Nota 8 Animação ainda preserva a ingenuidade, as cores e traços suaves, um convite à nostalgia
Desde Branca de Neve e os Sete Anões os estúdios Disney se transformaram no Midas do mundo do cinema e praticamente tudo que lançava imediatamente se tornava sucesso. O status da empresa só foi balançado no final dos anos 1990 quando as animações computadorizadas se tornaram populares e novos estúdios passaram a investir no filão, assim a empresa teve que abandonar as técnicas tradicionais e se adequar aos novos tempos. Entretanto, muitas das produções da casa do Mickey Mouse que hoje consideramos clássicas tiveram problemas de aceitação por parte da crítica e até mesmo do público quando estrearam, sendo que só tiveram seus valores reconhecidos anos mais tarde com a popularização do homevideo. Um dos períodos mais críticos para todos os envolvidos nesse mundo mágico certamente foi o final dos anos 1960 até meados da década de 1980, época em que a empresa sobreviveu pouco do cinema e mais da TV com séries animadas e telefilmes. Dessa safra faz parte Aristogatas, animação envolvendo uma família de felinos vivendo forçosamente uma aventura. Com história original de Tom McGowan e Tom Rowe, eles participaram da criação do roteiro ao lado de Ken Anderson, Larry Clemmons, Eric Cleworth, Vance Garry, Julius Svendsen, Frank Thomas e Ralph Wright. Felizmente é perceptível a sintonia da equipe mantendo a cadência dos acontecimentos e emoções.
Na charmosa França da década de 1930, madame Adelaide Bonfamille, uma excêntrica milionária, resolve fazer um testamento para beneficiar sua gata de estimação Duquesa e seus filhotes, Marie, Berlioz e Toulouse. Porém, após a morte dos bichanos, toda a fortuna seria repassada a Edgar, o mordomo da casa e única companhia humana da velha senhora. Sabendo disso por um acaso, ele resolve apressar as coisas e arma um plano para desaparecer com os gatinhos. Após dopá-los, ele os leva para um lugar afastado, mas seu plano é atrapalhado pelos zelosos cães Napoleon e Lafayette. Perdidos no meio do mato, os gatos tem a sorte de encontrarem um esperto felino, Thomas O´Malley, e seus amigos. Acostumados com a vida de malandragem das ruas, essa trupe irá ajudar seus semelhantes de fino trato a voltarem para casa e confrontar o malvado mordomo. É possível traçar semelhanças com A Dama e o Vagabundo devido ao fato do bicho de estimação que viveu sempre cercado de mordomias precisar se adaptar aos perigos da rua na companhia de um animal que já está acostumado a se virar pelas vielas e esquinas. Saem os cães de cena e entram os gatos, simples assim.
Com direção de Wolfgang Reitherman, que já havia feito outros trabalhos para a empresa como A Espada Era a Lei e Mogli – O Menino Lobo, essa é uma opção que deve agradar um público restrito infelizmente. Do primeiro ao último minuto encontramos diversos elementos que marcaram as produções antigas da Disney, como a abertura musical com todos os créditos que geralmente são encontrados após o término dos filmes. São pequenas particularidades na parte de edição, no som e nos traços dos desenhos que diferem este tipo de obra das modernas, o que faz a alegria dos nostálgicos, mas fora essa plateia apenas crianças bem pequenas ou os disneymaníacos devem se divertir com o longa. Apesar de atravessar gerações mantendo o encanto de suas cores suaves e humor refinado, a história simples, embora cativante, pode parecer muito ingênua para a garotada de hoje em dia. A produção fez sucesso, principalmente na Europa, mas não agradou muito a crítica especializada que a considerou apenas uma variação de 101 Dálmatas. Bem, não deixa de ser uma afirmação pertinente até pelo fato de também levar a assinatura de Reitherman, mas a trama dos felinos ganha no quesito personagens simpáticos ao mesmo tempo em que perde pontos por não possuir um bom vilão. Edgar é atrapalhado e está mais para os moldes de capangas que só servem para atrapalhar os planos do chefe, tal qual ocorre na história dos dálmatas.
Este foi o vigésimo filme de animação do estúdio e o primeiro a ser realizado após a morte do chefão Walt Disney, este que em vida preteriu a ideia original que seria uma produção para a TV utilizando a técnica de junção de desenho animado e atores de verdade. O longa começou a ser feito em 1966, imediatamente após a sua morte, talvez até como forma de homenageá-lo já que ele desejava a história em animação, porém, o projeto só chegou aos cinemas norte-americanos em 1970 e com o passar do tempo foi sendo distribuído para outros países. O aspecto rascunhado ou que denuncia que o filme foi feito a mão oferece um charme todo especial à obra. Hoje a técnica está em desuso, mas ainda foi aproveitada com sucesso pelo cineasta francês Sylvain Chomet em As Bicicletas de Belleville e O Mágico, por exemplo. Falando nisso, é perceptível o cuidado dos animadores em retratar de forma fidedigna as paisagens francesas, ricas em detalhes principalmente nos cenários urbanos. Quanto aos personagens, as características físicas e a personalidade dos animais foram modeladas com base nos atores que faziam suas vozes e em representantes reais das espécies, o que explica a impressão de eles terem vida própria e agirem tão naturalmente.
A gatinha Marie é o personagem mais emblemático da obra. Charmosa e delicada, digamos que foi alçada a uma posição semelhante a das princesas retratadas pelo estúdio, visto que sua imagem ainda estampa roupas, acessórios e materiais escolares. Rever ou ver pela primeira vez Aristogatas pode causar opiniões contraditórias, mas qualquer pessoa que aprecia cinema de qualidade deve saber distinguir os pontos destacados aqui e tantos outros que transformam esta animação em uma agradável atração para divertir a todas as idades. O ritmo lento da narrativa e o abafamento das vozes, por melhor que sejam os dispositivos de som atualmente, reforçam o caráter nostálgico e delicioso do programa. Para terminar, uma curiosidade: uma sequência seria lançada diretamente em homevideo em 2007, mas a produção foi cancelada depois da Disney adquirir a Pixar e cancelar todos os projetos de animações não relacionados as linhas de produtos rentáveis. Seguindo a modernidade, se vier a sair do papel, provavelmente a ideia será realizada em versão computadorizada, assim descaracterizando completamente o visual que tanto diferencia e beneficia este desenho. Nem sempre a tecnologia é bem-vinda.
Animação - 78 min - 1970
Leia também a crítica de:
Bela animação, mas não me cativa quanto outras da Disney.
ResponderExcluirhttp://cinelupinha.blogspot.com/
Digo exatamente o mesmo que o Rafael.....Bela animação, mas não me cativa quanto outras da Disney.
ResponderExcluirEu acho que o problema do filme são as falas dos gatinhos, soam muito infantis e ingênuas para a atualidade. Mas gosto do ritmo lendo da produção e dos traços dos desenhos.
ResponderExcluirBela animação, mas... brincadeira. Eu não tinha ouvido falar desse ainda. Quando eu era menor meu objetivo era ver todos os filmes de desenho da locadora, mas agora eu quase não tenho vontade de ver. Apesar de sempre adorar quando vejo...
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