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sexta-feira, 1 de julho de 2016

HÉRCULES (1997)

NOTA 10,0

Embora não seja um dos
títulos mais apreciados
Disney, longa inova na
linguagem e visual
Nos anos 90 a Disney viveu dois momentos distintos. A primeira metade da década foi marcada por estrondosos sucessos baseados em contos clássicos infantis. Em 1994 tiveram êxito ainda maior ao arriscarem lançar uma animação original e longe das histórias de fadas e princesas. O Rei Leão inaugurou uma nova fase para o estúdio que passou a apostar suas fichas em histórias que antes eram mais indicadas aos adultos. Obviamente os textos sofreram alterações para se adequarem ao público infantil, mas ainda assim mantiveram certos pontos que outrora seriam proibidos em desenhos da empresa. Reunindo ingredientes para agradar crianças e adultos, aliando inovação e tradição, assim nasceu Hércules, a versão animada, colorida e cheia de adrenalina do conto do semideus que antes já havia ganhado diversas versões para o cinema e TV, mas talvez nenhuma tão divertida e inovadora quanto esta. É uma pena que não foi o sucesso que merecia ter sido, mesmo sendo lançado na época em que praticamente não havia concorrentes a altura de um produto Disney. Depois da dramaticidade excessiva de Pocahontas e O Corcunda de Notre Dame, os animadores da companhia estavam inspirados a fazer o público se divertir do início ao fim e prepararam um trabalho que transforma a edição rápida das cenas em elemento fundamental. Outra das grandes e bem-vindas inovações foi colocar um quinteto de musas que narram o conto através de canções que misturam estilo gospel, jazz e blues, sempre intercalando a trama em momentos estratégicos. A história começa apresentando o nascimento do pequeno Hércules, o filho do poderoso Zeus e de Hera. Todos os deuses do Monte Olimpo comemoram a notícia, menos Hades, o irmão ciumento do mais novo papai do pedaço. Quando Zeus travou uma guerra contra o Mal e enclausurou os monstros Titãs nas profundezas da terra, ele também castigou seu irmão obrigando-o a tomar conta do limbo, o lugar onde as almas penadas vivem. Graças a ajuda das Parcas, espécie de bruxas com poderes especiais e o dom de encerrar vidas, Hades descobre que 18 anos mais tarde ocorrerá o raríssimo evento do alinhamento dos planetas que revelará onde os Titãs foram aprisionados. Dessa forma ele poderia tomar o poder do mundo dos deuses para si, mas Hércules seguramente será uma pedra no seu caminho. A única maneira de impedir o triunfo do jovem seria ele não sendo um imortal, assim o Deus do Mal manda seus comparsas Agonia e Pânico sequestrarem o bebê e forçá-lo a tomar uma poção que o transformaria em humano. Os atrapalhados capangas acreditam que fizeram tudo direitinho, mas uma última gota não foi consumida e o recém-nascido é adotado por um casal de simplórios fazendeiros que não desconfiam quem é aquela criança.
O tempo passou e Hércules cresceu como uma pessoa normal, ou melhor, quase já que nunca conseguiu controlar sua força incomum, o que lhe rendia muitas confusões involuntárias. Já adolescente, ao saber de sua verdadeira origem, ele decide lutar para ocupar seu lugar de direito no templo dos deuses e procura a ajuda do treinador de heróis Phil, um homem-bode mal humorado que inicialmente recusa ajudá-lo, mas que se convence de que o rapaz tem potencial e poderá se tornar o maior mito da história da Grécia. Porém, Hades descobre que ele ainda está vivo e planeja atrapalhá-lo colocando em seu caminho a bela Meg, uma isca para o semideus cair em armadilhas, mas Hércules se apaixona pela moça e o sentimento é recíproco. É chegada a hora de ele provar suas origens e reconquistar seu posto no Monte Olimpo ou abdicar da eternidade em detrimento ao amor por uma humana e sua vida de mortal. Pelas mãos dos diretores Ron Clements e John Musker, os mesmos de A Pequena Sereia e Aladdin, e do animador Gerald Scarfe, um tema que consta em currículos escolares e fascina historiadores do mundo todo ganhou muitas cores, músicas e aventuras nas telas para agradar e até mesmo despertar o interesse das crianças em conhecer mais sobre o passado e os mitos gregos, uma cultura de grande importância para a História do mundo, apesar de que todo o conto