terça-feira, 30 de agosto de 2016

A INVENÇÃO DE HUGO CABRET

NOTA 9,0

Martin Scorsese mergulha fundo
na fantasia para homenagear os
primórdios do cinema ao mesmo
tempo em que experimenta inovações
No início de 1896 um curto filme intitulado A Chegada do Trem na Estação impactou quem o viu. Em Paris, os irmãos Auguste e Louis Lumière, considerados por boa parte dos historiadores como os criadores da arte cinematográfica, filmaram o veículo do título em perspectiva lateral e isso causou na platéia a impressão de que os vagões estavam realmente seguindo em direção a ela e invadiria a aconchegante sala escura a qualquer momento. O resultado é que os desavisados espectadores ficaram em pânico e uma grande confusão começou. Mais de um século se passou e hoje o público deseja realmente assistir a um filme no qual possa ter a sensação de que o imaginário invadiu a realidade, mas para tanto não basta apenas a imaginação. Agora os efeitos 3D tratam de aproximar ao máximo os espectadores dos elementos cinematográficos, o que em alguns casos pode empobrecer a experiência de ir ao cinema ou até mesmo ver um filme em casa. Todavia, o mercado atual pede tecnologia para gerar lucros e até um dos mais renomados cineastas de vanguarda ainda em atividade aderiu ao sistema. A Invenção de Hugo Cabret marca a estreia de Martin Scorsese no gênero fantasia e também no mundo das inovações. Acostumado há anos a trabalhar com temas fortes, realistas e principalmente o mundo dos gângsteres, Scorsese aceitou realizar este trabalho para agradar a esposa e a filha de 12 anos que lhe apresentou o livro homônimo de Brian Selznick. Já idoso, mas ainda com muito pique e criatividade, o cineasta não fez simplesmente um filme para entreter crianças, muito pelo contrário. Além de a história ser palatável para adultos, Scorsese fez uma bela homenagem à própria sétima arte e a si mesmo de certa forma, pois se o cinema é a arte que transforma sonhos em realidade, faltava em seu currículo um trabalho literalmente fantasioso para dar o último atestado de que ele sem dúvida é um dos maiores e melhores cineastas de todos os tempos. Indicado a onze categorias do Oscar 2012, o longa venceu em cinco merecidas categorias técnicas, mas a Academia de Cinema ficou devendo a estatueta para o diretor, talvez porque ele já tenha uma em sua casa por Os Infiltrados. Na comparação entre as duas produções digamos que o premiaram na época errada acreditando que em 2007 seria a última chance de corrigir injustiças com este profissional que ajudou a escrever a História do cinema e até do próprio Oscar com clássicos como Táxi Driver e Touro Indomável. Pesou também a concorrência com o francês O Artista que coincidentemente também fala dos primórdios da atividade cinematográfica, mas Scorsese vai além em sua empreitada e realizou praticamente uma declaração de amor ao cinema como forma de enriquecimento cultural e emocional.

domingo, 28 de agosto de 2016

SIMPLESMENTE IRRESISTÍVEL

Nota 0,5 Romance afunda pelo excesso de açúcar e exageros e não envolve em momento algum

O cinema não tem o poder de transmitir cheiros e tampouco sabores, mas o mundo das cozinhas é uma grande fonte de inspiração, principalmente para histórias românticas. O problema é que alguma delas levam a sério a alcunha de água-com-açúcar e exageram na sacarose como é o caso do esquecido (e com razão) Simplesmente Irresistível, inadvertidamente comparado por alguns com o famoso, premiado e infinitamente superior romance mexicano Como Água Para Chocolate. Este filme na verdade é talhado para agradar adolescentes na idade de acreditar em paixão à primeira vista e usado como veículo para alavancar a carreira de Sarah Michelle Gellar na época em alta com o sucesso do seriado de TV “Buffy – A Caça Vampiros” e dos filmes Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado e Segundas Intenções, este que parecia ser um divisor de águas em sua carreira. Tentaram fazer a atriz se tornar uma nova queridinha da América da noite para o dia, mas na verdade sua trajetória prova que lhe faltou orientação para seguir em frente e certamente o açucarado romance em questão ajudou e muito a degringolar as coisas. Gellar interpreta Amanda Shelton, uma jovem que herdou um pequeno restaurante da mãe, mas não o seu talento para a culinária. Ela tentou pôr a mão na massa literalmente, mas a clientela pouco a pouco foi sumindo e assim ela teria que encerrar as atividades, mas de repente ganha uma ajuda vinda dos céus e estranhamente manifestada na forma de um caranguejo mágico que consegue em uma feira. No mesmo instante ela conhece Tom Barlett (Sean Patrick Flanery), um jovem produtor de eventos que está prestes a inaugurar um restaurante para o empresário Jonathan Bendel (Dylan Baker), este que quer assegurar que seu empreendimento tenha pelo menos uma cotação de quatro estrelas pelos críticos gastronômicos. O tal crustáceo já começa a mexer seus dedinhos, ou melhor, suas patinhas, e faz com que surja uma atração instantânea entre os dois, mas reserva outras surpresas para Amanda.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

