NOTA 7,0 Comédia faz uma bem humorada crítica à TV, aos realities shows e à busca do sucesso instantâneo |
Ter os seus quinze minutos de
fama parece ser uma obsessão mundial. Não importa onde você viva, sempre tem
alguém querendo aparecer sem se dar conta que pode estar pagando um tremendo
mico. É incrível o que uma pessoa é capaz de fazer para poder participar, por
exemplo, de um reality show, uma febre doentia que mexe com a fantasia das
mentes mais fracas que acreditam que um belo corpo talhado em academia ou pelo
cirurgião plástico é o bastante para garantir um futuro. Será que hoje em dia
ex-Big Brother ou ex-Fazenda já são considerados como referência a uma
profissão e enriquecem algum currículo? Embora os realities mais populares
sejam aqueles que confinam anônimos ou famosos decadentes em uma mesma casa
para serem observados como se fossem animais nos zoológicos, existem dezenas de
modelos de programas que se encaixam nessa definição oriundos de todos os
cantos do planeta e que, diga-se de passagem, são bem mais interessantes.
Muitos deles já puderam ou ainda podem ser conferidos pelos brasileiros através
de canais fechados que exibem os programas originais ou até mesmo na TV aberta,
mas neste caso as emissoras nacionais adquirem os direitos sobre os formatos e
os inserem como quadros de programas tradicionais como a “Dança dos Famosos”
exibida pelo Faustão ou o “Jogo de Panelas” comandado por Ana Maria Braga.
Também fazem sucesso por aqui os realities musicais que reúnem novos talentos
em busca de uma chance para saírem dos barzinhos da vida, porém, curiosamente
os vencedores dificilmente chegam a gozar plenamente do sucesso, voltando
rapidamente ao ostracismo. No limbo dos esquecidos é que se encontra também a
comédia Tudo Pela Fama, cujo tema principal é o sucesso baseado na
imagem, um projeto coerente com o momento artístico e cultural que vivemos há
mais de uma década, mas que fracassou até mesmo nos EUA em pleno auge do
programa “American Idol”, modelo que por aqui se transformou no trash “Ídolos”.
Quando um filme é lançado diretamente para as locadoras ou venda ao consumidor
sem passagem pelo cinema é de praxe rotular como um produto ruim, mas algumas
injustiças acabam acontecendo por causa dessa avaliação precipitada como neste
caso em que uma crítica inteligente é feita a um fenômeno que mexe com as
emoções dos populares, mas eles próprios não percebem que de show de realidade
pouca coisa existe no tal programa de calouros.
O roteirista e diretor Paul
Weitz, das eficientes e leves comédias Em
Boa Companhia e Um Grande Garoto,
mais uma vez consegue fazer humor sem ofender a inteligência do espectador,
ainda que em alguns momentos seu tom irônico seja um pouquinho exagerado, mas
isso não é problema aqui, pois exagero é a palavra-chave para quem quer
aparecer no “American Dreamz”, o programa campeão de audiência da TV americana
que é apresentado por Martin Tweed (Hugh Grant). Ele está aborrecido com a mesmice
de sua atração, que atrai cantores desconhecidos sem personalidade e que
praticamente só imitam cantores famosos, e agora quer trazer novidades para a
próxima temporada, mas como se diz por aí se você quer algo bem feito faça você
mesmo. Assim, Tweed começa a procurar os personagens ideais para o seu reality
show de calouros, como a ambiciosa Sally Kendoo (Mandy Moore) e o árabe Omer
Obeidi (Sam Golzari), um fanático pelos musicais americanos que também é um
terrorista fracassado e que acaba entrando no concurso com segundas intenções
que podem acarretar situações problemáticas. Ele é forçado por extremistas a
chegar a qualquer custo até o final do programa para realizar um atentado
terrorista contra o presidente dos EUA, Joseph Staton (Dennis Quaid), que
aceita participar como jurado na grande final para melhorar sua imagem pública,
já que embora tenha sido reeleito, há anos ele não faz nada de relevante pelo
seu país e nem mesmo sabia o que acontecia por lá. A manipulação é um tema
recorrente deste enredo. O apresentador escolhe quem deve participar de seu
programa não se baseando apenas no talento vocal dos candidatos, mas também
analisando seus perfis culturais e sociais, além da estética, para ver se eles
cativariam o espectador a ponto de gerar comoção. Sally se cerca de todos os
cuidados possíveis para criar um vídeo de apresentação convincente e
emocionante, colocando até o namorado militar no meio do enrosco (uma
participação patética do ator Chris Klein). Obeidi sabe que ao levar o atentado
adiante também estará colocando um ponto final na sua vida, mas não pode trair
seu povo e seus mandantes o tratam como um mártir para persuadi-lo. Por fim,
Staton finalmente percebeu que passou sua vida política sendo manipulado por
várias pessoas a sua volta e agora resolveu andar com as próprias pernas, mas
isso não é muito fácil.
Realmente esta não é uma comédia
qualquer que oferece apenas diversão. Temos também um interessante conteúdo a
ser discutido. Os veículos de comunicação sempre manipulam fatos e imagens de
acordo com seus ideais ou para agradar quem os banca. São as leis do mercado e
quem vai contra elas só sobrevive com muita sorte ou por um amor exagerado ao
trabalho que faz. No filme, todos os personagens que estão envolvidos com o tal
show de calouros tentam a todo custo manter uma imagem que agrade ao público, o
que vai na contramão da definição do que seria um legítimo reality show. Duas
palavras: oferta e demanda. A TV oferece as pessoas literalmente como produtos
e o público compra suas imagens dispensando seu tempo esparramado no sofá.
Grant sem dúvidas é o centro das atenções com a ironia latente de seu
personagem, um apresentador muito inteligente, mas que diante das câmeras
parece fazer questão de se mostrar tão deslumbrado com o mundo da fama quanto
seus calouros. Falando nestes aspirantes, é interessante que embora o roteiro
dê atenção maior aos dois finalistas do concurso, boa parte da graça está nas
pequenas participações de coadjuvantes que representam os concorrentes limados
da competição, interpretações exageradas e estereotipadas que certamente
envergonhariam muito cantor de churrascaria que vê na figura de Raul Gil,
Rodrigo Faro, Gugu Liberato e bela companhia os santos que os levariam ao
apogeu. Tudo Pela Fama, desculpe o trocadilho, não merece a fama que
tem. Ainda que seu simplório título o nivele a uma comédia boboca a la sessão
da tarde, temos aqui uma produção divertida e inteligente, embora o diretor
Weitz pareça não saber lidar muito bem com um tema que gera polêmicas e diversas
discussões, afinal está acostumado a extrair um humor sutil de situações
simplórias do cotidiano. A crítica ácida ou o escracho não parecem ser a sua
praia. Todavia, ele soube concluir dignamente a sua anedota ao espetáculo
midiático: aconteça o que acontecer, planejado de antemão ou surpreendido pelo
acaso, o show deve continuar... Sempre.
Comédia - 108 min - 2006
Faz tempo que eu vi esse filme, mas na época lembro que achei apenas ok.
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