NOTA 8,0 Como lidar com a dor da perda de uma pessoa querida? Drama mostra que as reações podem surpreender |
De qualquer forma, esses pais tentam buscar um futuro positivo para suas vidas, mas nem mesmo a terapia em grupo com outros casais passando por problemas semelhantes parece apontar caminhos fáceis para os Corbett seguirem em frente. A dor só é amenizada, jamais superada. Este drama evidentemente é denso, carregado de tristeza e não é só nos diálogos que encontramos conteúdo. Aqui os gestos, olhares e o silêncio são de suma importância para compor a narrativa. Não é difícil para o espectador submergir a este drama. Apesar de algumas cenas ou a trilha sonora claramente serem usadas para manipular emoções, é no embate verbal e físico entre os protagonistas ou nas suas oposições que se encontra a força do filme que deseja mostrar como cada pessoa reage a um fato doloroso e inesperado, no caso a mãe de forma mais agressiva enquanto o pai trata o assunto de modo mais sereno. Sem se tocarem e mal se falarem, Becca e Howie travam bons diálogos com terceiros, personagens interpretados com vigor, por exemplo, por Dianne Wiest, com uma excepcional e reveladora sequência ao lado de Nicole, e Sandra Oh, mas o silêncio e a lentidão da narrativa são as grandes marcas deste trabalho e necessário à história, assim como os momentos aparentemente simplórios. Nicole e Eckhart certamente tiveram um desgaste emocional e tanto para defenderem seus personagens, mas a sintonia entre eles é perfeita, ou melhor, é perceptível que o relacionamento entre eles fora das câmeras foi amistoso, pois só assim poderiam passar a real dimensão do distanciamento existente entre Becca e Howie. O título original, “Rabbit Hole”, é uma referência clara ao conto “Alice no País das Maravilhas” no qual um coelho entra apressadamente em um buraco e desperta a curiosidade de uma garota que o segue e então toma contato com um mundo desconhecido. A metáfora no filme de Mitchell se deve ao fato de que os protagonistas também caem inesperadamente em um buraco imaginário após um fato doloroso e agora precisam redescobrir o mundo em que vivem ou que a partir de agora viverão.
Apesar do enredo parecer profundo e reflexivo demais, o
longa passa longe de ser um estudo sobre as consequências que traumas podem
causar aos seres humanos e tampouco como a morte de um ente querido pode afetar
a vida daqueles que permanecem vivos. Todavia, o fato de não ter essas
pretensões não desvaloriza a obra, pelo contrário, até a torna mais aceitável e
sincera. O diretor não quis fazer um drama arrebatador, mas simplesmente expor
aquilo que sentiu ou aprendeu com a própria experiência que viveu pouco tempo
antes de iniciar este projeto. Reencontrando a Felicidade é uma obra
calcada principalmente no lado psicológico de seus protagonistas e que dispensa
momentos dramáticos exagerados, o que deixa a narrativa mais verdadeira e menos
manipuladora, ainda que a condução da trama siga um modo esquemático. Se
tiramos alguma lição desta obra é aquela que sempre ouvimos quando há casos de
morte. Embora todos sabemos que nosso destino é um só, ninguém está preparado
para suportar a perda de alguém próximo sem viver um mínimo do período de luto,
uma época em que sentimentos e pensamentos se confundem e que pode durar dias,
meses, anos ou toda nossa existência. Como dito no início do texto, o tempo é o
melhor remédio para esse tipo de dor, mas jamais traz a cura. As tarefas do
dia-a-dia acabam nos trazendo de volta a realidade e podemos esquecer os
acontecimentos por boa parte do tempo, mas basta um momento de ócio ou uma simples
lembrança para a saudade bater. A vida é assim e não podemos fazer nada para
mudar, apenas continuar vivendo da melhor maneira possível e tentar diariamente
digerir a dor lembrando-se dos bons momentos que a pessoa que partiu nos
deixou. Este filme é uma dica valiosa para repensarmos os laços familiares e de
amizade, ainda mais hoje em dia em que a tendência é que as sociedades cada vez
mais exaltem o individualismo, porém, os mais sensíveis ou que recentemente viverão
situações parecidas com a do enredo podem se emocionar além da conta.
Drama - 91 min - 2010
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