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sábado, 26 de fevereiro de 2022

1408


Nota 7 Suspense claustrofóbico garante bons sustos, mas conclusão deixa perguntas no ar


Quem se entusiasma a assistir a um filme no qual praticamente temos apenas um ator em cena? Bem, Tom Hanks teve êxito em Náufrago alternando momentos cômicos e dramáticos em uma ensolarada ilha deserta acompanhado de uma bola de vôlei, mas será possível acompanhar uma trama na qual um homem tem como companhia apenas a sua própria loucura ou o medo em um ambiente claustrofóbico? A resposta é sim, desde que o enredo seja de qualidade e provoque sustos de verdade. O ator John Cusack assumiu a difícil tarefa de envolver o público em um clima de tensão constante tornando-se o protagonista de 1408, suspense baseado em um conto homônimo do livro "Tudo é Eventual" de autoria de Stephen King. Sua versão cinematográfica não é excepcional, porém, cumpre seus objetivos e nos poupa da sanguinolência e carnificina gratuita apostando mais em uma temática de terror psicológico. A trama gira em torno de Mike Enslin (Cusack), um romancista que decidiu experimentar novos caminhos e passou a escrever livros sobre fenômenos paranormais, ou melhor, obras para demonstrar que coisas do além não passam de frutos de imaginações férteis. 

Totalmente cético, principalmente após perder precocemente uma filha, o escritor aceita como seu próximo desafio comprovar que não existe nada de assustador no quarto 1408 do tradicional Dolphin Hotel que fica em plena fervilhante Nova York. O cômodo tem fama de ser habitado por espíritos malignos e que quem se hospeda nele morre em pouco tempo. O gerente do hotel, Gerald Olin (Samuel L. Jackson), o avisa que exatamente 56 mortes ocorreram neste quarto e desde o último corpo encontrado este aposento não é mais cedido a hóspedes e só é limpo mediante a um esquema especial. Mesmo assim, Enslin está disposto a provar que não existe nada de diabólico lá, mas também descobrir porque nenhum dos hóspedes sobreviveu a mais de uma hora trancado no quarto. Como o conto original, supostamente baseado em fatos reais, tem pouco mais de vinte páginas, os roteiristas Matt Greenberg, Scott Alexander e Larry Karaszewski tomaram algumas liberdades para engordar o enredo, mas tudo que foi acrescentado não foge do contexto. 


O início do longa é repleto de clichês e conta com uma atuação insossa de Jackson, mas a partir do momento em que o pouco tempo que resta de vida para Enslin passa a ser contado no relógio minuto a minuto a coisa muda de figura. Essa é a deixa para Cusack brilhar absolutamente sozinho e colocar o espectador na dúvida se tudo que está vendo é fruto de uma repentina demência do protagonista ou realmente manifestações do além. O diretor sueco Mikael Hafström, indicado ao Oscar de filme estrangeiro por Evil – Raízes do Mal, conseguiu fugir dos lugares comuns do gênero e criou uma excepcional atmosfera claustrofóbica da qual é impossível o espectador não compartilhar da sensação de sufoco. Com domínio da câmera e senso para explorar o cenário limitado, o cineasta consegue passar a impressão que cada canto do quarto esconde algo que a qualquer momento irá surpreender o incrédulo hóspede e consequentemente o espectador. Mantendo a tradição do cinema europeu, Hafström não tem pressa para chegar ao que interessa e os minutos iniciais servem para conhecermos melhor o protagonista. Pouco a pouco sabemos mais sobre a vida do escritor e vários diálogos são inseridos para demonstrar a sua incredulidade. 

É certo que Enslin não ganha a simpatia do público logo de cara, porém, mais adiante nos envolvemos com os dramas e medos do rapaz. Cusack, embora com um currículo extenso e com bons títulos, até então não era considerado um nome capaz de chamar a atenção. Ainda que já tenha protagonizado algumas produções, foi neste suspense que o ator teve a chance de mostrar que pode literalmente segurar um filme sozinho. Ele alterna momentos dramáticos, outros de tensão e alguns de pura insanidade, mas tudo de forma perfeitamente aceitável para o que o enredo visa. Considerado um dos maiores escritores de livros de terror e de temática sobrenaturais, o nome de King atrelado a um projeto de cinema por si só já é uma publicidade e tanto, mas é certo que muitas de suas obras não foram sucesso em suas versões cinematográficas, mas felizmente a produção aqui em questão faz parte do time das boas adaptações. As intenções de Hafström jamais foram jogar o espectador em uma montanha russa de emoções ininterruptas, mas sim provocar um medo crescente dosando as sequências mais assustadoras e dando algumas pausas para a plateia respirar.  


Claro que este suspense não está livre dos vícios hollywoodianos e apresenta alguns sustos previsíveis como vultos, ruídos estranhos e até mesmo um rádio que do nada começa a tocar música, porém, faz toda a diferença a maneira como estes clichês são inseridos na narrativa e é aí que 1408 ganha pontos para se manter acima da média entre as produções do gênero. Todavia, o longa não deixa de decepcionar em certos aspectos. As dúvidas a respeito das visões e acontecimentos dentro do tal quarto de hotel não são sanadas de forma satisfatória e nem ao menos temos uma explicação do por que da numeração do local ter tanta força para ser o título tanto do conto do livro quanto do próprio filme. Seria pelo fato da somatória resultar no supersticioso número 13? De qualquer forma, se você quer assistir a um filme de qualidade e de quebra levar bons sustos esta é uma ótima pedida. Para não contrariar as regras do cinemão americano, a última cena trata de manter o ponto de interrogação na cabeça do espectador. Assista, reflita e tire suas próprias conclusões.

Suspense - 94 min - 2007

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