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sábado, 7 de novembro de 2015

O MERCADOR DE PEDRAS

Nota 2,0 Longa acaba deixando explícita uma mensagem de preconceito contra os muçulmanos

O fatídico 11 de setembro de 2001 continua rendendo ao cinema. Além das produções que enfocam eventos e tristes histórias ocorridos nesta data, há ainda os títulos que exploram o clima tenso e a aversão ao povo muçulmano que se propaga pelo mundo todo desde então, mas O Mercador de Pedras exagera na dose de preconceito e não faz questão alguma de ser imparcial. É preciso estar atento para não confiar que a visão do diretor e roteirista Renzo Martinelli seja uma verdade absoluta. Seu longa começa de forma bastante previsível mostrando uma tentativa de ataque terrorista no qual acaba se envolvendo a esposa de um estudioso sobre o islamismo. Alceo Rondini (Jordi Mollà) está passando férias na Turquia acompanhado de Leda (Jane March) e mantendo certa amizade eles nem desconfiam que estejam participando de um jogo perigoso tramado por Ludovico Vicedomini (Harvey Keitel), um carismático negociador de pedras preciosas que vive viajando para a Europa e o Oriente Médio. Contudo, por trás de sua amigável aparência ele esconde um grande segredo. Junto com seu parceiro de negócios Shahid (F. Murray Abraham) ele conspira um ataque terrorista em grande escala, mas quando seu plano está prestes a ser concretizado o destino acaba por surpreender fazendo-o se apaixonar por Leda que corresponde aos seus galanteios. Agora ela terá que escolher entre o amor e a segurança oferecidos pelo marido ou por essa paixão repentina e avassaladora, mas Rondini está disposto a desmascarar seu rival. Curiosamente aquele que deveria ser o herói da história na verdade acaba sendo o calcanhar de Aquiles da produção. Ele prega em seus discursos que os muçulmanos irão destruir o Ocidente e no final chega até a dar uma duvidosa lição de História afirmando que a luta entre o povo ocidental e o oriental já dura séculos, o que é um fato, mas fala com pessimismo quanto aos avanços do islamismo pelo mundo, inclusive taxando como uma religião doentia. Em outras palavras, ele trata a cultura e a religião dos muçulmanos com preconceito tratando de rotular a todos que fazem parte desse povo como criminosos inconsequentes e individualistas.

A guerra entre pólos opostos religiosos seria o que muitos chamam de "nova cruzada". Na Idade Média as batalhas financiadas e comandadas com ajuda da Igreja católica eram chamadas de cruzadas, confrontos nos quais muitos inocentes morriam e seus algozes eram guiados segundo os desígnios de Deus. Para o protagonista, os novos mártires de Alá são testemunhas da guerra contra as injustiças sociais e se sacrificam em nome de um bem maior. Cansados da opressão ocidental, jovens já crescem sabendo que terão vidas curtas, mas suas passagens pela Terra de suma importância para seu povo. E se engana quem acha que eles são pessoas pouco instruídas e por isso de fácil manipulação. As novas gerações de suicidas são compostas por jovens de classe média, não tem problemas de integração social e padrão de vida em geral mais alto que seus contemporâneos. Por que pessoas assim se arriscariam em nome de uma guerra secular que não leva a lugar algum? Fé exagerada, tradições, conchavos políticos, dinheiro envolvido ou pura maldade? E da parte ocidental, será que o preconceito com os muçulmanos não passou dos limites? Será que os próprios ocidentais não são os responsáveis pelo ódio alimentado pelos orientais? Bem, quem busca respostas para tais perguntas fuja de O Mercador de Pedras. O roteiro, escrito em parceria com Fabio Campus e inspirado no romance de Corrado Calabrò, acaba por oferecer um desserviço, manipulando fatos e alimentando um ódio que já passou da hora de ser extinto. Ao subirem os créditos finais, se alguém se manter desperto até eles, o sentimento deve ser um só: repúdio. O cinema deve ajudar a quebrar preconceitos e não reforçar pensamentos medíocres. De qualquer forma, vale uma conferida e uma boa discussão tanto a respeito da guerra absurda abordada quanto sobre o que levou os realizadores a apostarem em um projeto perigosamente taxativo quanto as opiniões que defende. Pelo menos o triângulo amoroso trata por salvar a produção de ser totalmente dispensável. A relação do trio é bem construída e intrigante, mas é uma pena ver bons atores como Keitel se metendo em produções tão mesquinhas. 

Drama - 119 min - 2006

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