NOTA 8,5 Biografia acompanha um curto período da vida da estrela, mas o suficiente para revelar a Marilyn real |
Hoje se comemora o Dia Internacional da Mulher e nada melhor
que lembrar uma atriz que se tornou não só um símbolo sexual, mas também deixou
sua marca no cinema, mesmo com uma breve carreira, e com seu visual exuberante
permanece com sua imagem viva até hoje no imaginário coletivo. Todavia, quem espera assistir Sete Dias com
Marilyn e se deparar com uma bela e merecida homenagem ao mito Miss Monroe
regada à clichês pode se decepcionar com o resultado, a começar pelo fato da
fita não se limitar a apenas endeusá-la, mas ceder espaço para desconstruir sua
imagem de mulher perfeita. Apesar de intitular a produção, a diva não é a
protagonista da trama na realidade. A vaga de personagem principal é ocupada
por um homem, um apaixonado pela estrela que sonhou em trabalhar ao seu lado,
mas conseguiu mais que isso e participou da vida íntima de sua musa e registrou
as memórias desses momentos no livro “Minha Semana com Marilyn”, na tradução
literal. O autor, o jovem Colin Clark (Eddie Redmayne), narra sua visão da
mulher que existiu atrás do mito, longe dos holofotes e da imprensa. Através de
seus escritos, adaptados pelo roteirista Adrian Hodges, além de relembrarmos o
furacão que ela era em sua vida pública, temos a possibilidade de conhecer a
fragilidade e insegurança desta atriz que ao mesmo tempo era temperamental e
intensa em altíssimos graus. Coube à requisitada Michelle Williams o dever de
interpretar esse ícone de Hollywood e ela não decepcionou, sendo indicada ao
Oscar e vencendo o Globo de Ouro de atriz em comédia, mas não se engane, os
risos são poucos. A veia dramática é que rege a narrativa. Em meados dos anos
50, sentindo-se deslocado em sua própria família, diga-se passagem, com posses
e bastante refinada, Clark decide partir para Londres ao descobrir que o ator e
diretor Laurence Olivier (Kenneth Branagh) estava para começar a pré-produção
de um novo filme, O Príncipe Encantado. Estar perto dos astros do cinema sempre
foi o desejo do jovem e para tanto ele aceita o cargo de um dos assistentes do
diretor, tudo para ficar o mais próximo possível da estrela da fita, a sedutora
Marilyn Monroe que na época estava aproveitando a lua-de-mel com seu novo
marido, o terceiro, o dramaturgo Arthur Miller (Dougray Scott).
Conforme o tempo passa e as filmagens avançam, Clark
consegue se aproximar de sua musa e participar de sua intimidade, descobrindo
que existe uma mulher comum por trás de todo glamour que exala sob os holofotes
e flashs. Quando seu marido viaja, Marilyn fica na Inglaterra e passa a
aproveitar a semana na companhia de Clark, este que a ajuda a aproveitar os
bons momentos da vida sem se preocupar com o trabalho ou assédio das pessoas,
mas nem por isso ela deixa de ter seus minutos de raiva ou insegurança.
Eternizada como um símbolo sexual, a Marilyn que encontramos neste filme
dirigido por Simon Curtis é bem diferente da imagem que guardamos na memória de
seus filmes e aparições públicas e mais próxima da mulher descrita nas inúmeras
biografias lançadas sobre a estrela platinada, tanto as oficiais quanto as
proibidas. O longa consegue humanizar o mito mostrando uma jovem insegura,
carente, volátil, triste e dependente de remédios para depressão, ainda que
estivesse com trinta e poucos anos de idade na época. Ao mesmo tempo em que seu
número de fãs aumentava a cada dia, na mesma proporção subia o percentual de
inimigos que fazia nos sets de filmagens graças a sua insegurança e constantes
atrasos que acabavam por atrasar todos os trabalhos das equipes de cinema. Fora
isso, ela ainda trazia seus problemas pessoais para o trabalho e vice-versa,
vivendo a beira de uma crise de nervos quase que em tempo integral. Contudo,
Olivier não desistia e continuava tentando adaptá-la ao seu ritmo e estilo de
trabalho, além de procurar livrá-la da dependência que sentia das instruções e
observações de sua consultora particular Paula Strasberg (Zoë Wanamaker), ajuda
que mais lhe atrapalhava que colaborava. Mas o show é mesmo de Michelle
Williams que encarnou a estrela com perfeição, ainda que muitos criticassem a
escolha para o papel devido ao tipo físico da atriz e suas feições não serem
semelhantes. Todavia, reproduzindo as expressões e trejeitos da homenageada,
ela consegue capturar as atenções de forma que não conseguimos parar para
pensar em detalhes físicos. A loira sedutora de clássicos como Quanto Mais
Quente Melhor está novamente em cena inquestionavelmente.
Embora o roteiro busque firmar a relação amorosa entre
Marilyn e Clark como ponto principal, é fato que tal gancho não é tão
empolgante e envolvente quanto a oportunidade de acompanharmos a reconstituição
dos bastidores de um filme, que realmente foi lançado, não é ficção, e a
recriação de uma época tão fascinante quanto a década de 1950. Podemos ao menos
ter uma noção de quem foi o famoso Laurence Olivier, um dos atores que mais
vezes e das melhores maneiras interpretou personagens clássicos criados pelo
escritor William Skakespeare, um paralelo interessante e que justifica a
escalação de Branagh para o papel, ator contemporâneo que também é apaixonado
pelos textos do dramaturgo e que fez sucesso com algumas destas adaptações para
o cinema nas décadas de 1980 e 1990. A atriz Julia Ormond entra em cena como
Vivien Leigh, a inesquecível Scarlett O’Hara de E o Vento Levou, a esposa de
Olivier que precisa enfrentar a crescente sensação de abandono por parte do
marido e também a rejeição que passa a sentir do público, tudo por conta de uma
certa nova e sensual atriz de madeixas platinadas e corpo curvilíneo.
Participam também da produção Emma Watson como Lucy, jovem por quem Clark era
apaixonado antes de conhecer Marilyn, Dominic Cooper como Milton Greene, um dos
ex da estrela, e Judi Dench como Dame Sybil Thorndike, uma companheira de
filmagens fiel e auxiliadora. Apesar das diversas cenas em que a estrela está
passando por crises, lutando para decorar as falas e entrar no personagem ou
mostrando as inúmeras vezes que deixou a equipe de filmagem na mão, o que temos
nesta produção ainda é um breve relato de quem foi um dos maiores mitos de
Hollywood, apenas sete dias da vida de uma estrela dividida entre a
luminosidade da fama e sua obscura vida pessoal. Quem procura uma bela história
de amor ou uma agradável comédia certamente se decepcionará com Sete Dias com
Marilyn, mas aos adeptos de um bom drama ou histórias baseadas em fatos reais
eis uma excelente opção, um trabalho impecável de reconstituição de época e que
usa o charme da metalinguagem, o cinema falando sobre cinema, a seu favor
contando com um elenco talentoso e que honra as personalidades reais que
representam. Vale a pena dar uma conferida.
Drama - 99 min - 2011
Esse foi um filme que me surpreendeu.......adorei a trama, o elenco e o filme de uma forma geral.
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