DEIXE-ME ENTRAR

NOTA 8,0

Refilmagem de inesperado
sucesso sueco literalmente
copia o original e traz uma
nova visão sobre os vampiros
O cinema produzido fora do circuito hollywoodiano cada vez mais vem ganhando projeção e admiração não só da crítica especializada, mas também do público. Porém, basta fazer sucesso que logo os produtores ianques se entusiasmam e correm atrás dos responsáveis para comprar os direitos de refilmagens. Isso acontece há anos, mas essa onda tem se intensificado devido a escassez de ideias que o cinema americano frequentemente enfrenta. Um dos trabalhos do tipo que gerou certo burburinho foi o suspense Deixe-me Entrar, produção que foi lançada com a propaganda extra de ser baseada no longa sueco Deixa Ela Entrar, um sucesso inesperado que foi exibido em diversos festivais de filmes de terror e independentes e chamou a atenção dos americanos. Produção de horror fazendo um paralelo com a chegada da adolescência, o longa de Tomas Alfredson reúne uma série de virtudes, ainda mais se considerando o gênero ao qual pertence. Roteiro inteligente, boas atuações, efeitos especiais usados com parcimônia e uma fotografia invejável são alguns dos elogios que cabem à fita. Como em Hollywood hoje em dia pouco se cria e muito se copia, não demorou muito e o texto já estava nas mãos do diretor Matt Reeves para ganhar uma refilmagem. Diretor do inesperado sucesso Cloverfield - Monstro, o cineasta foi escolhido justamente por saber como aguçar a curiosidade dos espectadores. Somado a isso o entusiasmo pela boa aceitação da obra original e a atração que vampiros sempre exerceram em um público cativo, o projeto já nascia com tudo para dar certo e até serviu para mostrar uma nova forma de enxergar tais criaturas, não tão sanguinolentas e perversas como nos filmes de terror e longe da aura romântica que ganharam em Crepúsculo. A trama gira em torno de Owen (Kodi Smit-McPhee), um garoto solitário que vive com a mãe após a separação dos pais. Frequentemente ele é provocado e humilhado pelos valentões da escola e nutre dentro de si um desejo de vingança que extravasa as escondidas e para si mesmo. Certa noite ele conhece sua vizinha Abby (Chloe Moretz), uma garota que aparenta ter a mesma idade que ele, vive nas sombras e é tão quieta e sozinha quanto Owen, o que gera uma identificação imediata entre eles. Logo os dois estão trocando confidências e debatendo sobre a solidão ou a sensação de se sentir diferente dos outros, porém, o garoto nem desconfia que a jovem guarda segredos muito peculiares: ela é muito mais velha que sua aparência indica e precisa se alimentar de sangue. Para consegui-lo, seu acompanhante (Richard Jenkins) realiza assassinatos na calada da noite com o intuito de retirar o sangue das vítimas e levá-lo para Abby que se esforça ao máximo para não deixar que seus instintos a dominem forçando-a a matar para sobreviver, mas certamente uma hora será impossível conter seu instinto de violência. Ambos tentando se esconder daqueles que podem lhes fazer algum mal, não é de se estranhar que a noite para eles é uma benção e o momento que se sentem mais a vontade.

sábado, 20 de agosto de 2016

VENOM (2005)

Nota 3,0 Mais um serial killer indestrutível e repetitivo tenta inaugurar franquia de terror

