Nota 3,5 Mesmo com várias qualidades técnicas, longa deixa a desejar em sua narrativa e ritmo
Para quem gosta de um cinema mais
alternativo ou mais puxado para o estilo clássico, é comum a revolta ao se
depararem com a programação dos cinemas cada vez mais voltada a projetos
comerciais e a mesma situação se repetir nas opções das locadoras, mas tal
situação não é novidade. Centenas de bons projetos todos os anos chegam ao
público de forma extremamente tímida e rapidamente caem no ostracismo. Todavia,
entre os títulos que se encaixam nesta longa lista alguns parecem
involuntariamente clamar por esse esquecimento como é o caso de Espírito
Selvagem que curiosamente reúne diversas características que ao menos
lhe garantiriam certa visibilidade mesmo com o passar dos anos, porém, sua
extrema lentidão impressa em cada cena é seu calcanhar de Aquiles. Adaptado do
premiado livro “All The Pretty Horses”, de Cormac McCarthy, um best-seller do
início dos anos 90, a trama tem pedigree, mas o roteirista Ted Tally, vencedor
do Oscar por O Silêncio dos Inocentes,
não soube segurar as rédeas da história que tem como protagonistas John Cole
(Matt Damon) e Lacey Rawlins (Henry Thomas), dois jovens texanos que estão em busca
de uma vida melhor no final da década de 1940. Decididos a encarar novos
desafios, a dupla sai do Texas à cavalo rumo ao México. No meio do caminho eles
conhecem Jimmy Blevins (Lucas Black), um jovem problemático que está roubando
os cavalos de propriedades privadas, mas sem saberem desse seu desvio de
conduta os amigos acabam aceitando o rapaz para seguir viagem junto. Blevin é o
responsável pela maior parte dos problemas que os dois caubóis vão enfrentar, mas
Cole também irá encontrar um amor nessa trajetória. Ele se apaixona por
Alejandra (Penélope Cruz), filha de um rico fazendeiro, mas essa união está
ameaçada, pois até preso o rapaz irá ser, além de perder a companhia do amigo
de cavalgada Rawlins. Após a captura de Cole, a trama ganha mais fôlego
mostrando seu amadurecimento diante das adversidades, mas principalmente por
causa do empenho de seu intérprete que já demonstrava ser um grande ator, mesmo
não repetindo um desempenho semelhante a que apresentou em Gênio Indomável, até então seu principal trabalho.
Embora o roteiro seja desenvolvido sem
pressa, o que comprometeu bastante a condução do longa foi a direção do também
ator Billy Bon Thorthon que voltava a ocupar o cargo de diretor após cerca de
quatro anos afastado da função, mesmo tendo seu projeto anterior, Na Corda Bamba, uma carreira de sucesso
em premiações, inclusive no Oscar. Ele não se deixou seduzir por estes fatos e
demorou a voltar a assumir um projeto atrás das câmeras, mas quando retornou
parece que não se sentiu a vontade e de certo modo até distante do material de
trabalho. Quem teve contato com a obra literária original afirma que Thorthon
simplesmente fez a transposição de praticamente tudo o que estava contido nas
páginas do livro, deixando assim de dar um toque especial à película que carece
de uma identidade. Com o respaldo de uma publicação de sucesso, um elenco com
ao menos dois nomes de peso já na época e um quê de filme de velho-oeste, esta
obra assumidamente tinha tudo para dar certo comercialmente, mas a preocupação
excessiva para criar uma edição que respeitasse a cadência de emoções e
desventuras dos personagens e uma atmosfera bucólica acabou dando ao projeto
uma aura demasiadamente artística. O que era para ser um trunfo sob o marasmo
do mercado acabou voltando-se contra o longa. Ficando em cima do muro, Espírito
Selvagem acabou não conseguindo definir bem com qual tipo de público
gostaria de se comunicar e assim a obra foi desprezada até mesmo em solo
americano. E não se pode isentar de culpa os produtores que acabaram adiando a
estréia várias vezes até que o filme chegou aos cinemas em plena época em que
outros títulos disputavam a atenção dos votantes das premiações, uma tentativa
clara de encaixar nesses eventos aquele que poderia ser o longa independente
infiltrado em meio aos gigantes da indústria na época. Com uma bela fotografia
e figurinos e locações caprichados que devem agradar aos saudosistas dos
clássicos românticos do passado, é uma pena que a trama não consiga envolver
totalmente o espectador e até mesmo o seu gancho romântico seja apresentado de
forma muito fria e ligeira. Aliás, a julgar por esta que foi uma das primeiras
interpretações de Penélope Cruz em produções americanas, é um pouco difícil
explicar como ela conseguiu demarcar seu espaço em Hollywood já que, como diz o
ditado, a primeira impressão é a que fica. Em suma, infelizmente é preciso
constatar que apesar do capricho técnico, o espírito selvagem desta produção
ficou apenas no título.
Drama - 135 min - 2000
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