Nota 8 Jovem aprende na marra a lidar com o peso de responsabilidades e seus erros do passado
Quem nunca imaginou quando era criança crescer rapidamente para poder fazer tudo o que quisesse sem ter que dar satisfações para os outros? Tal fantasia era um tema recorrente nas produções infanto-juvenis da década de 1980 e são essas memórias que provavelmente inspiraram o diretor Gary Winick a realizar De Repente 30, uma deliciosa comédia contemporânea à sua época (lembrando que é um lançamento de 2004), mas com um ar irresistivelmente nostálgico. O roteiro, escrito por Cathy Yuspa, Josh Goldsmith e Niels Mueller, gira em torno de uma pré-adolescente não muito popular no colégio que em um piscar de olhos se transforma em uma linda e bem-sucedida mulher. No dia do seu aniversário, com a ajuda de um pouco de um certo pó mágico, Jenna Rink (Jennifer Garner) pula da noite para o dia dos 13 para os 30 anos de idade e se transforma em uma mulher do jeito que sempre sonhou. Linda e com um cotidiano profissional agitado tanto quanto seu privado, a vida desta jovem editora de uma popular revista feminina poderia ser a melhor possível, mas aos poucos ela se desanima e cai na real de que nem tudo são flores quando se é adulto.
Jenna mora sozinha, é muito namoradeira e interesseira, se afastou da família há anos e descobre que perdeu a amizade de Matt Flamhalf (Mark Ruffalo), seu melhor amigo nos tempos da escola. O pior é que ela não se lembra de nada que tenha feito para chegar ao que ela é hoje, uma pessoa ambiciosa, egoísta e sem escrúpulos. A mágica que fez com que ela pulasse importantes partes da sua vida a impediu de vivenciar momentos que seriam cruciais para determinar seu caráter e personalidade futuros, mas o destino vai dar uma mãozinha para que ela tenha uma chance para consertar tudo que fez de mal em seu passado desconhecido. Com esse enredo fantasioso e irresistível aos nostálgicos, o longa investe no saudosismo para fisgar o público, com destaque para a trilha sonora que traz hits do passado perfeitamente inseridos no cotidiano da protagonista que agora trintona caça o que puder de memórias na esperança de reencontrar a adolescente doce que era antes de se deixar levar por más influências. Na obsessão em fazer parte do descolado grupo da patricinha Lucy Wyman (Judy Greer), nos tempos da escola, já se encontra boa parte das raízes de seus problemas.
A mocinha recebe uma injeção de ânimo quando consegue reencontrar Flamhalf e está disposta a reverter seus erros e compreender melhor sua situação no presente para voltar a ser a mesma Jenna de dezessete anos atrás. O rapaz, um tanto mais tímido e centrado, vivencia a nostalgia a seu modo, sem rompantes de felicidade exagerada. Fica no ar que sua paixão não correspondida por Jenna lhe causou problemas para engrenar relacionamentos amorosos, tanto que está de casamento marcado com outra, mas não demonstra a mínima animação. Sem nem precisar assistir dois minutos de filme já sabemos como tudo isso irá acabar, mas a graça não está em saber como tudo termina, mas sim em conhecer os fatos que se desenrolam antes do final feliz. Obviamente, o enredo traz uma explicação inverossímil para o amadurecimento precoce de Jenna, mas o foco está justamente na tentativa de aflorar a garota que vive dentro do corpo de uma adulta. Assim, tornam-se muito divertidas, por exemplo, as cenas em que a moça troca confidências com menininhas ou quando foge do assédio de seu namorado fogoso, mas é certo que a narrativa deve fisgar o espectador por seu viés romântico.
Pontuado por lembranças do passado aqui e acolá para quem é interessado ou viveu intensamente a década oitentista, o filme tem a quantidade certa de naftalina para agradar aos mais vividos e um frescor de novidade para as novas gerações. Winick era um especialista em comandar produções do tipo água com açúcar, como Cartas Para Julieta, seu derradeiro trabalho, e aqui não fez diferente e misturou com equilíbrio romance e humor para atingir plateias de diferentes faixas etárias. Seus objetivos, porém, não foram alcançados com sucesso, ao menos não de imediato. Não foi um estouro nas bilheterias e Garner não conseguiu o status de uma estrela de Hollywood daquelas que enchem os cofres dos estúdios com comédias românticas, como outrora faziam Julia Roberts e Meg Ryan. Chegamos a ter a impressão de que o projeto realmente era todo dedicado a ascensão da então jovem intérprete, mas ainda assim não haveria mesmo condições dela expor todo o seu talento. O enredo limita seu personagem a situações forçadas, como uma paquera a um pré-adolescente em uma lanchonete, e alguns poucos momentos mais inspirados, como quando demonstra todo seu entusiasmo na criação de um novo projeto de trabalho.
Apesar de não ter sido sucesso nos cinemas, De Repente 30 cativou o público com o passar dos anos e hoje é um campeão de reprises na TV. O motivo de tanta popularidade se deve a história leve e divertida que está em conexão com elementos do mundo atual (quer dizer, hoje já nem tão atual assim) e que ao mesmo tempo traz curiosidades do passado para novas gerações. Dificilmente alguém não ficará com vontade de ouvir as canções de Michael Jackson ou Madonna, por exemplo, que são destacados em dois momentos icônicos da produção. Ao final ficamos com a sensação de que os anseios e sonhos da juventude de antigamente permanecem os mesmos dos jovens do século 21, não importa o quanto o tempo passe. Qual criança ou adolescente ainda hoje não faz planos para um futuro brilhante e cheio de conquistas? Só é uma pena que não é só a ação do relógio que determina o amadurecimento dos jovens, mas os próprios procuram antecipar as coisas e muitas vezes seguindo caminhos errados. No filme há um pó mágico que conserta tudo, mas na vida real infelizmente não.
Comédia romântica - 97 min - 2004
Leia também a crítica de:
Comédia boba e ingênua. Jennifer Garner é muito ruim.
ResponderExcluirhttp://cinelupinha.blogspot.com/
Adoro esse filme 🥰
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