Entre os anos de 1970 e 1980 ao menos três filmes de terror fizeram estrondoso sucesso apoiando-se nas enigmáticas e arrepiantes figuras de seus protagonistas psicóticos. Michael Myers, Jason Voorhees e Freddy Krueger, respectivamente de Halloween, Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo, acabaram entrando com tudo na cultura pop de todo o mundo, mas suas continuações repetitivas e com declínio em termos de qualidade, além das centenas de produções genéricas que pegaram carona na moda dos slashers, acabaram esgotando a fórmula. Nas décadas seguintes muitos tentaram lançar um novo serial killer que fizesse tanto sucesso quanto seus antecessores, mas apenas o assassino da série Pânico teve êxito, ainda que não tenha escapado da derrocada também pela falta de originalidade de seus capítulos seguintes. Entre as várias tentativas de uma nova franquia de terror, muitos títulos caíram imediatamente no esquecimento como é o caso de Venom. Não! Um dos inimigos do Homem-Aranha não ganhou seu filme-solo, esta é apenas uma infeliz coincidência. A história é o basicão de sempre. Um grupo de adolescentes que temos vontade de trucidar com nossas próprias mãos, tamanha a empatia que se estabelece, passa a ser perseguido por um assassino implacável. Ele é Ray Sawyer (Rick Cramer), caminhoneiro que se envolve em um acidente fatal com a Sra. Emmie (Deborah Duke), mulher misteriosa conhecida por lidar com rituais de vodu. No momento da tragédia ela trazia uma maleta que guardava serpentes com dons sobrenaturais que caem em um pântano junto com o corpo do rapaz que é picado por elas e imediatamente volta à vida, porém, com uma força descomunal e parecendo imune a qualquer tipo de ameaça. Ray agora carrega a maldade de dezenas de pessoas exorcizadas em rituais de magia negra e como uma máquina de matar não pensará duas vezes quando alguém cruzar seu caminho.

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A HORA DO ESPANTO (2011)

NOTA 7,0

Refilmagem procura manter
o clima obscuro e o tom de
humor da obra original, mas
efeitos especiais prejudicam
Em uma época em que o produto filme é tratado praticamente como um lixo até mesmo por aqueles que se dizem cinéfilos de carteirinha ou pode ser comparado a uma refeição de restaurante fast food que tem tempo cronometrado de validade e, diga-se passagem, uma vida útil bem curta, recorrer aos remakes infelizmente parece ser a única maneira de fazer com que as novas gerações conheçam produções de sucesso do passado. Os produtores de cinema, até pela falta de bons roteiros no mercado, acabam recorrendo ao túnel do tempo em busca de enredos que marcaram época acreditando que com um título famoso em mãos o sucesso é garantido, mas é certo que nas comparações entre o original e a refilmagem o precursor geralmente sai ganhando e a nova versão passa a ser alvo de críticas negativas afinal o primeiro é novidade, o que vem depois é mais do mesmo. O público provavelmente já devia estar cansado de decepções com remakes e por isso não deu muita bola para a segunda versão de A Hora do Espanto, clássico de terror dos anos 80 que conseguiu se destacar em meio a tantas produções sanguinolentas da época justamente por causar impacto nas plateias muito mais por sugestionar o medo do que o escancarando por completo. Nem mesmo a publicidade que a refilmagem chegaria aos cinemas em versão 3D fez o público se entusiasmar a sair de casa, tanto que no Brasil o longa teve uma passagem relâmpago e vergonhosa pelas salas de exibição e nem mesmo em solo americano fez barulho. Será que as pessoas já estavam calejadas de remakes duvidosos ou felizmente perceberam que os efeitos tridimensionais é apenas uma trucagem dos estúdios para roubar alguns trocados a mais de seus bolsos? Bem, realmente os efeitos em três dimensões neste caso são péssimos e nas versões comuns acabam estragando sequências inteiras pelo toque de artificialidade que conferem a elas. Por outro lado, é uma pena que alguns até hoje não tenham visto a recriação de Craig Gillespie, cineasta que despontou com a comédia dramática A Garota Ideal. Sua versão para este marco do terror não é tão boa quanto a original, mas passa longe de ser uma decepção total simplesmente porque ele tinha consciência de que este trabalho não poderia almejar ser mais do que o original foi: um delicioso “terrir”. Assim o diretor combinou diversão e tensão em doses generosas, uma mistura que parece que o cinema de horror descartou hoje em dia, mas precisou abrir mão do teor sexual que continha no primeiro filme afinal foi uma das empresas do grupo Disney que financiou o projeto. Todavia, ainda assim a obra não é açucarada, pelo contrário, conta com um delicioso clima sedutor sem precisar exibir nudez ou cenas constrangedoras. Além disso o tom de suspense foi mantido graças ao empenho da equipe cenográfica e de fotografia que capricharam para manter uma aura de mistério a cada novo take.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

