Índice de conteúdo

sábado, 16 de abril de 2022

MORCEGOS


Nota 3 Reunindo características dos trashs movies, longa diverte se não for levado a sério


Os filmes trashs marcaram a década de 1980. Com o advento do videocassete, o que era proibido no cinema tornou-se de fácil acesso. Assim os adolescentes ávidos por sangue que antes precisavam estar acompanhados de algum responsável para curtir um terror podiam finalmente matar a vontade de ver corpos dilacerados banhados à catchup o quanto quisessem. Além dos populares seriais killers, faziam sucesso os filmes de monstros e animais geneticamente modificados como aranhas gigantes ou piranhas assassinas. Tais temas também foram muito populares entre os anos 1950 e 1960, quando os americanos e o mundo como um todo passava por períodos difíceis com muitos conflitos políticos e religiosos que geravam mortes e violência, um clima tenso que não difere muito de nossa atualidade. Se a vida real já era assustadora, o cinema saía prejudicado. O que pode ser mais assustador que colocar o pé para fora de casa e não saber se voltará vivo no fim do dia? Sendo assim, terror e comédia foram unidos para agradar plateias que buscavam momentos de alívio para a tensão do dia-a-dia. O gênero trash nunca saiu da moda, mas é certo que vive de altos e baixos. Embora muitos destratem esse tipo de filme, há também um público fiel que adora se divertir com bobagens do tipo Anaconda, Do Fundo do Mar, Pânico no Lago e Morcegos, este último uma produção B que no geral até que cumpre seus objetivos e transforma seus defeitos em qualidades, tornando-se uma opção acima da média do subgênero.

Você deve estar pensando que só louco para curtir algo do tipo, mas se não levarmos a sério tal produto é possível sim se divertir. Certamente o diretor Louis Morneau já pensou em conceber este trabalho como um legítimo trash movie, não foi uma obra do acaso o resultado final. A premissa do longa até que é bem interessante. Se no passado o cultuado Alfred Hitchcock fez sucesso apavorando plateias com pássaros aparentemente inofensivos, por que com outros seres voadores a receita não daria certo? Todavia, deu errado mesmo! A resposta para o fracasso nas bilheterias e de repercussão deste trabalho de Morneau é fácil. Sai de cena a criatividade e o estilo próprio do mestre do suspense e entra no lugar a coletânea de clichês dos filmes de terror para adolescentes, em outras palavras, sustos previsíveis e sangue aos montes, ainda que neste caso alguns litros de molho de tomate foram poupados. É perceptível que as intenções não era transformar este trabalho em uma carnificina sem propósito, sendo que temos apenas uma longa e frenética sequência de destruição da cidade, mas digamos que o viés escolhido não favoreceu em nada a narrativa que acabou refém de uma fórmula muito conhecida. 


A trama já começa mostrando a que veio sem guardar surpresas. Um casal de jovens é atacado por um bando de morcegos enfurecidos mesmo estando dentro de um carro. O caso não é um problema isolado. A pequena cidade de Gallup, localizada no Texas, está sob a ameaça destas criaturas. Sem saber como resolver o problema, Tobe Hodge (Carlos Jacott) pede ajuda à zoóloga Sheila Casper (Dina Meyer), uma especialista no assunto. Ela sabe que esse tipo de animal pode até atacar um humano, mas dificilmente matá-lo ou dilacerá-lo, já que não se alimentam de carne, assim passa a pesquisar mais sobre o caso e descobre que os morcegos foram geneticamente modificados por Alexander McCabe (Bob Gunton), um cientista que também está colaborando na captura deles, mas com o objetivo de continuar estudando os seus comportamentos. Estas criaturas foram usadas em uma experiência do governo, tornaram-se mais agressivos e inteligentes e aparentemente fugiram do laboratório. Agora Sheila, ao lado de Jimmy Sands (León), seu assistente, e de Emmett Kimsey (Lou Diamond Phillips), o xerife da cidade, precisa correr contra o tempo antes que os morcegos destruam tudo e procriem ainda mais. 

Embora possua tramas com elementos parecidos, o que distingue o clássico Os Pássaros deste execrado Morcegos? Hitchcock construiu sua perturbadora narrativa simplesmente construindo clima, indo da calmaria ao suspense extremo respeitando uma cadência de emoções, preparando o espectador para levar sustos. Já Morneau aposta em edição frenética, muita ação, barulho e pouco suspense. Além da ausência de clima de tensão, outro fator que nos faz diminuir os valores de filmes cujos vilões são morcegos, cobras, crocodilos entre outros animais peçonhentos e asquerosos é justamente o fato de que eles por si só já nos passam a sensação de medo, não precisam nem da modificação genética para serem tachados de monstros. Essa sensação de pavor que automaticamente sentimos é bem diferente se, por exemplo, tivéssemos em cena gatinhos ou cachorrinhos que de uma hora para a outra começassem a atacar a vizinhança (a idéia é bizarra, mas o mal viria de onde menos esperássemos).  A caracterização dos morcegos é um outro ponto discutível. Tudo bem que poucos sabem como esses animais são detalhadamente, mas é impossível ao menos não esboçar uma risadinha quando a câmera dá um close nos seus rostos e fica evidente que são bonecos de borracha animados. 


Entre erros de continuidade e alguns detalhes absurdos, muitos também apontam o elenco e seus personagens como uma das deficiências desta produção. Nesse tipo de suspense de cidade pequena sabemos que é de praxe ter um vilão estereotipado, um xerife metido a esperto, uma dama bela e corajosa e vários coadjuvantes para serem limados conforma a história avança, mas até estas mortes estratégicas tornam-se divertidas, pois não temos a mínima noção de quem são as vítimas, não há envolvimento emocional. Aliás, até a possibilidade de um romance entre Phillips e a careteira Meyer não existe, assim o grand finale não é com um beijo apaixonado dos protagonistas, mas recorre-se a um outro clichê que deixa um gancho para possíveis continuações. E essa é a receita desta milésima versão da eterna batalha entre homens e as forças da natureza. Efeitos especiais ruins, elenco fraco, piadinhas sem noção e roteiro previsível garantem uma divertida sessão para relaxar, isso se você for espirituoso e levar tudo na brincadeira. Só por curiosidade: quem achou que o roteirista desta pérola, John Logan, deveria ser assassinado ou no mínimo estar preso em um manicômio, saiba que em seguida ele escreveu o cult Um Domingo Qualquer e o premiado Gladiador. Quem diria...

Terror - 91 min - 1999

Leia também a crítica de: 

Um comentário:

  1. Um filme trash em sua essência. Um dos últimos em que Lou Diamond Phillips brilha.

    ResponderExcluir

Este espaço está aberto para você colocar suas críticas ao filme em questão do post. Por favor, escreva o que achou, conte detalhes, quero saber sua opinião. E não esqueça de colocar a sua avaliação do filme no final (Ruim, Regular, Bom ou Excelente).