Nota 6 Drama sobre amadurecimento tardio é correto, mas não emociona com seus clichês
Filmes sobre jovens revoltados ou que não querem crescer são lançados aos montes todos os anos, mas são poucos os que se destacam e conseguem tratar o assunto de forma profunda. Aurora Boreal não foge à regra. Esta produção independente é bem-feitinha, tem um elenco com nomes de peso, uma premissa interessante, mas não consegue explorar com profundidade o mundo vazio no qual o protagonista vive. Desde a prematura morte de seu pai, Duncan Shorter (Joshua Jackson) não tem levado a vida muito a sério. Ele só quer saber de garotas, festas, bebidas, odeia a melancolia da cidade em que vive e não se estabiliza em emprego algum. Sua decepção com a vida vem desde a adolescência devido ao fato de ter perdido seu pai por causa do vício em drogas e por sua mãe ter ido embora para outra cidade logo após ficar viúva, assim ele e seu irmão Jacob (Steven Pasquale), acabaram tendo que encarar os desafios da vida praticamente sem a segurança de um adulto por perto.
Jacob adotou uma postura mais segura diante das dificuldades, conseguiu um bom trabalho, casou, teve filhos, mas de vez em quando recorre a ajuda do irmão para ter onde passar algumas horas com alguma mulher. Já Duncan abandonou a promissora carreira como jogador de hóquei, afastou-se da família e passou a levar uma vida desregrada estendo sua adolescência além do permitido. Por outro lado, a saúde precária de seus avós Ruth (Louise Fletcher) e Ronald (Donald Sutherland) acaba o mantendo sempre por perto principalmente quando ele consegue um trabalho para fazer a manutenção do edifício onde vive o casal. É nesse lugar que surge a possibilidade de Duncan mudar os rumos de sua vida a partir de um novo amor. Kate (Juliette Lewis) é a enfermeira particular dos idosos, uma garota séria e bastante segura do que quer na vida. O interesse do rapaz pela moça é correspondido e logo eles estão namorando, mas ela está de mudança para a Califórnia em breve e para acompanhá-la Duncan terá de provar que amadureceu e que agora sabe que a vida não é feita só de curtições, mas também de responsabilidades.
O cerne do enredo é discutir a dificuldade de elaboração do luto, nos apresentando perspectivas diversas sobre a perda, no caso quanto ao falecimento de um homem que pela ordem natural das coisas deveria enterrar primeiro o patriarca da família e que não soube preparar seu filho para quando ele próprio partisse. Temos então a dor de um pai idoso e a reação inconsequentemente de um jovem a perda de um homem que era o elo entre essas gerações. Logo percebemos que a adolescência tardia de Duncan é muito mais um mecanismo de defesa ao luto do que simplesmente falta de perspectiva. No encontro com seus avós, o jovem inicia um processo de reencontro com sua essência, enfrentando seus problemas para amadurecer ao mesmo tempo em que acompanha o melancólico processo de envelhecimento de seus avós. As angústias do Mal de Parkinson, doença que se agrava principalmente em Ronald, acabam por forçar o jovem Duncan a acorda de seu hibernar juvenil e assumir responsabilidades, assim mudando seus ideais.
Sutherland como sempre rouba a cena desta vez vivendo o portador de uma doença cada vez mais comum aos idosos, formando uma cativante dupla com a também veterana e talentosa Fletcher. A convivência com o problemático cotidiano do casal acaba dando um choque de realidade no protagonista que então decide finalmente aceitar que não é mais nenhum adolescente e que é hora de assumir as rédeas de sua vida e deixar de lado excessos, gancho que cria um vínculo de identificação de imediato com o espectador. Para esta repentina e bem-vinda mudança conta muito a ajuda de um interesse romântico, afinal o amor é capaz de transformar vidas. Jackson e Lewis formam um par simpático com uma história romântica comum, mas ainda totalmente válida. Todavia, o ponto de maior interesse no roteiro de Brent Boyd fica por conta da relação de carinho mútuo entre neto e avô, um amor tão grande que pode levar Duncan a realizar até mesmo um ato impensado para satisfazer um desejo de Ronald.
Vencedor e indicado a alguns prêmios em festivais cinema independente, este trabalho do diretor James Burke é correto, mas acaba deixando um gostinho de quero mais. Gostaríamos de conhecer mais do mundo sem limites no qual Duncan vivia, assim como apreciar mais alguns momentos dele com sua família e saborear sua relação com a nova paixão de forma mais detalhada. O cineasta acabou reunindo em um mesmo filme bons entrechos narrativos, mas no final das contas não se arriscou a ir além das expectativas e quem espera ver a tal aurora boreal do título pode se decepcionar. O fenômeno óptico que provoca certo brilho diferenciado nos céus a noite só é citado como uma agradável lembrança que Ronald guarda na memória dos tempos em que se reunia com seu filho e os netos na varanda de casa para observar o horizonte. Desta vez o criticado recurso do flashback fez falta para ao menos termos uma cena memorável nesta obra. Todavia, trazendo reflexões sobre o que significa amadurecer e sobre os caminhos que tomamos para seguir nossas vidas, Aurora Boreal é um pequeno tesouro que merece ser descoberto.
Drama - 109 min - 2005
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