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segunda-feira, 4 de abril de 2022

O VOO DA CORUJA


Nota 6 Suspense enxuto e com tom melancólico é uma boa pedida aos amantes do gênero


O título pode remeter a um longa de terror, mas não se engane, eis aqui uma trama policial madura com pitadas de romance, mais um daqueles filmes típicos que antigamente preenchiam as madrugada na televisão: suspense meia-boca que funciona momentaneamente contando com interpretações razoáveis, mas que está fadado ao esquecimento sem o mínimo esforço. Será mesmo? Por infelicidade a resposta é sim. Todavia, O Voo da Coruja não é das piores produções, até que é bem realizado tecnicamente, tem um roteiro bacana e, o melhor, tem um final digno que não constrange o espectador. O problema é que a produção não tem a dose de adrenalina que muitos amantes de suspense pedem, parecendo inclusive uma obra datada, um produto daqueles que eram lançados antigamente aos montes para abastecer com exclusividade o mercado de vídeo, mas é bom lembrar que sempre podem existir surpresas positivas entre os títulos pouco divulgados. 

Robert Forrester (Paddy Considine) está se separando da esposa Nickie (Caroline Dhavernas) e mudou-se para uma pequena cidade onde sua maior distração é observar às escondidas o cotidiano de sua vizinha Jenny Thierolf (Julia Stiles), embora nem ele mesmo saiba o porquê deste fetiche. Certo dia, os dois acabam se encontrando, descobrem coisas em comum e começam a manter uma amizade que caminha para um relacionamento mais sério, mas ela já namora com Greg Wyncoop (James Gilbert), este que é muito ciumento e não vai deixar isso barato. Já desconfiado da proximidade da moça pelo sujeito, o rapaz explode quando ela pede para eles darem um tempo para reavaliarem seus sentimentos. Os rivais se enfrentam e Forrester acaba ferido e inconsciente. Quando acorda percebe que está em uma enrascada. 


Wyncoop está desaparecido e há suspeitas de que ele esteja morto e agora Forrester precisa correr contra o tempo para provar sua inocência, mas sua ex-mulher está a postos para contribuir com as investigações sujando ainda mais sua imagem relembrando seu passado problemático. O diretor Jamie Thraves, que também assina o roteiro, optou por uma narrativa melancólica para contar a história de duas pessoas que vivem uma estranha relação. Eles não se sentem atraídos por conhecerem bastante um sobre o outro, mas o mistério é que os envolvem, a ausência de informações é que faz surgir a faísca que os une. Pode parecer estranho que alguém convide um desconhecido para entrar em sua casa e que quase que imediatamente surja um sentimento de amor ou atração entre eles, mas histórias como essa não são invenções do cinema e acontecem na realidade com uma frequência maior do que imaginamos. Algumas podem acabar com finais felizes, mas a maioria termina em tragédias como no caso do filme. 

Até quase a metade do longa esta bizarra história de amor é conduzida em banho-maria e com diálogos irregulares e alguns desconexos. Para quem não desistir do filme até então, a segunda metade compensa o esforço. A partir do momento em que o protagonista é acusado de assassinato, mesmo alegando que só golpeou o rival como um ato de autodefesa e que ele ainda estava com vida a última vez que o viu, a narrativa abre caminho para uma intricada trama policial com boas reviravoltas e uma participação maior da ex-mulher do protagonista, uma personagem que inicialmente parece sem função alguma, mas depois surge com força para complicar ainda mais a situação do antigo marido. 


Baseado no romance "The Cry of The Owl", de Patricia Highsmith, que já havia sido adaptado para o cinema em 1987 pelo cineasta francês Claude Chabrol, O Voo da Coruja é um pequeno e eficiente suspense que prende a atenção dos espectadores que não gostam de todos os fatos mastigadinhos ou simplesmente entregues nos primeiros minutos. Até subirem os créditos finais muitas coisa pode acontecer. Ah, e quanto a coruja do título é explicado no filme que ela é um símbolo de que algo ruim está para acontecer, possivelmente algum caso de morte. Coitadinhas das guardiãs da noite. De símbolo de sabedoria rebaixadas a sinal de mau agouro.
Suspense - 101 min - 2009 

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