NOTA 7,5 Glenn Close reencontra o prestígio no mundo do cinema ao despir-se da vaidade, mas não do talento |
Os únicos momentos em que Nobbs se permitia assumir seu papel feminino é quando se trancava no quarto solitariamente para contar suas economias e apreciar o retrato da mãe. Porém, até essa privacidade passa a ser ameaçada. Hubert Page (Janet Mcteer) é um pintor contratado para realizar uma manutenção do hotel e é colocado para dormir no mesmo quarto do mordomo. Todavia, esta nova companhia também vive o mesmo drama que seu colega de quarto, é uma dama travestida de homem, e assim começa uma intensa amizade entre estas duas mulheres, a chance para Nobbs finalmente imaginar novos rumos para sua vida. De qualquer forma, o medo de seu segredo ser revelado continua sendo um obstáculo para esta mulher omissa que ainda será visada por causa do dinheiro que juntou por anos para conseguir realizar ao menos um único sonho: ter sua independência financeira. O longa é baseado no conto “The Singular Life of Albert Nobbs”, de George Moore, que foi adaptado por John Banville em parceria com a própria protagonista. A atriz realmente estava disposta a reencontrar a fama no cinema, porém, não abriu mão da qualidade, tanto que esta produção tem um quê de filme europeu, assim como a maioria dos poucos títulos em que Glenn trabalhou nos últimos anos, como Coisas Que Você Pode Dizer Só de Olhar Para Ela e Questão de Vida. Todos estes trabalhos, incluindo o destaque deste texto, têm em comum não só o fato de contarem com a participação de Glenn, mas também por lidarem com temas acerca do feminismo e serem dirigidos pelo colombiano Rodrigo García cuja filmografia é marcada por obras de tom mais intimista e sempre com histórias envolvendo corajosas ou sofredoras mulheres. No caso desta crítica sutil às sociedades conservadoras de épocas passadas, ainda que as mulheres atualmente ainda sofram repressão em muitas culturas, o ritmo lento da narrativa pode ser um empecilho para alguns espectadores. A falta de movimentação não se deve apenas ao estilo do cineasta, mas também pelo fato do enredo se concentrar na relação de Nobss e Page. Os demais personagens não têm força dramática, salvo o da camareira Helen Dawes (Mia Wasikowska) e do inescrupuloso Joe (Aaron Johnson) que vivem um romance em uma trama paralela que tem importância na conclusão da história da protagonista envolvendo dinheiro.
Não há como negar realmente que este longa sobrevive à custa
do trabalho excepcional de Glenn, ainda que sua parceira de cena Janet Mcteer
também se saia muito bem mostrando seu lado masculino de forma imponente e
seguro fazendo um contraponto ao modo de agir de Nobbs. Aliás, por curiosidade,
Glenn já havia interpretado o mesmo papel nos palcos teatrais no início da
década de 1980 e passou anos tentando conseguir recursos para levar o texto
para o cinema. Por conhecer bem a personagem, a veterana atriz consegue revelar
através de olhares e sutis expressões faciais todo medo, repressão e
fragilidade que uma mulher sofre escondida embaixo de roupas pesadas e
fechadas. Já é rotineiro que atrizes que aceitam trabalhos desprovidos de
vaidade ganhem automaticamente um reconhecimento positivo e neste caso não é
diferente. Com a pele nitidamente envelhecida e sem suas madeixas louras, não
vemos sinal da exuberante atriz que anos atrás seduziu plateias com personagens
fortes e maquiavélicos. Albert Nobbs é um belo filme que toca em temas
relevantes até hoje como o fascínio exercido pela ganância, discriminação,
feminismo e até mesmo questões referentes à homossexualidade, porém, não é uma
opção que agrada a todos os gostos, a começar pelo ritmo arrastado da
narrativa. Todavia, em pleno século 21 ainda esbarramos em questões
preconceituosas. Certamente muitos não devem se sentir confortáveis assistindo
a um filme onde as mulheres assumem seriamente os papéis masculinos e os homens
são retratados como pessoas desinteressantes dotados de poder e influência, mas
desprovidos de humanidade. De qualquer forma, esta é uma produção que vale a
pena ao menos para se conferir um belo duelo de interpretações, mas que no
fundo tem muito a nos ensinar apresentando um passado cujos resquícios ainda
exercem influência no presente e infelizmente ainda devem deixar raízes para o
futuro. Preconceito e ambição, dois males que atravessam os séculos.
Drama - 113 min - 2011
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