LIÇÃO DE AMOR

NOTA 5,5

Comédia romântica italiana tenta
se aproximar ao estilo de Hollywood,
mas peca ao rechear a trama com
personagens e situações em excesso
Na Itália não se faz apenas dramas de época ou comédias escrachadas sobre relações familiares. Comédias românticas contemporâneas também têm espaço e isso é provado pela simpática produção Lição de Amor. Ela não é revolucionária e não apresenta novidade alguma que já não tenha sido visto e revisto em similares feitos em Hollywood, mas para os padrões de cinema italiano que estamos acostumados ela acaba se tornando um produto diferenciado, para o bem ou para o mal. É claro que chega a ser um crime querer fazer comparações entre este pequeno enlatado e obras primas de cineastas renomados como Frederico Fellini e Lucino Visconti ou até mesmo do contemporâneo Nanni Moretti, não há possibilidade alguma de identificar possíveis inspirações no trabalho dos mestres, mas é preciso constatar que para esta indústria de entretenimento funcionar é preciso ter algumas engrenagens defeituosas. Só assim para entrar dinheiro que possivelmente irá financiar projetos mais criativos e de melhor conteúdo. A situação é parecida com a que o cinema brasileiro vive. A sétima arte em solo italiano também está ensaiando uma fusão com o estilo televisivo e para cada trabalho relevante, mesmo que de pouca projeção popular, devem surgir mais uns oito ou dez descartáveis, porém, lucrativos, para pagar a conta dos “excessos”. Baseado no livro “Scusa ma ti Chiamo Amore” (ago como “desculpa se te chamo de amor” – também título original do filme) escrito por Federico Moccia, grande sucesso entre as adolescentes de lá, a obra aborda um romance vivido por um homem maduro e uma colegial. Falando assim parece que é a história de um aproveitador e uma menina inocente, mas não é nada disso e a diferença de idade entre eles é de 20 anos, o bastante para a relação ser contestada por sociedades conservadoras e muitas vezes hipócritas. Nikki Cavalli (Michela Quattrociocche) é uma alegre jovem de 17 anos que divide seu tempo entre os estudos e os momentos de diversão com os amigos. Já Alessandro Belli (Raoul Bova), ou simplesmente Alex, é um publicitário de sucesso que adora levar uma vida organizada e sem solavancos. Eis que ironicamente o destino lhe prepara duas surpresas. Abandonado pela namorada Elena (Veronica Logan), a mulher que julgava ser sua alma gêmea, o rapaz entra em uma profunda crise pessoal e sua vida social se restringe aos convites dos seus velhos amigos que tentam tirá-lo da fossa.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

OLDBOY (2003)