do personagem-título foi reescrito e apenas referências ficaram. Segundo historiadores, o longa escorrega na pesquisa histórica e por diversas vezes faz menções a nomes de famosos gregos que nem tinham nascido nos tempos do protagonista e também por omitir que Zeus se relacionava com mulheres mortais. É impressionante que alguém tenha perdido seu tempo pinçando bobagens do tipo. O foco da obra é o público infantil, portanto, é óbvio que fatos mais ousados foram limados e que o maior número de referências gregas possível foi inserido na narrativa, tudo para ajudar a criar um clima mais envolvente. Também há quem critique a americanização do herói, mas no caso ela é utilizada de maneira adequada para que o público se identificasse mais facilmente. O porte e os gestos de Hércules lembram muito ao Superman e como todo ídolo popular ele tem uma legião de fãs e sua imagem estampa desde copos de plásticos até sandálias.
No filme as situações que brincam com o consumismo do povão causam boas risadas, mas todos sabem que o intuito dos filmes infantis da Disney é lucrar não só nas salas de cinema, mas também nos supermercados e shoppings através de bugigangas e produtos alimentícios que bombam na época do lançamento, mas que continuam no mercado sem prazo determinado, ainda que em menores quantidades e opções restritas. Estas referências ao consumismo têm a maior parte exibidas como ilustração da canção “Zero a Herói”, um clipe frenético e delicioso que mostra a mudança repentina na vida daquele rapaz que era considerado um zero à esquerda. Nesta sequência, rapidamente são mostrados também cinco dos doze famosos trabalhos de Hércules, além de outros tantos elementos visuais de identificação imediata, aliás, uma marca forte durante todo o longa e que chega até mesmo aos diálogos que são carregados de sarcasmo e crítica. Boa parte do humor fica a cargo do vilão que acabou tendo seu perfil modificado devido ao seu dublador original. Ameaçador e nada agradável, assim era descrito o personagem que acabou se tornando carismático com a dose de humor que o ator James Woods injetou quando participou de uma pré-seleção para escolha de vozes. Imediatamente as falas de Hades foram reescritas e a galeria de personagens inesquecíveis Disney ganhou mais um belo integrante que, diga-se de passagem, tornou-se mais interessante que o próprio mocinho da fita. Se o elenco que dubla a versão americana consegue mudar o perfil das criações de acordo com suas vozes, lembrando que os intérpretes são escolhidos anos antes do lançamento (no caso a produção começou em 1994 para ser lançada três anos depois), não é de se espantar que Danny DeVito é o homem por trás da criação de Phil, que seria uma alusão a um personagem do filme Rocky – Um Lutador. Já o destaque feminino da trama é a junção de diversas características de atrizes reconhecidas pela beleza e o resultado é que não se via uma mulher tão sedutora em versão animada desde Jessica Rabbit de Uma Cilada Para Roger Rabbit. Também vale destacar a atenção dada aos seres símbolos da cultura grega como o Centauro, os poderosos Titãs e as Gréias ou Parcas, as três feiticeiras que podem ver o futuro, além do capricho na construção do limbo, cenário onde vivem as almas que não evoluíram. Diante da perfeição dos traços das produções computadorizadas de hoje em dia (algumas nem tanto), os personagens aqui podem parecer estranhos, muito angulares, mas o estilo marcou, ficou único e a idéia era realmente parecer caricato. O tempo passa, mas Hércules continua com fôlego para conquistar novas gerações. Pode ser exagerado, inventado, pouco crível, não importa. O lance é perceber a ousadia de um estúdio tradicional em entregar ao público um trabalho que impacta pelo seu visual e agilidade, mas que no fundo traz a boa e velha lição de moral: não deixe que os outros lhe imponham condições para viver. Seja você mesmo, busque seus sonhos e tome suas próprias decisões.
Animação - 92 min - 1997 

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Um comentário:

  1. Um dos raros desenhos que não assisti dessa época.

    Não sei o motivo, porém, ele não me atraiu até hoje.

    Quem sabe nas férias me empolgue para conferir a obra.

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