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quinta-feira, 3 de setembro de 2015

TUDO PELA FAMA

NOTA 7,0

Comédia faz uma bem
humorada crítica à TV, aos
realities shows e à busca do
sucesso instantâneo
Ter os seus quinze minutos de fama parece ser uma obsessão mundial. Não importa onde você viva, sempre tem alguém querendo aparecer sem se dar conta que pode estar pagando um tremendo mico. É incrível o que uma pessoa é capaz de fazer para poder participar, por exemplo, de um reality show, uma febre doentia que mexe com a fantasia das mentes mais fracas que acreditam que um belo corpo talhado em academia ou pelo cirurgião plástico é o bastante para garantir um futuro. Será que hoje em dia ex-Big Brother ou ex-Fazenda já são considerados como referência a uma profissão e enriquecem algum currículo? Embora os realities mais populares sejam aqueles que confinam anônimos ou famosos decadentes em uma mesma casa para serem observados como se fossem animais nos zoológicos, existem dezenas de modelos de programas que se encaixam nessa definição oriundos de todos os cantos do planeta e que, diga-se de passagem, são bem mais interessantes. Muitos deles já puderam ou ainda podem ser conferidos pelos brasileiros através de canais fechados que exibem os programas originais ou até mesmo na TV aberta, mas neste caso as emissoras nacionais adquirem os direitos sobre os formatos e os inserem como quadros de programas tradicionais como a “Dança dos Famosos” exibida pelo Faustão ou o “Jogo de Panelas” comandado por Ana Maria Braga. Também fazem sucesso por aqui os realities musicais que reúnem novos talentos em busca de uma chance para saírem dos barzinhos da vida, porém, curiosamente os vencedores dificilmente chegam a gozar plenamente do sucesso, voltando rapidamente ao ostracismo. No limbo dos esquecidos é que se encontra também a comédia Tudo Pela Fama, cujo tema principal é o sucesso baseado na imagem, um projeto coerente com o momento artístico e cultural que vivemos há mais de uma década, mas que fracassou até mesmo nos EUA em pleno auge do programa “American Idol”, modelo que por aqui se transformou no trash “Ídolos”. Quando um filme é lançado diretamente para as locadoras ou venda ao consumidor sem passagem pelo cinema é de praxe rotular como um produto ruim, mas algumas injustiças acabam acontecendo por causa dessa avaliação precipitada como neste caso em que uma crítica inteligente é feita a um fenômeno que mexe com as emoções dos populares, mas eles próprios não percebem que de show de realidade pouca coisa existe no tal programa de calouros. 

O roteirista e diretor Paul Weitz, das eficientes e leves comédias Em Boa Companhia e Um Grande Garoto, mais uma vez consegue fazer humor sem ofender a inteligência do espectador, ainda que em alguns momentos seu tom irônico seja um pouquinho exagerado, mas isso não é problema aqui, pois exagero é a palavra-chave para quem quer aparecer no “American Dreamz”, o programa campeão de audiência da TV americana que é apresentado por Martin Tweed (Hugh Grant). Ele está aborrecido com a mesmice de sua atração, que atrai cantores desconhecidos sem personalidade e que praticamente só imitam cantores famosos, e agora quer trazer novidades para a próxima temporada, mas como se diz por aí se você quer algo bem feito faça você mesmo. Assim, Tweed começa a procurar os personagens ideais para o seu reality show de calouros, como a ambiciosa Sally Kendoo (Mandy Moore) e o árabe Omer Obeidi (Sam Golzari), um fanático pelos musicais americanos que também é um terrorista fracassado e que acaba entrando no concurso com segundas intenções que podem acarretar situações problemáticas. Ele é forçado por extremistas a chegar a qualquer custo até o final do programa para realizar um atentado terrorista contra o presidente dos EUA, Joseph Staton (Dennis Quaid), que aceita participar como jurado na grande final para melhorar sua imagem pública, já que embora tenha sido reeleito, há anos ele não faz nada de relevante pelo seu país e nem mesmo sabia o que acontecia por lá. A manipulação é um tema recorrente deste enredo. O apresentador escolhe quem deve participar de seu programa não se baseando apenas no talento vocal dos candidatos, mas também analisando seus perfis culturais e sociais, além da estética, para ver se eles cativariam o espectador a ponto de gerar comoção. Sally se cerca de todos os cuidados possíveis para criar um vídeo de apresentação convincente e emocionante, colocando até o namorado militar no meio do enrosco (uma participação patética do ator Chris Klein). Obeidi sabe que ao levar o atentado adiante também estará colocando um ponto final na sua vida, mas não pode trair seu povo e seus mandantes o tratam como um mártir para persuadi-lo. Por fim, Staton finalmente percebeu que passou sua vida política sendo manipulado por várias pessoas a sua volta e agora resolveu andar com as próprias pernas, mas isso não é muito fácil.

Realmente esta não é uma comédia qualquer que oferece apenas diversão. Temos também um interessante conteúdo a ser discutido. Os veículos de comunicação sempre manipulam fatos e imagens de acordo com seus ideais ou para agradar quem os banca. São as leis do mercado e quem vai contra elas só sobrevive com muita sorte ou por um amor exagerado ao trabalho que faz. No filme, todos os personagens que estão envolvidos com o tal show de calouros tentam a todo custo manter uma imagem que agrade ao público, o que vai na contramão da definição do que seria um legítimo reality show. Duas palavras: oferta e demanda. A TV oferece as pessoas literalmente como produtos e o público compra suas imagens dispensando seu tempo esparramado no sofá. Grant sem dúvidas é o centro das atenções com a ironia latente de seu personagem, um apresentador muito inteligente, mas que diante das câmeras parece fazer questão de se mostrar tão deslumbrado com o mundo da fama quanto seus calouros. Falando nestes aspirantes, é interessante que embora o roteiro dê atenção maior aos dois finalistas do concurso, boa parte da graça está nas pequenas participações de coadjuvantes que representam os concorrentes limados da competição, interpretações exageradas e estereotipadas que certamente envergonhariam muito cantor de churrascaria que vê na figura de Raul Gil, Rodrigo Faro, Gugu Liberato e bela companhia os santos que os levariam ao apogeu. Tudo Pela Fama, desculpe o trocadilho, não merece a fama que tem. Ainda que seu simplório título o nivele a uma comédia boboca a la sessão da tarde, temos aqui uma produção divertida e inteligente, embora o diretor Weitz pareça não saber lidar muito bem com um tema que gera polêmicas e diversas discussões, afinal está acostumado a extrair um humor sutil de situações simplórias do cotidiano. A crítica ácida ou o escracho não parecem ser a sua praia. Todavia, ele soube concluir dignamente a sua anedota ao espetáculo midiático: aconteça o que acontecer, planejado de antemão ou surpreendido pelo acaso, o show deve continuar... Sempre.

Comédia - 108 min - 2006

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