NOTA 9,0

Mescla de drama e suspense
é imprevisível, cheio de
reviravoltas e desperta as
mais variadas sensações
É curioso como uma pequena indicação no pôster ou na capa do DVD de que um filme concorreu ou ganhou algum prêmio consiga fascinar tanto o público. Se o Oscar ou o Globo de Ouro para alguns é sinônimo de qualidade, para um nicho apenas aparentemente pequeno outras premiações têm importância bem superior, como é o caso do Festival de Cannes, badalação que tratou de fomentar a fama de Oldboy, misto de drama, ação e suspense oriundo da Coréia do Sul cuja temática e estética estão longe da delicadeza das tradicionais obras locais ou da suntuosidade de seus longas de artes marciais e épicos. Quem encara produções do tipo apenas na lábia de que podem ser considerados intelectuais ou chiques por tal atitude certamente levam um soco no estômago duas vezes mais dolorido que aqueles que já estão acostumados e apreciam um cinema mais visceral. E o que deve ter de gente que se arrependeu amargamente de viver esta experiência proposta pelo cineasta Chanwook Park deve surpreender, mas não tanto quanto o espanto de ver o número de críticas positivas à produção. Goste ou não, é certo que esta obra não deixa de mexer com o emocional de ninguém. Pode arrancar elogios ou xingamentos inflamados, mas ninguém fica passivo à perturbadora e bizarra história de Dae-su Oh (Min-sik Choi), rapaz que é detido brevemente pela polícia após uma bebedeira, foi solto, mas foi novamente retido, porém, não sabe por quem. O fato é que ele acorda em uma espécie de quarto de hotel onde permaneceu enclausurado durante quinze anos. Nesse tempo ocioso ele só consegue pensar em descobrir quem fez aquilo, mas aparentemente existem diversas possibilidades para responder tal dúvida. Entre sessões de hipnose através de um gás que o faz dormir, treinos de boxe com a parede e a escrita de um diário pessoal, este homem vive alimentando o desejo de vingança a qualquer preço. O único contato seu com o mundo exterior é através das informações que consegue através da televisão e assim fica sabendo que sua esposa foi assassinada e que ele é o principal suspeito do crime. Quando libertado, mesmo com a memória comprometida, Dae-su imediatamente quer começar a desvendar o que aconteceu e aos poucos passa a encontrar pessoas que podem ajudá-lo nessa missão, mas nada que o faça esquecer da vingança.

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

O HOMEM DAS ESTRELAS

NOTA 9,0

Protagonista é o retrato do povo
humilde da Sicília após a Segunda
Guerra e faz uso da magia do cinema
para sobreviver em tempos de incertezas
Giuseppe Tornatore é um diretor italiano que gosta de exaltar sua terra natal em sua filmografia, porém, não deixou se inebriar totalmente pelo tom da regionalidade e se envolveu em projetos com temas universais e sempre que pode demonstra seu amor pelo cinema de forma implícita ou escancaradamente explícita. O resultado é que seu nome atravessou fronteiras e é famoso no mundo todo, apesar de uma filmografia irregular com altos e baixos, mas tudo leva a crer que daqui alguns anos qualquer trabalho seu será tratado como uma verdadeira preciosidade. Amantes da sétima arte já topam pagar qualquer pequena fortuna para ter em sua coleção algumas de suas obras e curiosamente boa parte delas permanecem inéditas em DVD, como por exemplo O Homem das Estrelas, um filme de muito requinte e bom gosto vencedor do Grande Prêmio Especial do Júri do Festival de Veneza, uma honra que o torna marcante, mas inexplicavelmente esquecido por grande parte do público. Assim como em seu grande sucesso Cinema Paradiso, Tornatore investe mais uma vez em uma homenagem ao mundo cinematográfico através do personagem Joe Morelli (Sergio Castellito), um homem solitário que no início da década de 1950 chega a uma cidadezinha no interior da Sicilia no período pós-guerra e anuncia que procura novos rostos para trabalharem em filmes. Ele arma uma barraca na praça central e oferece a uma quantia modesta testes com candidatos a futuros astros da telona. Na realidade tudo não passa de uma mentira que ele transforma em seu ganha pão sem se preocupar se quem vai procurá-lo é um milionário exibicionista ou um humilde que busca uma chance de crescer na vida. A cada nova pessoa que o procura, muito mais que revelar talentos, o rapaz encontra instigantes histórias pessoais, porém, ele não se envolve com elas e vê o seu trabalho com frieza e apenas pensando nos resultados financeiros. Tudo muda quando aparece em sua vida Beata (Tiziana Lodato), uma moça que também está sozinha no mundo e acaba se afeiçoando àquele homem. Não demora muito e o amor entre os dois floresce. Pena que as alegrias duram pouco, pois o casal irá pagar um preço caro pelo passado de erros de Morelli.

sábado, 13 de agosto de 2016

MARÉ DE SANGUE

Nota 1,0 Com início ruim, longa naufraga e nem as cenas violências e de gore o fazem reagir

