho de terror no aconchego do lar era uma desculpa e tanto para casaizinhos de adolescentes aprontarem as escondidas hoje ela é desnecessária afinal as famílias se modernizaram, para o bem ou para o mal, assim como o cinema. De qualquer forma, principalmente aos nostálgicos, é uma boa opção ainda mais se der para fazer uma sessão dupla e assistir ou rever o clássico de 1985.  

Terror - 106 min - 2011

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