Um material publicitário bem feito pode ser a salvação para um filme de baixo orçamento ressaltando suas qualidades implícitas ou ser a desgraça do espectador que acaba comprando gato por lebre. Nesta segunda opção se encaixa Maré de Sangue que só pelo fato de não ter passado nos cinemas e ser do gênero de terror já gera desconfianças de que bomba vem por aí. Dito e feito. O que parecia ser um filme épico sobre piratas sanguinários ou uma história de fantasmas passada em alto-mar no fim se resume a uma fraca trama envolvendo assassinos masoquistas e jovens cujo comportamento depravado e irritante nos faz torcer por suas mortes o mais breve possível. A história gira em torno de um grupo de amigos que buscam sarna para se coçar indo pescar no meio do nada e curtir um fim de semana no barco do playboyzinho Trailor (Jason Mewes). A trupe só quer saber de festa, bebidas e sacanagem e se empolga ainda mais quando a pescaria começa a render literalmente peixões, mas nem desconfiam que o misterioso capitão Belvin Lee Smith (Richard Riehle) está oferecendo a eles um tipo de isca muito especial, mais cara e eficiente que as comuns: carne humana. Não demora muito para a embarcação apresentar problemas e deixar os jovens à deriva, mas logo um outro barco surge e seus tripulantes oferecem ajuda quando na verdade estão pescando facilmente suas novas vítimas. Smith faz parte deste bando que sequestra, estupra e mutila em alto-mar, mas dificilmente algum espectador estará disposto a torcer para que alguém sobreviva ao massacre. Escrito e dirigido por Matt L. Lockhart, a produção começa com sinais de que do início ao fim a grande diversão será contar os seus erros, a começar pela ridícula abertura que já entrega o ouro mostrando uma garota sendo caçada por um dos bandidos, cena sem um pingo de tensão, mas risos garantidos com a atuação forçada da moça.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

ANNABELLE

NOTA 6,0

Embora com furos, clichês e atuações
robóticas, longa ganha pontos por
reverenciar o clássico O Bebê de Rosemary
e usar a boneca do mal eficientemente 
Pode parecer loucura, mas não é de se estranhar caso encontre alguém que tenha fobia de bonecas aparentemente inocentes. Hollywood tem certo fetiche por transformar brinquedos em vilões, ironicamente um prazer que teve seu auge e também seu declínio nas mãos do maquiavélico Chuck de Brinquedo Assassino. Depois dele, qualquer produção semelhante automaticamente era rotulada como trash, até que surgiu Annabelle, cuja primeira aparição ao grande público se deu no bem-sucedido Invocação do Mal, do diretor James Wan. Depois de abastecer sua conta bancária e valorizar seu nome com Jogos Mortais, o cineasta passou a investir pesado no campo sobrenatural, mas desta vez por conta da agenda superlotada decidiu assinar a fita apenas como produtor passando a batuta da direção para um de seus pupilos. John R. Leonetti já era seu habitué colaborador quanto a fotografia de suas obras e como diretor já havia feito Mortal Kombat – A Aniquilação e Efeito Borboleta 2, ou seja, seu histórico é bastante suspeito. A história da boneca amaldiçoada não agrega muito ao seu currículo, mas demonstra um pouco mais de consciência cinematográfica, certamente uma conquista que deve a convivência com Wan. A trama tem como protagonistas um jovem casal que está cheio de expectativas com a chegada da primeira filha. Próximo ao fim da gravidez, John (Ward Horton) presenteia sua esposa Mia (Annabelle Wallis) com uma rara boneca para sua coleção e que obviamente virará adorno no quarto criança. Certa noite a casa deles é invadida por um atormentado e agressivo homem membro de uma seita satânica e a esposa do maluco no meio da confusão acaba se suicidando no quarto do bebê e seu corpo é encontrado abraçado junto a tal boneca. Após a tragédia e mais alguns estranhos episódios, como o fogão que provoca um incêndio como se fosse por vontade própria, o casal decide mudar para um apartamento, mas levam a tiracolo o brinquedo e voltam a colocá-lo em posição de destaque no quarto da filha agora já nascida. Obviamente, eles não terão paz na nova moradia, principalmente Mia que passa a maior parte do tempo em casa e assombrada pelas manjadas luzes que piscam em momentos inoportunos, vultos nas escadarias, crianças que fazem desenhos bizarros, visões a qualquer hora do dia e objetos funcionando como se tivessem vida própria, como uma máquina de costura com som atordoante.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

INCENDIÁRIO

NOTA 7,0

Michelle Williams praticamente
carrega nas costas drama cuja
premissa soa estranha, mas que de
fato incendeia nossos pensamentos
Existem filmes que se iniciam de forma desinteressante e pouco cativante. Muitos espectadores têm o hábito de assistir alguns poucos minutos de uma produção e se não gostam da introdução não seguem adiante. O estilo de filmagem, o roteiro, o visual, as interpretações e a temática são alguns dos entraves que podem surgir na comunicação entre o filme e o público, mas algumas obras, ou talvez a maioria, que começam mal podem surpreender com o desenvolvimento da narrativa. Esse é o caso de Incendiário, um produto cujo título e premissa não soam como muito interessantes. Uma jovem mãe (Michelle Williams), cujo nome não é revelado, aparentemente vive feliz ao lado do marido, o policial Lenny (Nicholas Gleaves), e do filho (Sidney Johnston), também sem nome mencionado, porém, ela sente falta de amor no relacionamento com seu parceiro. Praticamente vivendo como amigos, o que indica que talvez a união entre eles foi forçada devido a uma gravidez inesperada, a mulher se sente instigada a conhecer um homem que avista pela janela entrando no prédio a frente do seu acompanhado de uma garota. Ele é Jasper Black (Ewan McGregor), um jornalista que gosta da fama de conquistador que tem. Propositalmente, certa noite a jovem vai até um bar em que o rapaz está e ele, obviamente, vê a chance de mais um nome figurar em sua lista de amores rápidos. Eles começam a ter encontros cada vez mais tórridos até que um dia são surpreendidos ao verem na TV ao vivo a explosão de um estádio esportivo enquanto mantinham relações. Era um ataque terrorista que vitimou o marido e o filho da adúltera que tinham ido assistir a um jogo de futebol por insistência dela. A partir de então ela está fadada a carregar, além da dor, a culpa de perder sua família por causa de uma atitude extremamente questionável sua.  

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

UMA BABÁ QUASE PERFEITA

NOTA 9,0

Robin Williams rouba a
cena se disfarçando de uma
simpática senhora em
comédia que marcou época
Existem filmes que foram concebidos para serem automaticamente clássicos para entreter toda a família e marcarem época. Alguns não marcam apenas por causa de uma história bem contada que agrada crianças e adultos, mas os personagens bem construídos e críveis também extrapolam os limites da tela e invadem a mente dos espectadores. Quando a criação é alegórica, ou seja, não aparece de cara limpa e precisa de figurinos e maquiagens especiais para ganhar vida, o sucesso é ainda maior. Na década de 1990 tivemos muitos personagens marcantes no cinema como o Batman, o Máskara e os membros da família Addams, mas uma simpática senhora idosa se transformou no sonho que muitas famílias desejavam ter em suas casas. Prendada, organizada, ótima para lidar na cozinha e defensora das boas maneiras, a senhora Euphegenia Doubtfire, uma babá muito experiente, poderia fazer a alegria de muitos pais, mas tirar o sossego de seus filhos exigindo horários fixos de estudo, para ver TV e ir para a cama dormir. Para compensar a rotina rígida, ela também sabia recompensar os pequenos com alguns momentos de lazer inusitados como passeios de bicicletas e jogos de futebol. Enfim, uma profissional exemplar e que sabe conquistar a todos com sua simpatia e bom humor. Seu único problema é que ela não é mulher e sim um homem travestido. O responsável por esta criação tão verossímil e longe de ser caricatural é Robin Williams vivendo um dos papéis mais significativos de sua carreira. Embora sua veia cômica já tivesse sido testada e aprovada em vários outros trabalhos, foi com Uma Babá Quase Perfeita que o ator virou ídolo do público infantil. A sintonia com essa platéia se deve muito também a experiência do diretor Chris Columbus, um especialista em obras açucaradas e com apelo familiar como os dois primeiros títulos da série Esqueceram de Mim, e que aqui se baseou no livro infantil britânico "Alias Madame Doubtfire", de Anne Fine, para criar um marco do cinema, embora sempre exista um crítico chato para tachar a obra negativamente e desvalorizá-la sem levar em consideração os objetivos do longa e o seu público-alvo.